Dr. Clodomiro Anaya Rojas: pátria e coração grande

 

LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – A história de Dr. Segundo Clodomiro Anaya Rojas me impressionou. Eu o conheci há muitos anos quando meu tio Rodrigo Anaya Rojas se casou com minha tia Denise, ainda nos anos 80. “Segundo” Clodomiro tem esse nome devido ao fato de ter o mesmo nome do pai, o que seria equivalente ao “Júnior” aqui. Viveu parte de sua infância em sua cidade natal ao sopé dos Andes e outra parte com os avós no Departamento de Cajamarca, no norte do Peru, pois perdeu a mãe com sete anos de idade. Depois estudou no prestigiado Colégio San José, em Chiclayo, no litoral norte, se mudando depois para Lima, a capital, onde viviam seu pai e três irmãos. Em busca de novas oportunidades de estudos e trabalho, a família, apesar de unida, vivia com sacrifícios. Sobre a região onde passou a infância, Rodrigo Rojas, seu filho, contou-me um dia que ali existiu uma civilização bem anterior aos incas. Falou também da guerra entre Peru e Bolívia contra o Chile no final do século XIX, guerra da qual sabemos pouco aqui no Brasil.

Clodomiro e Ângela

Clodomiro trabalhou como “segurança” por dois anos em uma siderúrgica recém inaugurada há cerca de duzentos quilômetros ao norte de Lima, onde juntou uma certa quantia e resolveu mudar-se para o Brasil em busca de seu sonho. Clodomiro sonhava em estudar Medicina, mas a universidade era muito elitizada em Lima. Tentou, então, uma vaga na Argentina e não conseguiu. Soube, então, de um intercâmbio do governo Juscelino Kubitschek e veio para o Rio de Janeiro. Lá ele ouviu falar em Belo Horizonte.

Uma vez na faculdade de Medicina da UFMG, conheceu Rafael de Araújo Cançado. Foi através desse colega, tio de sua atual esposa, que ele conheceu a doce Ângela, da distinta família Lopes Cançado, que conhecemos como Dona Ângela, com quem se casou. Ela é parente da escritora Maura Lopes Cançado, autora de Hospício é Deus, comentada por mim aqui em várias crônicas, tais como Maura Lopes, a Maior Escritora que já Viveu Aqui. Ela o fez prosseguir no Brasil e constituir família. Entre idas e vindas, Dr. Clodomiro é um médico muito querido aqui em Bom Despacho, trabalhou como pediatra, tendo recebido o título de Cidadão Honorário, inclusive. Sempre foi uma pessoa progressista, é muito politizado e informado, acompanha muito as notícias, especialmente do Peru e da “Pátria Grande”, a América Latina. Para quem não sabe, o primeiro capítulo de nossa Constituição, especialmente importante e claro no parágrafo único, aquele que estabelece os princípios fundamentais da Constituição, estipula que “a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

Os filhos de Clodomiro são Rodrigo, Tânia, Rogério, Cláudia e Felisa. Fomos junto com Cláudia ao show de Caetano Veloso e Betânia, graças também à minha cunhada Felisa, que gentilmente cedeu o ingresso. Felisa Anaya é a minha querida cunhada, esposa de meu irmão Mário. Doutora em Sociologia, aprovada em concurso pela Unimontes, foi morar em Montes Claros, estudou em Belo Horizonte, mas vem sempre a Bom Despacho, onde passou a infância. Tânia Anaya Segunda, filha de Dr. Clodomiro, procura, através de seus filmes e outras expressões artísticas, valorizar a cultura indígena e afro-brasileira. Em 2005, realizou um calendário que citou a Tabatinga; em 2006 projetou e lançou outro, intitulado Meu Brasil Africano (Minha África Brasileira) junto ao Ministério da Educação. Atividades culturais como as desenvolvidas por Tânia Anaya permanecem iniciativas de indivíduos isolados em nossa região. Recentemente, Tânia esteve em Montes Claros elaborando um novo trabalho cinematográfico.

Há pouco tempo, reencontrei Clodomiro numa festa de família, a festa de aniversário de minha cunhada Felisa, uma festa com uma banda cubana. A música preferida de Clodomiro é uma cumbia peruana chamada Cariñito, cantada originalmente pelos “Hijos del Sol”. Carinito significa “Queridinha”:

Cariñito
Lloro por quererte, por amarte, por desearte
Ay cariño, ay mi vida
Nunca, pero nunca me abandones, cariñito
Nunca, pero nunca me abandones, cariñito

Sendo assim, viva Segundo Clodomiro Anaya Rojas, representante da Pátria Grande em Bom Despacho! (Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor / Fotos: arquivo da família / A foto do alto mostra Clodomiro com os filhos, da esquerda para a direita, Felisa, Tânia, Cláudia, Rodrigo e Rogério).

 

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