Mulheres, há muito trabalho pela frente!

 

Mês da Mulher / Alexandre Magalhães
O fato de haver o Dia das Mulheres já indica que elas ainda não ocupam todo o espaço de direito na sociedade. Que rapidamente todos os dias sejam dia delas e que elas sejam respeitadas como merecem!

As de Atenas…

“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas / Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas / Quando amadas, se perfumam / Se banham com leite, se arrumam

Suas melenas / Quando fustigadas não choram / Se ajoelham, pedem, imploram / Mais duras penas, cadenas / Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas / Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas / Quando eles embarcam, soldados / Elas tecem longos bordados / Mil quarentenas / E quando eles voltam sedentos / Querem arrancar violentos / Carícias plenas, obscenas / Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas / Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas / Quando eles se entopem de vinho / Costumam buscar o carinho de outras falenas / Mas no fim da noite, aos pedaços /

Quase sempre voltam pros braços / De suas pequenas Helenas / Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas / Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas / Elas não têm gosto ou vontade / Nem defeito nem qualidade / Têm medo apenas / Não têm sonhos, só têm presságios / O seu homem, mares, naufrágios / Lindas sirenas morenas / Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas / Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas / As jovens viúvas marcadas / E as gestantes abandonadas / Não fazem cenas / Vestem-se de negro, se encolhem / Se conformam e se recolhem / Às suas novenas serenas / Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas / Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas”.

Esta obra-prima é de autoria do grande cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Hollanda e Augusto Boal, dramaturgo e diretor de teatro dos mais importantes no Brasil.

Apesar da música ser belíssima, claramente mostra as mulheres muito longe do que são (ou deveriam ser) hoje. Quase uma canção irônica, mostrando as mulheres como seres submissas a seus maridos.

As da França…

Simone de Beauvoir, a escritora e pensadora francesa, definiu muito bem o que é ser mulher nos tempos mais recentes: Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”.

A frase é muito atual, pois a definição de mulher, que desde Adão e Eva, até muito recentemente, estava ligada a ter ou não órgãos sexuais femininos, hoje ganha contornos muito maiores. É quase como se ser mulher fosse um estado de espírito, que pode caber em qualquer corpo, com qualquer tipo de órgão sexual.

As do mundo…

Semana passada vi uma matéria no jornal Folha de São Paulo, na qual era relatada uma empresa gigante de obras públicas que tinha só gerentes mulheres, inclusive nas obras, e que elas gerenciavam mais de cem homens.

Os campeonatos femininos de futebol no mundo inteiro são sucesso hoje. Há poucas décadas, isso era impensável, além de as jogadoras sofrerem muito preconceito.

Li recentemente o livro “Tudo é Rio”, da Carla Madeira, uma obra-prima desta escritora, mas há muitas grandes escritoras.
São Paulo já teve duas prefeitas, a Luiza Erundina e a Marta Suplicy, além da presidente Dilma na presidência do Brasil, mas o número de mulheres na política ainda é muito menos do que elas representam na sociedade.

E há muitas outras profissões, que sempre foram masculinas, mas que hoje as mulheres tomam seu espaço na marra.

Mas, ainda há muito preconceito e as mulheres terão de brigar muito para que seus espaços sejam respeitados. Inclusive os físicos. Ainda muitas pessoas costumam comentar, quando uma mulher é estuprada, algo como “alguma coisa ela deve ter feito” ou “também, com essa roupa, ela provocou”. Muito trabalho pela frente, mulheres!

Mulheres em São Paulo e Bom Despacho…

Uma das coisas que eu mais discuto com minha namorada bom-despachense é a maneira de tratar as mulheres nas duas cidades, que, em alguns aspectos, é muito diferente.

Elogiar a beleza de uma mulher é uma coisa muito comum em Bom Despacho. Frases como “você está linda” ou “que linda essa menina” e coisa similares, são muito ouvidas por mim nas ruas da cidade. Já em São Paulo, muitos e muitas já não aceitam o elogio da beleza feminina. Quando você elogia a beleza, muitas mulheres ficam indignadas, pois isso pode indicar que ela não é competente, inteligente, simpática, entre outras muitas opções. Que é apenas linda. E nada mais.

Sempre que minha namorada elogia a beleza feminina em Bom Despacho, e ela faz isso muitas vezes ao dia, comento para que não faça isso em São Paulo, pois pode receber uma resposta agressiva. Ela não acreditava muito em meus argumentos, até o dia que eu estava vendo um noticiário paulistano e um espectador enviou uma mensagem elogiando a beleza das duas apresentadoras. As duas ficaram indignadas, perguntaram se não eram competentes, se o trabalho delas não era bom. Enfim, manifestaram que isso não é mais aceito. Explicaram que a beleza era importante para as mulheres quando elas eram apenas esposas e donas de casa, e que hoje chamar atenção só para a beleza é ignorar que elas são muito mais do que meros objetos sexuais.

Quando comento isso com alguns bom-despachenses, eles riem e dizem “ então, vou chamar de feia”. Respondo: “não, nem linda, nem feia. Trate-a como você trata um amigo ou um profissional, sem elogios sem motivos claros”.

Outra situação similar é o elogio da roupa de outra mulher, coisa que também minha namorada bom-despachense faz muito, mas que em São Paulo já não é tão comum, nem tão bem-visto.

Claro, ainda há muita gente que continua elogiando a beleza ou as roupas de uma mulher em São Paulo, mas a tendência crescente é de esse hábito desaparecer nos próximos anos.

Muitas mulheres em São Paulo já não querem ter filhos, substituindo-os por um animal de estimação, ou planejam no máximo um filho. Em Bom Despacho, não identifico muito claramente este movimento para não filhos, nem de ter um único filho. Parece que ter muitos filhos ainda é a norma. Parece…

Em São Paulo, ter muitos filhos é inviável em uma terra onde grande parte dos cidadãos mora em apartamentos, os quais são minúsculos, além do custo de vida ser muito mais alto do que em Bom Despacho.

E outra diferença marcante para mim é que as mulheres de São Paulo casam-se com muito mais idade do que as mulheres bom-despachenses. Antes de casar, as mulheres de minha terra natal querem focar na carreira, ganhar muito dinheiro e, só depois disso, dar um espaço para suas vidas pessoais.

Claro, tudo que escrevi acima são impressões de um “estrangeiro” vivendo em Bom Despacho, que podem não ser exatamente a realidade.

Deveria ser todos os dias…

O fato de haver o Dia das Mulheres já indica que elas ainda não ocupam todo o espaço de direito na sociedade. Que rapidamente todos os dias sejam dia delas e que elas sejam respeitadas como merecem!

Parabéns, mulheres! Parabéns, minha namorada bom-despachense!  (Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por BD e SP / Imagem ilustrativa).

 

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