Quando a coluna se lança em rede social

 

VANDER ANDRÉ – No dia 19 de abril, o Bar do Tonhão – Museu Virtual de Bom Despacho, compartilhou em sua página de rede social uma foto da edição de janeiro de 2015 do Jornal de Negócios, mostrando várias imagens dos aniversariantes daquele período. Geralda Coutto, uma internauta, comentou: “Na época era uma homenagem e tanto quando aparecia a foto no jornal no dia do aniversário. Olha o Pedro Ivo, Zé Guilherme…

Esse momento me deixou curioso sobre o estilo jornalístico de opinião, e comecei a investigar mais sobre isso ao longo dos anos de existência do Jornal de Negócios, que no dia 12 de maio completou 35 anos de existência. Em 27 de janeiro de 2012, o jornal anunciou: “Veja um preview das matérias que saem no Jornal de Negócios deste final de semana: … Beatriz Cabral e a coluna social mais badalada da cidade”.

Beatriz Cabral, enfermeira de formação e especialista em auditoria e saúde mental, atualmente lidera uma equipe de 48 profissionais na Secretaria da Saúde de Nova Serrana. Ela compartilhou comigo que se casou com o editor do Jornal de Negócios em 1988, quando ele deixou sua prática odontológica em consultório. Desde então, sempre trabalhou ao lado dele no jornal, embora inicialmente não escrevesse textos, apesar dos insistentes pedidos dos leitores para que o fizesse.

Os leitores do Jornal de Negócios a incentivavam a criar uma coluna de fofocas, algo que não a agradava muito. No entanto, eventualmente decidiu começar a escrever sobre eventos, aniversários, casamentos, e assim por diante. Embora ela não considerasse isso como seu principal talento, a coluna no jornal acabou se tornando extremamente popular entre os leitores, obtendo enorme sucesso e eles começaram a enviar fotos e pedir para que ela as incluísse na sua coluna, intitulada “Tok’s & Retok’s“.

Ampliando minha pesquisa sobre o tema, encontrei registros de que foi em 1907 que surgiu na imprensa brasileira a primeira coluna social, intitulada “Binóculo” escrita pelo jornalista Figueiredo Pimentel. Durante anos, as colunas foram utilizadas para demonstrar a trajetória de vida das elites da sociedade e o que faziam em suas vidas, notadamente nos momentos de festa e glamour, evidenciando seus comportamentos, casamentos, formaturas, nascimentos, bailes de 15 anos, as modas e um pouco de cultura em geral, na maioria das vezes escritas num tom bajulador daquelas pessoas em destaque. Quase sempre voltadas para o público feminino, desempenhavam a função de contraponto, um descanso de leitura no meio das notícias sobre os crimes, violência e mortes da imprensa marrom ou sensacionalista.

Para conhecer mais sobre a história do colunismo social, CLIQUE AQUI e confira o trabalho “Evolução da coluna social ao longo do século XX”, da pesquisadora Beatriz Dornelles (PUC-RS).

Revista do Cinquentenário 

Em Bom Despacho, durante as celebrações do seu cinquentenário de emancipação política, em 1962, foi publicada uma revista. Naquela edição, encontrei uma página dedicada à divulgação de fotos de membros proeminentes da sociedade bom-despachense, incluindo os filhos do casal Sr. Elísio Teixeira Campos e D. Neide Maria Campos, entre outros. Para ilustrar a passagem do tempo, trago aqui um comparativo de fotos com a de 1962 e uma recente desses mesmos filhos, juntamente com aqueles que vieram ao mundo após a foto antiga, numa tentativa de criar uma “coluna social” atualizada daquela revista. A matriarca da família, D. Neide, infelizmente faleceu no último dia 15/05/2024.

Eu também já tive meu momento de colunável. Em 2002, ao assumir meu primeiro cargo de Administrador em uma agência bancária na cidade de Governador Valadares, fui mencionado pela colunista Penha Fabri em sua coluna “Gente”, no jornal Correio Semanário, edição 00147, de 22 a 28 de dezembro de 2002. Em seu texto, repleto de adjetivos, ela descreveu minha chegada à cidade e a tentativa inglória de ensinar os clientes a utilizar os terminais de autoatendimento para imprimir “folhas de cheque”, em um período de fortes transformações na forma como as pessoas se relacionavam, impulsionadas pela chegada de novidades tecnológicas, o que me pareceu bastante pertinente trazer aqui para este texto.

Assim ela escreveu: “Amei de paixão conhecer o gerente administrativo do Banco do Brasil, o elegante Vander André Araújo. Não apenas porque me presenteou com uma caneta italiana, mas porque é um capacitado. Com paciência, explicou sobre o novo sistema de distribuição de cheques em folhas avulsas. Trata-se de modelo moderno, inspirado em países evoluídos, para garantir segurança. De posse da sua senha, saca apenas as folhas necessárias, sem acúmulo dos tradicionais talões, que podem resultar em extravios, sujeitos a furtos, roubos, etc, etc, etc. Aceitei e até compreendi. Só não satisfaz a mim e certamente a muitos, que não somos da geração botõezinhos. Eles me mordem!”.

