Marlúcio Quirino e a então talentosa equipe da Brahma

 

Através do amigo Júlio Campos, o “Júlio arquiteto”, recebi uma simpática crônica de autoria de Eduardo, o Dudu da Cambuá. Só faço dois adendos: golkeeper hoje é goleiro (quem sistematizou as regras do esporte foram os ingleses) e o Lucinho Bom-despachense aí não sou eu, pois sou perna de pau. Vamos ao texto:

“Marlúcio x Reinaldo, babys craques. No Brasil geralmente e sempre nossos ídolos não são valorizados como deveriam ser. Aqui em Bom Despacho segue a mesma regra. Falo do Mário Lúcio Quirino Costa, nosso popular Marlúcio, Lucinho para os íntimos. Na década de 70, precisamente 1974, o time de futebol de salão, hoje futsal, da Brahma foi convidado para jogar contra o Ponte Nova, MG. O time da Brahma era um timaço e familiar: Marlúcio e seu irmão Rona e os primos Gui e Mó. Goleiro!? Que nada, o time era tão bom que dispensavam um goleiro fixo. Onde iam convidavam um qualquer. Tem até um episódio interessante que merece registro: certa vez, chegando pouco antes da partida tiveram dificuldade de encontrar um golkeeper, quase em cima do começo da partida e nada. O Gui viu que tinha um cego sentado na arquibancada. Correu até ele e o convenceu de jogar para o Brahma. Venceram por 4×0, pasmem, com um goleiro cego. Esse caso inusitado deve ser único no esporte mundial.

O craque da companhia era sem qualquer dúvida e merecidamente nosso querido Mó, Mozinho para os mais chegados e familiares. Jogava demais, muito próximo da genialidade herdada do seu pai, o incrível centroavante Tio Quinzinho. Mas se o craque era o Mó, o ídolo era o Marlúcio. Artilheiro nato, excelente estatura e complexão física, ambidestro com chute fortíssimo e exímio cabeceador. Se não tinha a genialidade do Mó, sobrava-lhe ser um matador inqualificável e fenomenal.

Nessa época o querido e exemplar Professor Calais era o Cônsul Vitalício do Galo aqui em Bom Despacho, hoje substituído pelo não menos querido, nosso José Carlos Gontijo, o Caiô, atleticano de quatro costados e ainda de lambuja irmão do lendário cracaço da Associação Bondespachense, o eterno ídolo Onório Antônio Gontijo, o inigualável Nonóia.

O Professor Calais, com seu olhar e faro de lince, já descobrira o talento do nosso craque comunicando com a diretoria do Galo em Belo Horizonte e solicitando que os olheiros do clube o observassem in loco. Pois bem, o Brahma foi convidado para jogar contra o Ponte Nova, MG e coincidiu que o juvenil do Galo estava por aquelas paragens. Avisados, Barbatana e Zé das Camisas foram ao ginásio observá-los (Marlúcio e o tal José Reinaldo de Lima).

Ginásio lotado, começa a partida e com um gol relâmpago aos 16 segundos esse Reinaldo faz 1×0 Ponte Nova. Aos 17 minutos o mesmo Reinaldo faz 2×0. O time da Brahma, nervoso, não se encontrava na quadra. Com o passar dos minutos o time bom-despachense foi reorganizando e refazendo-se e com 1 minuto faltando para o término do primeiro tempo gol do Brahma. Gol não, golaço do Marlúcio. Chapelou o zagueiro e da meia lua com a perna esquerda, um balaço, um canhão. A bola bateu no travessão, o ginásio tremeu, antes de entrar chicoteou nas costas do guarda-metas que teve que ser substituído por não suportar a dor da bolada. 2×1 placar do primeiro tempo.
Na etapa final o Brahma colocou o Ponte Nova na roda. Logo aos 6 minutos, Marlúcio fez 2×2 de cabeça depois de um cruzamento mamão com açúcar do Mó pela direita. O jogo foi seguindo e Reinaldo e o Ponte Nova viram que o visitante era muito forte. Aliás, Reinaldo sumiu da quadra. O Brahma cada vez mais se agigantava e aos 11 minutos o hat-tric do garoto Marlúcio, desta vez com uma caneta no seu marcador e na saída do goleiro um debochado giro de 180 graus e meteu de letra. Frenesi total!!! Todo ginásio gritando freneticamente: Marlúcio, Marlúcio, Marlúcio…. Barbatana e Zé das Camisas boquiabertos não acreditavam no que seus olhos viam. Juntaram-se aos gritos com a alegria de ver o despertar de tão promissor e jovem talento. Eles que tinham a maior expectativa de observar o José Reinaldo ficaram extasiados com o desempenho e a performance do jovem bondespachense.

Faltando 2 minutos para o término da partida, em um rápido contra-ataque, Rona toca rápido para o Gui, este inteligentemente, de primeira lançou a bola na área, Marlúcio dividiu e ganhou pela esquerda, dribla 1,2,3, mas perdeu o ângulo. Faz um giro, com uma ginga de corpo um quarto estatela-se na quadra, avança rápido dá um lençol no guarda metas e agora faz um giro humilhante de 360 graus e de calcanhar dá um toque modorrento na pelota que mansamente ultrapassa a linha do gol para o desespero e esforço hercúleo do golkeeper adversário, não evitando assim o histórico placar de 4×2, quatro golos do nosso genial craque, nosso Lucinho bondespachense.

Terminando a partida, Barbatana corre ao vestiário com o contrato na mão para nosso menino craque assinar e de quebra também contrata o José Reinaldo. Os destinos opostos desses dois craques serão contados em uma próxima crônica. Aguardem.”

FOTO – Na foto acima, de 1968, estão em pé Babão, Gonha, Barracão, Zezinho Faria, Gui e Caveirinha. Agachados: Zé Celso, Mário Lúcio Quirino, Ratinho, Paulo Romeu e Júlio Maleita.  (Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor / Foto: Arquivo Marlúcio Quirino).

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