Graia,ídolo inesquecível do futebol bom-despachense

Graia, goleiro de Bom Despacho.

TADEU ARAÚJO – Graia, goleiro de Bom Despacho, cujo nome real é o subtenente Marcos César Duarte nasceu em Bom Despacho, em 19/01/41. Era filho do sargento Divino Duarte e dona Maria Duarte, no seio de uma família muito querida na cidade. Respeitada pelos fortes princípios morais em que todas as suas gerações foram criadas. Cedo o menino Marcos recebeu o apelido de Graia, homenagem a um gracioso e inquieto pássaro brasileiro, muito colorido e cantador, a gralha.

Em primeiras núpcias, casou-se com Maria Rosa e teve uma filha. Ela faleceu jovem e Marcos desposou depois Maria Luiza Duarte. O casal teve 4 filhos. Conviveram por anos a fio em pura felicidade, entretanto, ela também veio a falecer. Como resultado, ele passou novamente pela sofrida e devastadora dor da viuvez.

Ao falecer, em 03/04/23, o Marcos deixou 4 filhos – Vanessa, Vanesca, Júnior e Valesca e 5 netos. Fui seu contemporâneo, por curto espaço de tempo, no Ginásio Estadual (Colégio Miguel Gontijo) em 1959 e 1960. E seu eterno fã por sua arte que nos encantou por décadas nos campos de futebol como um dos mais competentes goleiros de Bom Despacho e de todo o Oeste de Minas Gerais. Mas, sobretudo, nosso reconhecimento pela sua dignidade de ser humano que o caracterizava.

Admirado e querido nos quatro cantos da cidade em que viveu, resumo as virtudes dessa adorável pessoa nas palavras que ouvi entre lágrimas de sua emocionada filha Vanesca: “Meu pai foi o melhor pai e mãe do mundo… O melhor filho, irmão, avô, tio e… amigo.”

Graia e o futebol

O futebol é uma das mais belas artes que conheço. Belo no seu conjunto e na exibição dos verdadeiros e grandes artistas da bola. Graia, goleiro de Bom Despacho, foi um dos personagens mais belos que nos encantou com sua habilidade de goleiro. Em Bom Despacho, na região e até no Rio de Janeiro, para onde foi levado pelo goleiro Barbosa, ele emocionou multidões de gente de toda idade através de seu talento. Das suas defesas acrobáticas e geniais.

Nos anos 50, 60, 70 e 80 do século passado, a Associação Atlética Bondespachense formou equipes que nos brindaram com shows magníficos de bola, com vitórias espetaculares, que faziam felizes os corações de seus fãs nos embates lendários contra times também fabulosos de Divinópolis, Pompéu, Dores, Martinho Campos, Lagoa da Prata, Luz, Patos de Minas… Ou de profissionais de Minas Gerais – Cruzeiro, Atlético, América e mesmo da Cidade Maravilhosa, quando jogamos de igual para igual com lendas do futebol brasileiro: Vasco e Botafogo.

Para enfrentá-los contávamos com craques excepcionais em diferentes épocas: Tarcísio, Boréia, Deco, Hermes, Tãozico, CélioTabatinga, Zico Verdureiro, Paulão, Laércio, Paulo do Banco, Mazinho, Marambaia, Magela, Lúcio Padeiro, Renato Bruxo, Dão Belione e tantos… e tantos… e tantos outros mais. Ídolos tão ou mais idolatrados na cidade como políticos, médicos, professores, sacerdotes e tantos cidadãos ilustres e reconhecidos pelo muito que fizeram por nossa terra.

E voltando aos artistas da bola, aos craques do passado, um dos responsáveis por aquelas glórias que enobreceram a fibra bom-despachense foi sem dúvida o grande goleiro. Talvez o maior de nossa história: o subtenente Marcos César Duarte, o goleiro Graia, guardado carinhosamente na memória de um povo que ama as artes e os artistas do futebol, símbolos de uma gente guerreira e audaz.

Pompeia: o Constelation carioca

Ainda esta semana, meu amigo Renato Bruxo, escritor e craque de futebol, me lembrou do goleiro Pompéia do América do Rio de Janeiro. A imprensa carioca registrou, em várias fotos, Pompeia voando à altura dos travessões, impedindo gols dos adversários. Ele foi alcunhado por Nelson Rodrigues como o arqueiro “Constelation”, nome do mais imponente avião daquela época.