Na mesma cidade, no ano anterior, a colunista do Diário do Rio Doce, Wilma Trindade, em sua coluna “Agenda DRD” da seção Sociedade, datada de 11 de março de 2001, descreveu minha “Ficha Gerencial” da seguinte maneira, acentuando superlativos e interjeições: “A Gerência de Administração do Banco do Brasil com outro titular: o novíssimo Vander André Araújo (30 anos) e solteiríssimo. Funcionário do BB desde os 14, pós-graduado em marketing e gestão empresarial, atuou nos últimos anos como assessor de imprensa e cerimonial da Superintendência em Minas Gerais e na área de comunicação e marketing. Bacharel em Direito e pós-graduado em línguas estrangeiras no Canadá (nooossa!)…” e assim por diante, naqueles bons tempos de colunismo social se prestando a apresentar os “recém-chegados” para a sociedade local, em jornais do interior de Minas Gerais.

Com o aumento do uso das redes sociais, onde qualquer pessoa pode ter sua própria página com seguidores e amigos, parece ter havido um aumento significativo das “colunas” sociais. Agora, aqueles que não temem se expor ou correr o risco de perseguições de stalkers, como no explosivo caso de sucesso na Netflix, Bebê Rena, aproveitam ao máximo as publicações de fotos, exibindo desde jantares, almoços e cafés da manhã até viagens, passeios turísticos e outras experiências bastante singulares. Isso me levou a questionar: qual seria o papel atual de uma coluna social em um jornal?

Nova rede social

O que ocorre atualmente? Vivemos em um mundo de influenciadores digitais, tiktokers que se destacam na produção de vídeos, muitas vezes de forma irônica e sem muita preocupação com produção ou cenários. Parece que o que importa é, em um curto espaço de tempo, conseguir manter seu seguidor engajado, levando-o a fazer comentários, compartilhar, dar um like, entre outras interações. Para os entusiastas das redes sociais, há novidades à vista, como a recentemente anunciada “rede social mais social” exclusivamente para a geração Z, pela Nospace, em junho. Confira essa novidade CLICANDO AQUI.

Essas inovações na forma de relacionamento social e exposição pessoal em canais de comunicação parecem ter mudado completamente. Fico imaginando o ponto de vista de antigos colunistas, como o famoso carioca Ibrahim Sued, que certa vez, ainda durante a ditadura militar, comentou sobre o que poderia “sair” em sua coluna: “Minha coluna é informativa, com comentários e, acima de tudo, criteriosa. Hoje em dia, qualquer ‘jacaré’ ou ‘cobra d’água’ que oferece um jantar quer aparecer nas colunas. Na minha, não! Não é esnobismo, é critério. Se é uma coluna de sociedade, não vou incluir ‘boca livre’ em boate com pessoas malvestidas, de tênis…”

Não apenas a coluna social está migrando para esta plataforma de rede. O Jornal de Negócios, alcançando a maturidade aos 35 anos, ostenta uma forte presença online. A cada dia, um número crescente de pessoas segue suas publicações no instagram.com@jornaldenegocios, além de interagir e apreciar os artigos no facebook.com@jornaldenegocios. Isso sem mencionar o aumento contínuo de acessos aqui no site www.ibom.com.br, onde os leitores podem encontrar todo o conteúdo divulgado.

Para ilustrar, em 22 de fevereiro, uma publicação controversa sobre o corte de energia em uma residência no bairro Esplanada, no Instagram – onde o jornal já acumula mais de 21 mil seguidores – recebeu mais de 130 mil curtidas e 12.329 comentários, sem contar as mais de 2,8 milhões de visualizações/impressões. Esses números refletem o crescimento do Jornal de Negócios no meio digital. Portanto, não deixe de visitar o site do jornal e de seguir seus perfis no Instagram e no Facebook, mantendo-se atualizado sobre as principais notícias da cidade e a evolução do principal veículo de comunicação de Bom Despacho. O jornal se renova diariamente, sempre atento às inovações tecnológicas.

Diante das numerosas mudanças na maneira como nos conectamos e nos interessamos e informamos sobre a vida dos outros, seu dia a dia, sinto-me compelido a encerrar este texto da mesma forma como meu sogro paulista costumava concluir suas reflexões sobre o futuro, quando escrevia para as colunas de opinião do Jornal Estadão: Quem viver verá. (Portal iBOM / Vander André Araújo é advogado, filósofo e escritor / Fotos: Arquivo).

 

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