Seriedade da Quaresma e da Semana Santa em BD
ALEXANDRE MAGALHÃES – Desde minha adolescência, que já acabou há algumas décadas, não sou exatamente uma pessoa religiosa. Até meus dezesseis ou dezessete anos eu era um católico exemplar: ia à missa todos os dias, às 7:00 horas da manhã, antes de ir trabalhar. Fazia parte do grupo de jovens da minha paróquia, dava aulas de primeira comunhão e crisma.
Um dia acordei e já não acreditava mais em nada e, apesar de manter meus amigos desta época, alguns bem próximos, me tornei um ateu.
Apesar da distância, acompanho as notícias religiosas e leio muito sobre religiões em geral, tento entender no que acreditam e as diferenças entre elas. Adoro o assunto, apesar da descrença.
Por esse acompanhamento sobre as notícias sobre os eventos religiosos, recordo-me do já falecido cardeal Dom Paulo Evaristo Arns dizendo em rede nacional de TV que o jejum de carne na Sexta-Feira Santa era mais uma tradição do que uma necessidade. E arrematou: “se alguém que nunca tem a chance de comer carne, tiver essa chance na Sexta-Feira da Paixão, está autorizado a comer este alimento”. A partir desta data, passei a considerar normal comer carne na Semana Santa.
Nada comparado ao que minha avó materna, a D. Ana, fazia no período: cobria os espelhos da casa durante a Quaresma inteira, proibia os netos de ouvir o rádio, comer carne ou participar de festas durante todos os quarenta dias.
Em São Paulo, a Sexta-Feira Santa é um dia quase normal, no qual as pessoas se reúnem para ir a bares e restaurantes e, até onde sei, o consumo de carne é bem comum.
Por isso, fiquei bem impressionado com a quantidade de restrições que muitos bom-despachenses se impõem durante a Quaresma e Semana Santa.
As restrições vão de consumo de álcool a prazeres sexuais, de não comer carne a jejuar por muitos dias.
Também me chamou a atenção a quantidade de bares e restaurantes fechados, especialmente na Sexta-Feira da Paixão. E os que abriram, ofereceram cardápios sem carne. Impressionante as diferenças entre minhas duas cidades favoritas!
A frase que mais ouvi foi algo como “hoje, não podemos comer carne”, e não “eu não quero comer carne”. As pessoas entendem a restrição autoimposta como uma lei federal ou algo que independe da vontade da pessoa.
Foi muito divertido acompanhar mais de perto esta questão cultural muito forte em Bom Despacho e muito mais imperceptível em São Paulo.
Em São Paulo, a tradição da Sexta-feira Santa e do Domingo de Páscoa é comer uma bacalhoada, prato que meu pai e avós faziam questão de preparar nestes dois dias. Não percebi uma busca muito frenética pelo bacalhau em Bom Despacho, o que também é (ou seria, caso minha percepção estiver equivocada) muito diferente.
Na verdade, tirante a curiosidade das diferenças, para mim não há diferença entre um dia normal e a Semana Santa, já que não como carne nenhuma há uns seis anos. Ou seja, todos os dias é Sexta-Feira Santa para mim!
Mais um mineiro que se vai…
Semana passada recebemos a notícia da morte do artista (não só cartunista) Ziraldo. Mineiro de Caratinga, foi um grande personagem da nossa cultura. Além de criar muitos personagens importante, o mais conhecido o “Menino Maluquinho”, foi um dos criadores do famoso jornal independente de esquerda e anti-ditadura militar, o Pasquim, do qual fui assinante quando eu era muito jovem. Também criou a revista “Bundas”, nome dado para brincar com a revista “Caras”, esta voltada para mostrar a vida dos ricos e famosos. O slogan da revista semanal Bundas era maravilhoso: “Quem mostrou a bunda em “Caras” não mostrará a cara em “Bundas'”.
Minha primeira lembrança do Ziraldo foi suas participações na campanha pelas eleições diretas, as “Diretas Já”, na década de 1980.
Acompanhei a carreira de sua filha, a dramaturga e expert em cenografia de teatro, a Daniela Thomas, que herdou o sobrenome do grande diretor e produtor estadunidense de teatro, o Gerald Thomas. Juntos fizeram grandes espetáculos… para orgulho do Ziraldo.
Sentirei sua falta, grande mineiro!
Resquícios do futebol mineiro
No domingo atrasado aconteceu a final do campeonato mineiro de futebol. Claro, Cruzeiro e Galo fizeram a final, só para não variar.
Apesar da vantagem obtida na primeira partida da final, o Cruzeiro perdeu em casa, no Mineirão lotado, e o Galo tornou-se campeão de 2024.
Uma das pessoas que mais gosto em Bom Despacho, a Patrícia, cruzeirense doente, o que inclui até uma tatuagem do distintivo do time em sua perna direita, passou a semana inteira preparando-se para ir ao Mineirão ver o jogo in loco.
Com a certeza da vitória e do campeonato, ela decepcionou-se tanto com o resultado que queimou todas as camisas de seu time do coração. Na segunda-feira pós-jogo, estava inconformada, chorosa, ameaçando cobrir o distintivo do time em sua perna por outra imagem qualquer.
O futebol é tão relevante no Brasil, em Minas também, e especialmente em Bom Despacho, que as pessoas mudam seu comportamento em uma vitória e em uma derrota.
Meu querido amigo Ernane Ferramenta está aí para não me deixar mentir. Quando o Galo ganha, até sem pagar a conta do bar o sujeito sai, mas quando o Atlético perde, ele fica catatônico. Muito divertido ver estes comportamentos, pois o futebol é apaixonante.
Patricia, deixe de ser boba! Guarde a tatuagem intacta, pois logo-logo seu time vai ganhar e você ficará feliz de novo!
Parabéns aos dois times que fizeram uma final emocionante!
Bom Despacho na mídia em São Paulo
Confesso que não vejo muito o nome de Bom Despacho nos dois jornais que assino: a Folha de São Paulo e o Valor Econômico. Para não dizer que nunca vi o nome da cidade nestes jornais, ele apareceu recentemente, quando alguém ou um grupo de moradores da cidade ganhou na megasena acumulada.
Domingo último, estava eu lendo calmamente a Folha de São Paulo, quando havia duas notícias citando o nome de Bom Despacho.
Parei, ajeitei-me no sofá e li com calma as duas notícias.
Elas tinham como foco uma dirigente do PT que está apostando muito suas fichas em algumas cidades mineiras, inclusive Bom Despacho, para sua eleição como deputada estadual nas próximas eleições.
No meio da matéria, aparecia o nome de meu amigo Professor Lao, como a aposta da dirigente do partido para ser o novo prefeito da cidade.
Apesar de não votar em Bom Despacho, fiquei feliz em ver a cidade ganhar relevância na mídia de São Paulo e, especialmente, por passar a receber mais verbas e atenções do governo federal.
Bom Despacho merece! Independentemente de quem seja o novo prefeito. O povo bom-despachense merece! (Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por BD e SP / Imagem ilustrativa).