Luisa Garbazza, a Adélia Prado de Bom Despacho

LÚCIO JÚNIOR – Luisa Maria Garbazza Andrade, que usa o codinome beija flor de Luisa Andrade, é uma das nossas mais encantadoras escritoras. Até os doze anos de idade viveu no Lajão, zona rural na direção da Rua do Céu.

Luisa formou-se professora pela Escola Estadual Miguel Gontijo, na Vila Aurora. O gosto pelas letras levou-a a formar-se em Luz. Durante muitos anos trabalhou com alfabetização rural, depois na Escola Irmã Maria. Na crônica A Menina em Mim ela reflete sobre sua foto mais antiga e pensa no passado: a família grande, a casa humilde, o uniforme remendado, mas sobretudo fixa-se no terno rosto da criança que ela foi.

Casada com Flávio, mãe de dois filhos, publicou também Onde Mora o Coração e Igreja do Rosário (coautoria). Tem também Lição de Passarinho e Dança da Chuva, voltados para o público infanto-juvenil.

A partir de 2010, começou a escrever seus textos no jornal A Paróquia. Passou a ser um destaque na rede social e em seu blog. Veja clicando AQUI.  Em 2013 teve um conto incluído em uma coletânea em Lisboa, no livro “Magia das Chaves”.

Em 2014 Luisa lançou Histórias da Vida e Para a Vida. O livro é inspirado na beleza literária da Bíblia e em Guimarães Rosa. Lendo um texto de Histórias para a Vida pode-se ler uma crônica fascinante de sua visita a Cordisburgo, berço desse escritor, intitulada Nas Veredas de Guimarães Rosa:

Muita coisa está conservada naquele museu: roupas, chapéu, gravatas, espadim que acompanhava o fardão da Academia Brasileira de Letras –1967—móveis, máquina de escrever, livros e vários objetos. No quarto que era de sua avó, tudo remonta à religiosidade: oratório, imagens, véu, terço, livro de orações. Segundo o guia do museu, ela rezava por todos da família e acompanha os movimentos de cada um. Um último olhar pela casa vem acompanhado pela visão de Miguilim. É fácil materializá-lo, vê-lo percorrendo aqueles espaços com o olhar tão inocente. Difícil é esquecer aquele menino tão sensível e observador que nos provoca imensa ternura.

A venda está bem preservada. Tantos objetos antigos provocam uma saudade nostálgica em quem viveu, pouco que seja, os costumes daquela época. A caixa registradora, enorme, resiste ao tempo, assim como alguns arreios, uma capa para viagem, diversas caixas – inclusive uma bem grande, onde eram guardados cereais. Uma pequena vitrine – típica da época – em cima do balcão, ainda guarda alguns produtos. Em primeiro plano, destacam-se caixas de pó de arroz. Mais baixo, isqueiros (as tradicionais bingas), caixinha de rapé, cachimbos, canivete e outros. A memória logo busca figura do vaqueiro Manuelzão que “andou” por aquelas bandas.

Muito interesse é ver, em uma parede, lá no fundo do quintal, algumas fotos ampliadas de determinados originais desse gênio da literatura. Folhas datilografadas, cheias de marcas, revisões, cortes, rabiscos – até uma página toda cortada da trama. Lembra as palavras de Olavo Bilac: “torce, aprimora, alteia, lima/a frase; e, enfim, / No verso de ouro / engasta a rima, / como um rubim”. O trabalho com a escrita é sempre assim, ideias que combinam, se completam, se sobrepõem, ou ainda, se contrapõem.

Luisa Garbazza é como Rosa, menina sertaneja, tomou gosto nas letras, ganhou o mundo e não parou mais. A infância foi difícil, muitos irmãos, a casa muito simples, representou o Brasil por esse mundo afora, não perdeu sua alma literária, seu amor por sua gente e sua cidade natal.

(Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor / Foto: Arquivo Luiza Garbazza).

 

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