Com 12, 13 anos, nos idos de 1955/56, eu era apaixonado e sou até hoje por aquele time carioca e por seu goleiro. Um time que foi um dos melhores do Brasil de todos os tempos e cuja escalação guardo até hoje: Pompeia, Rubens e Edson; Hélio, Osvaldinho e Ivan; Canário, Alarcon, Leônidas, Romeiro e Ferreira. Time que, representando o Brasil, vestiu a camisa da Seleção e bateu simplesmente a poderosa seleção da Itália, por 3×1, num amistoso épico, em 1956.

Graia: o Constelation do Oeste de Minas

Em grande parte de Minas Gerais, Graia, goleiro de Bom Despacho, às vezes era chamado de Constelation por acrobacias semelhantes às de Pompeia

Mas Graia nos deixou há poucos dias. Ele foi-se embora antes do combinado, como dizia Rolando Boldrin. Pelo que tenho observado, as amizades do futebol não se acabam. Duram eternamente. Lá em cima, na Morada de Deus, hoje está o Graia, que foi um homem bom, honesto, carinhoso e dedicado naquilo que fez, principalmente, como pai de família, jogador, técnico de futebol e policial militar.

Amizade do futebol é eterna, e ele já teve ter encontrado lá no céu os velhos amigos: o técnico Sô Zico, o irmão Tobias, Tarcísio Amaral, Hermes, Noinha, Nonoia, Roberto do Pedro Gontijo, Pinheiro, Célio Tabatinga, Zico Verdureiro, César, Paulão, Ratinho, Dute, Gilberto Rufino, Maleita e outros do Dorense, do CAP, do Abadia, dos Atléticos de Abaeté e de Pitangui, etc… Uma legião que se dedicou ao Futebol com gosto, sabor e arte, em campos gramados ou “desgramados” aqui da terra.

Certamente, aos domingos, bem antes do pôr do sol, você tem jogado, aí no paraíso, sensacionais pelejas de futebol, apitadas pelo consagrado juiz Fio Duarte, irmão do Graia. E, se prestarem a atenção, certamente ouvirão, quando o Graia fizer uma defesa incrível e acrobática, o grito inconfundível do Sô Divino Duarte, pai dele: “Eta fio meu, danado de fedaputinha de bão de bola!”.

Leia também: Gabriel Oliver: dos gramados de BD para a Europa

Tadeu Araújo

Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL

2 thoughts on “Graia,ídolo inesquecível do futebol bom-despachense

  • 11 de maio de 2023 em 17:04
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    Grande homenagem e belo registro fotográfico.
    “TiGraia”. Era assim que nós o chamávamos quando ele era o responsável por coordenar os treinos do Greminho no Campo do Batalhão. 15 horas, nas quintas-feiras, era o treino da garotada com o Soldado Pagani.
    Ali passaram Bába, Zorro, Ivo, Anselmo, Caquinho, Leonel, Ricardinho, Ney, Derli, Renatinho, Nivaldo, Mauro Leitão, Mauro Domingos, Moacir Domingos, Bolão, Rogerinho, Tibenga, Beto do Jorge, Anselmo do Tão Zico, Betinho Coxinha, Zi Coxinha, Tozzi, Miúdo, Uríca.
    No fim da tarde, com o “TiGraia” e Tenente Álvaro, era a vez do time 1º e 2º Quadros do Grêmio, com Gordo, Dondi, Miguel, Ozanan, Renque, Izinho, Cizinho, Sininho, Mantinho, Lila, Hébert, Nenete, Mussú, Dentinho, Jadir Xavier, Nilson Dias, Miguel Neri.
    Todos tinham pelo “TiGraia” um respeito e carinho especiais, por tudo que ele representava no batalhão, no Grêmio Esportivo Tiradentes e no futebol de Bom Despacho.

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  • 4 de janeiro de 2024 em 19:01
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    Que grande surpresa. Hoje estou revivendo meus tempos de Bom despacho. Meu amigo Graia, Tobias. Nonoia, Lúcio Padeiro, Fernandinho, Boreia, Zico Verdureiro, Pacheco, e outros que esqueci os nomes pois há mais de 45 anos que sai de Bom Despacho indo para Brasilia. Por favor gostaria que fizesse uma matéria esportiva do time da Associação Atlética de Bom Despacho dessa nossa época com esses jogadores e com fotos se possível. Será maravilhoso lembrar e reviver esse tempo. O time era mais ao menos assim. Graia, (Tiú-goleiros), Tobias, Fernandinho, Nonoia, Zico Verdureiro, Silvinho, Lúcio Padeiro, Pipoca. e eu(Acir Melgaço) e outros que não me lembro. Abraços.

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