BD, a Mulher e as manifestações de rua: de 1968 até 2013

LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – Bom Despacho, a Mulher e as manifestações de rua: de 1968 até 2013Maria Celeste Morais, minha mãe, apresenta uma memória bastante curiosa: lembra-se sempre das manifestações estudantis em Bom Despacho, no ano de 1968. Mamãe é uma talentosa escritora que escreveu crônicas na imprensa bom-despachense, no passado, sob o elegante pseudônimo de Marcelle Siarom (curiosa montagem das letras de seu nome!). Nunca vi um artigo ou crônica sobre o assunto. Ela lembra-se de alguns fatos: o preço do Cine Regina aumentou. Isso detonou o protesto dos estudantes. Eles marcharam da escola até a praça e tiveram apoio do professor Geraldo Magela (o que é curioso, pois esse professor estava muito mais para Jânio Quadros, em termos de simpatia política, do que para Leonel Brizola. E foram cantando o hoje esquecido Hino do Estudante Brasileiro, celebrizada por Inezita Barroso:

Estudante do Brasil
Tua missão é a maior missão
Batalhar pela verdade
Impor a tua geração
Marchar, marchar para frente
Lutar incessantemente
A vida iluminar
Ideias avançar!
E assim tornar bem maior
Com todo amor varonil
A raça, o ouro, o esplendor
Do nosso imenso Brasil
Marchar, marchar para frente
Lutar incessantemente
A vida iluminar
Ideias avançar!
E assim tornar bem maior
Com todo amor varonil
A raça, o ouro, o esplendor
Do nosso imenso Brasil

Os desdobramentos de tal protesto não foram assim tão esplendorosos: diante da bilheteria, os estudantes faziam uma fila falsa, não compravam o ingresso e atrapalhavam a sessão. Houve vidros quebrados e pedradas. Logo a seguir, o cinema ficou um tempo fechado, como consequência dessa rebelião. Mamãe lembra-se de dois líderes: Zuca Lobato e Brasinha.

A minha geração, que veio depois da geração 68, viu as manifestações de 1992 contra Collor. Eu me lembro apenas de um carro de som com microfone ali na Praça da Inconfidência, cheio de petistas apenas, clamando porque o PMDB não tinha vindo. O hoje artista plástico e cineasta Pablo Lobato, filho do Zuca Lobato do PMDB, estava presente junto a mim e não achou nada bom. Isto posto, resolvemos deixar aquela manifestação. Posteriormente, havia uma moça bonita, de frente ao Gharife (que começou como restaurante árabe, servindo até kafta e que foi do meu tio Cláudio Morais) passando tinta verde e amarela no rosto dos jovens “carapintadas”.

Se 1968 me chegou como afetiva memória maternal, em 1992 participei marginalmente, 2013 vi apenas pela Internet e televisão. Aqui em Bom Despacho houve uma significativa manifestação, com umas 4.000 pessoas. Até hoje sou administrador de um grupo do facebook dessa época: Vem Pra Rua.

Um médico que tem parentesco com a família Cabral aqui na cidade, Giovano Ianotti, foi uma figura muito marcante nas manifestações em Belo Horizonte. Petista, ele ajudava manifestantes feridos ou que passavam mal com o gás. Ele deu socorro ao Douglas, rapaz que caiu do vão no viaduto José de Alencar e morreu. Ele mesmo não tinha visto a foto do momento em que ele dava socorro ao rapaz e, em seu depoimento no facebook, colocou apenas um desenho do momento dramático. O momento da queda, no entanto, foi registrado em foto pelo MEPR (Movimento Estudantil Popular Revolucionário, de linha maoísta) e eu tive a honra de postá-la para que o Dr. Ianotti visse a nobreza de seu gesto. Nobreza da qual estamos tão carentes em nosso tempo.

E, por falar em nobreza de gestos, homenageio, nesse mês da mulher, minha mãe, Maria Celeste Morais, escritora de mão cheia, leitora sempre atenta e politizada dessas minhas crônicas, que ela critica com ironia machadiana.

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