Popô: os animais pareciam pedir socorro na enchente

 

Em entrevista ao iBOM, o veterinário Evandro Paulinelli, o Popô, fala da sua jornada como voluntário para socorrer e tratar animais ilhados e perdidos na enchente do Rio Grande do Sul. “Quando você vê tudo tampado pela água, mau cheiro, corpos de gente e de animais, tem uma noção do tamanho da calamidade”, diz ele.

Impressionado pela tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul nas últimas semanas, o veterinário Evandro Paulinelli Vidal, 39 anos, conhecido como Popô Veterinário, não teve dúvida: arrancou de Bom Despacho/MG por conta própria e foi para Canoas/RS ajudar no resgate e atendimento clínico de cães e gatos vítimas das enchentes. Na bagagem levou, além das roupas, todo o seu instrumental cirúrgico.

Lá no Sul, Popô enfrentou uma tragédia que nunca tinha imaginado antes: casas submersas pela água, corpos de pessoas e de animais na lama e um forte mau cheiro.

Junto com outros voluntários, Popô ajudou a resgatar mais de 300 animais. Depois foi para um bloco cirúrgico improvisado tratar os animais feridos. Atendia um atrás do outro e perdeu a conta das centenas de cirurgias que fez em apenas três dias. “Os animais pareciam pedir socorro”, disse ele ao iBOM.

Popô é formado em Veterinária pela Una Bom Despacho e mora no bairro Jardim América, em Bom Despacho. É casado e tem um casal de filhos pequenos.

Após sua jornada em Canoas, Popô voltou para Bom Despacho no dia 21 de maio. Na quinta-feira, dia 23, contou ao editor Alexandre Borges como foi essa experiência em sua vida. Enquanto dava a entrevista para o jornal, recebeu uma mensagem informando que a água tinha voltado a subir no Sul. Emocionado, ele disse ao editor que estava pronto para voltar ao Rio Grande do Sul e salvar mais animais. Veja na entrevista a seguir.

iBOM – Por quê você decidiu ir para o Rio Grande do Sul? O que o motivou?

Popô – A tragédia enfrentada pelos gaúchos. Fiquei sensibilizado pela situação, tanto das pessoas quanto dos animais. Aí resolvi ir pra lá ajudar e fazer o que eu sei, que é cuidar e tratar de animais.

iBOM – Viajou como?

Popô – Fui no meu carro. Sai de Bom Despacho dia 13 de maio e rodei por 28 horas até chegar na cidade de Canoas, uma das mais afetadas pelas enchentes.

iBOM – Quem pagou os custo da viagem?

Popô – Eu ia pagar do meu bolso, mas aí um grupo de 20 pessoas fez uma vaquinha para custear meu combustível e os lanches na ida e na volta.

iBOM – Lá no Sul você ficou em que lugar?

Popô – Fiquei em Canoas, perto de Porto Alegre, num bairro com 80 mil habitantes inundado pelas águas. Eu e mais 4 pessoas, todos bombeiros civis, ficamos na casa de uma moradora. Não havia água canalizada e a gente tomava banho de caneca num frio de 6 graus. Nossa alimentação eram marmitex fornecidos pelos próprios moradores.

iBOM – Qual era sua tarefa? Como era seu trabalho?

Popô – No início, fui junto com os Bombeiros resgatar cachorros e gatos que estavam ilhados. Depois fui para um abrigo onde estavam alojados três mil cachorros. Havia de tudo: animais com pernas quebradas, olhos furados, cachorras grávidas que precisavam de cesária. A maioria eram animais domésticos que foram levados pelas águas e ficaram perdidos. Nesse local eu fazia cirurgias num bloco cirúrgico improvisado para poder tratar e salvar os animais feridos.

iBOM – Quantos animais você atendeu?

Popô – Ajudei a resgatar mais de 300 animais. Agora o atendimento cirúrgico eu perdi a conta de quantos foram. Era um atrás do outro.

iBOM – O que mais o impressionou em relação aos animais?

Popô – Cara, uma coisa me marcou muito é que os animais pareciam pedir socorro. Quando a gente chegava para resgatar, parecia que eles já esperavam nossa chegada. Era uma coisa muito louca.

Veja AQUI vídeos de resgates e atendimentos de animais feito por Popô em Canoas/RS

iBOM – E em relação às pessoas?

Popô – Todo mundo na causa. Todos fazendo o que podiam. Havia profissionais de diversas áreas vindos de todos os pontos do Brasil. Todo mundo voluntário. A tragédia uniu as pessoas. O povo de lá perdeu tudo e mesmo assim estava lá dando apoio.

iBOM – Você já tinha visto algo parecido na sua vida?

Popô – Nunca. Foi a primeira vez. É uma situação impressionante. Quem está aqui de longe vendo pela TV não tem ideia do tamanho da tragédia que o povo está enfrentando lá. Quando você entra num barco e só vê os telhados das casas, tudo tampado pela água, tem uma noção do tamanho da calamidade. Há mau cheiro em todos os lugares, corpos de gente e de animais. Tivemos que tomar remédio para entrar na água e resgatar os animais.

iBOM – As doações enviadas para o Sul estão fazendo diferença na tragédia?

Popô – Nossa Senhora! Demais! Se o povo não doasse aquela gente não viveria. Acabou tudo por lá. Eles não têm nada. Vão recomeçar do zero. É uma calamidade sem tamanho

iBOM – Você pretende voltar lá para ajudar mais?

Popô – Se for preciso eu volto sim.

iBOM – O que sente na alma depois dessa experiência? Mudou alguma coisa na sua vida?

Popô – Com certeza! A gente tem que dar mais valor na vida. A gente tem muito e acha que é pouco. Precisamos dar muito valor na vida, na família, no que a gente tem, na vida da gente.  (Reportagem Alexandre Borges / iBOM / Fotos e vídeos: Arquivo pessoal Popô).

 

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