Cidades se fazem com mulheres

 

Nos livros de História só homens costumam aparecer nos pedestais dos heróis. Isto, contudo, é mais ficção do que realidade. Na história da humanidade sempre houve mulheres destacadas. Não apenas rainhas e princesas lindas e poderosas, mas estadistas consumadas, guerreiras, professoras, desbravadoras, empresárias, cientistas.

Na história de Bom Despacho não é diferente. Aqui fazendeiras, empresárias, professoras, médicas, donas de casa, atletas, marcaram presença. São nossas heroínas. São muitas. Porque são muitas, não cabem em duas páginas de jornal. Por isto mesmo, citarei apenas algumas. As que não cito são igualmente importantes.

Por intermédio destas mulheres citadas, celebramos todas as mulheres de Bom Despacho no Dia Internacional da Mulher.

Dona Alma era parteira e cuidou do primeiro posto de saúde de Bom Despacho.

Dona Alzirinha foi enfermeira do Dr. Juca, no consultório que ele tinha na Praça da Matriz.

Dra. Ana Flávia é médica, dedicada à medicina de família. Trabalha na UBS Dona Marta. Recentemente ficou famosa no Brasil inteiro por ter feito um vídeo que ensina o que é a dengue, como evitá-la e como tratar-se.

Dona Clarinda foi professora queridíssima, sempre afável, atenciosa, prestativa.

Dona Branca foi professora e advogada. Emprestou seu nome ao bairro Dona Branca.

Dona Ângela, enviuvada, tocou os negócios da família e criou uma família respeitada e reconhecida na cidade e na região.

Dona Dora Khornet (Dora do Bruno) deixou marcas profundas na minha memória de criança. Eu passava pela Avenida Rio Branco e lá estava ela, trabalhando. Ela fazia orçamentos, executava serviços de serralheiro e comandava a oficina. Uma mulher adiante do seu tempo.

Dona Etelvina Jacó foi um exemplo de mãe, de vizinha e de acolhimento. Ela tinha uma ninhada grande de filhos para cuidar. Como se não bastasse, deixava que a molecada toda da rua se reunisse lá para jogar futebol no quintal e fazer fuzarca. Sua comida e suas empadas davam água na boca.

Dra. Geralda Batistuta foi a primeira médica a trabalhar em Bom Despacho. Mas, sua paixão era a pintura, a que se dedicava com gosto.

Irmã Maria veio do Espírito Santo, mas aqui fincou raízes e dedicou sua vida à caridade e à educação. O fruto mais visível do seu trabalho é a Escola Irmã Maria, no São Vicente.

Dona Joesse Queiroz foi professora de História e deu aulas no Ginásio Estadual de Bom Despacho. Infelizmente nos deixou ainda muito nova, mas seu legado de dedicação ao ensino ficou marcado em todos os seus alunos que ainda têm viva a memória do seu trabalho no Ginásio. Entre nós é homenageada emprestando seu nome a um centro de educação infantil.

Leda Hamdan era famosa pela beleza, mas, como atriz, se destacou no mundo cultural de Bom Despacho. Moça ousada, foi uma das primeiras mulheres a pilotar um avião no Brasil.

Dona Liquinha foi uma professora revolucionária. Na sua época, agitava o Ginásio Estadual. Gostava de conversar e onde chegava sua presença não passava despercebida. Apaixonada pelas artes, guiava seus alunos para que enxergassem a beleza nas coisas.

Para mim a Dona Lourdes era a Lourdes do Fico. Mãe exemplar, mas sem a severidade que costumava caracterizar as mães da época. A casa dela tinha a única televisão da rua. Na boca da noite, a meninada se encarapitava nos móveis e nas janelas para ver o chuvisqueiro e ouvir os chiados da televisão. Imagem mesmo, só uns fantasmas bruxuleantes em preto e branco.

Professora Maria Angélica dispensa apresentação. Quem não a conhece em Bom Despacho? Pessoa amabilíssima que sempre com muito carinho e suavidade, ajudou a formar muitas gerações de estudantes de nossa cidade.

Não é por ser minha mãe, mas Dona Maria de Castro é um farol de intenso brilho. Multiplicava seu tempo para cuidar de uma família enorme e ainda achava tempo para trabalhar com as Irmãs da Caridade, visitar os doentes, acolher os desamparados, colaborar com o Asilo São José e levar alento e esperança aos presos.

Maria Helena é empresária de enorme sucesso na indústria calçadista de Bom Despacho. Uma das pioneiras quando o assunto é indústria. Suas fábricas geram milhares de emprego e trazem importante renda para Bom Despacho.

Dona Maria Mesquita é mais conhecida como Maria do Burrutê. Mostrou seu valor, sua coragem e sua disposição quando se enviuvou ainda jovem e, com seus filhos, teve que assumir os negócios da família. Dona Maria é um exemplo de como as mulheres conseguem reunir forças inesperadas e superar todos os obstáculos que a vida lhes impõe.

Dona Maria Nunes Campos foi outra mulher forte que deixou um exemplo para todos nós. Enviuvou-se cedo, mas não esmoreceu. Com a ajuda dos seus filhos ainda muito novos, tocou os negócios atrás do balcão de sua venda e encaminhou os filhos que se tornaram grandes empresários em Bom Despacho.

Minha amiga Marília é uma batalhadora incansável. Empresária do ramo de diversões, raramente tem um dia de descanso na vida. Trabalha nos finais de semana como trabalha nos dias úteis. Cozinheira de mão cheia, sempre tem um guizado de galinha, um salgadinho, um quitute para agradar sua variada clientela.

Dona Neide Fidelis chegou aos 92 anos com energia que impressiona. Ao longo de décadas foi o baluarte do marido, Elísio Fidelis, que havia fincado as raízes de um negócio que marcaria a história de Bom Despacho: os mercados Fidelis.

Rose Hellen é uma empresária cujo sucesso vai muito além de Bom Despacho. Suas mudas de cítricos e ornamentais são exportadas para longe. Sempre inquieta e incansável, Rose Hellen expandiu seus negócios para servir um cafezinho delicioso acompanhado de acepipes bem mineiros.

Dona Solange Quirino fez história em Bom Despacho. Professora e diretora de escola, participou da formação de muitas gerações de estudantes. Dona Solange, sempre sorridente, sempre acolhedora, sempre cheia de energia, é um exemplo de mulher que soube construir.

(Portal iBOM / Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho / Fotos de arquivo).

 

One thought on “Cidades se fazem com mulheres

  • 19 de março de 2024 em 21:10
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    Sensacional matéria. Muito justa a homenagem prestada e nos trouxe doces lembranças de pessoas muito queridas e algumas com as quais trabalhei. Parabéns

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