José Geraldo de Oliveira Leite, bom-despachense notável

 

TADEU ARAÚJO – Hoje, eu cedo espaço nesta coluna ao Dr. José Maria do Couto Moreira, autor do texto abaixo em homenagem a uma das mais importantes figuras de nossa história, o comandante José Geraldo de Oliveira.

“Bom Despacho, esta agradável cidade do oeste mineiro, possui um celeiro de nomes notáveis que lhe tributaram esforços para seu admirável progresso. Uma plêiade grandiosa desses nomes merece, por suas biografias, a constante lembrança pelo padrão de declarado amor e devotamento à terra. 

Este ilustre bom-despachense – é importante que a geração de hoje o saiba – além de suas qualidades pessoais que o levaram ao coroamento de uma carreira em que se exigem disciplina e bravura, provou a seus conterrâneos, aos mineiros e a seus liderados, que a defesa da tradição dos valores cívicos e morais constituirá sempre a maior bandeira da nação. Disso deu prova soberba de que Minas, a Minas da rebeldia e da liberdade, é a Minas que o povo brasileiro, por vezes, aclamou como a protetora dos ideais proclamados pelo herói Tiradentes.

O destino de êxito de José Geraldo, nascido a 16 de outubro de 1914, começa a desenhar-se no quase centenário Quartel-General do 7º Batalhão de Infantaria sediado em Bom Despacho. Ali, aos vinte e um anos, começou como tenente-professor da Escola Regimental por ato do então governador Benedito Valadares Ribeiro, a seguir assentando praça naquela unidade. Na gloriosa Força Pública do Estado galgou os postos superiores da corporação conquistados sempre pelo merecimento, cumprindo inúmeras missões delegadas pelo governador do Estado, inclusive o comando do prestigioso 10° Batalhão de Infantaria de Montes Claros, e, aos 48 anos, é convidado pelo governador Magalhães Pinto para o Comando-Geral da Polícia Militar do Estado, de onde, contando com um efetivo militar de 22.000 homens, exerceria atos que desafiaram sua coragem e sua reconhecida competência militar. 

José Geraldo foi colocado em posição estratégica visando eventual ação militar prevista pelo governador Magalhães Pinto em face de um ambiente político efervescente em que cresciam no país a anarquia e a corrupção. Protagonista importante na deflagração do movimento de março de 64, em que nossas tradições libertárias se contrapuseram bravamente às tentativas do governo central de desvirtuamento ideológico dos ideais cívicos que abraçamos desde a proclamação da República, e com manifestações já ruidosas de todas as classes sociais reclamando uma atitude enérgica do Exército e das autoridades civis, o comandante da Polícia Militar de Minas Gerais cerrou fileiras com a IV Divisão do Exército, que iniciou a marcha da Mantiqueira para atingir a Capital Federal a 31 de março de 1964.

O comandante José Geraldo, mais tarde, já na sua merecida reserva, na fase em que os homens procedem ao balanço de suas existências, e pelos influxos de seu espírito democrático, ordeiro, lúcido e patriótico, teceu críticas quanto aos rumos que o movimento de 64 anunciava, provocando a resistência que homens da estatura de Milton Campos, Juscelino Kubitschek e o próprio Magalhães Pinto não mais ousavam suportar. É que o Estado exacerbou poderes ditatoriais inesperados, desviando-se da condição de fazer convergir junto ao povo ideias de um governo em que o Estado pretendido como de direito mostrava distanciamento jurídico e o lastro humanitário, princípios que levantaram os revolucionários na eclosão da epopeia de 64.

Este, em síntese, o traço biográfico do inesquecível bom-despachense José Geraldo de Oliveira, que acolhe na cidade a ilustre dama Silvia Gontijo Oliveira Cançado, sua sobrinha, casada com o também atuante bom-despachense Paulino Gontijo de Queiroz Cançado”. (José Maria do Couto Moreira)

  • O autor do texto

Dr. José Maria do Couto Moreira, na infância chegou a morar em Bom Despacho, onde foi colega do Dr. Paulino Queiroz no Grupo Escolar Coronel Praxedes. Ele é neto do Dr. Benigno Couto, figura humana notável e muito querido na cidade. Aqui, Benigno foi chefe da Coletoria Estadual. Sua avó era a dona Luzia. Ele é sobrinho do saudoso desembargador do Estado do Rio de Janeiro, o Dr. Vivalde Brandão Couto, figura muito cara aos bom-despachenses. 

Dr. José Maria é também filho de Dr. Vivaldi Moreira, advogado, jornalista, escritor, presidente da Academia Mineira de Letras e homem público de vulto de Minas Gerais.

(Portal iBOM / Tadeu de Araújo Teixeira é professor, escritor e fundador da ABDL / Foto: Arquivo família)

Tadeu Araújo

Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL

One thought on “José Geraldo de Oliveira Leite, bom-despachense notável

  • 11 de dezembro de 2024 em 15:00
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    Apenas um pequeno comentário.
    Embora o sobrenome Leite é comum na família de meu pai, ele não tem esse sobrenome registrado no Cartório de Notas e Documentos. A mim, como filho de José Geraldo, homem que por seus exemplos e conduta, sempre foi paradigma orientando o norte de minha vida. Nela me inspirei e nela realizei todo sonho possível. Por isso mesmo, LEITE, que representa alimento para vida, como o foi esse grande herói para mim, seria uma certificação dos valores que carregamos no seio da família.Confesso, fiquei com muita alegria ao tomar conhecimento do texto, pelo que agradeço ao autor Dr, José Maria de Couto Moreira tais gentis palavras. Evaldo J. Oliveira

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