Vida eterna à música: Sara Mariana
LÚCIO EMÍLIO – Nesta coluna abro espaço para Sara Mariana, dezesseis anos, estudante do colégio Tiradentes, segundo ano do ensino médio, ilustrada por uma pintura de Gabriel Gaipo, artista e desenhista independente de Bom Despacho.
Sara Mariana é artista e musicista de Bom Despacho, presente mais uma vez no Estação do Rock, admirando e prestigiando a coragem dos músicos bom-despachenses de fazerem esse evento se concretizar, proporcionando um espaço para artistas independentes, resultando em um momento especial, motivacional e significativo para muitos artistas, que, assim como eu, sentem a arte como o maior meio de disseminar a autenticidade, a verdade, a coragem e o amor entre as pessoas, construindo pontes indestrutíveis no ramo musical.
Eu conheci Sara através de minha filha Isa. Sara narrou suas histórias: “iniciei meu processo de musicalização aos 7 anos de idade. Desde a minha infância a arte em si tem um papel fundamental na minha vida, inclusive no processo individual de autoconhecimento. Ela foi essencial para toda minha estrutura pessoal, eu acredito. Meu pai atualmente faz parte da banda de música do sétimo batalhão e é uma pessoa extremamente significante na minha trajetória, o maior incentivador de todo esse processo desde que me conheço por gente. O nome dele é Alexandre Delgado Araújo. Minha mãe se chama Adriana Cristina da Silva, ela é vendedora / empresária, dona da [loja] Adriana variedades. Transmite uma energia única e inspiradora, o que contribui pra essa sensibilidade marcante na minha vida.
Para planos futuros, desejo explorar significativamente o ramo artístico; seja em composições musicais, instrumentos, textos acadêmicos, poesia ou outras variações artísticas. Recentemente, comecei a expor tudo isso no meu portfólio feito pelo Behance (aplicativo digital que disponibiliza textos e portfólios), porque nunca havia exibido ou apresentado minhas criações em nenhum lugar.
CLIQUE AQUI para ver o conteúdo de Sara Mariana no Behance
A minha relação com a banda Devise iniciou-se por meio das redes sociais, mas depois de um tempo concretizou-se a partir do festival Estação do Rock, onde me apresentei com eles pela primeira vez. Antes disso, já seguia a banda e apoiava em todo conteúdo. Ela sempre serviu de inspiração por serem conterrâneos. Com o Luís Couto, em especial, criei um laço. Ele é extremamente inteligente e inspirador, é raro encontrar pessoas que transmitem tamanha confiança e otimismo.”
Sara também escreve textos sobre música. Segue um dos textos dela, sobre a música War Pigs, da banda Black Sabbath:
War Pigs, da banda Black Sabbath, contém crítica social e geopolítica atemporal
Na arte elaborada por Gabriel Gaipo retrata-se a obra “War Pigs”, uma das músicas mais importantes do metal, e a primeira canção do disco Paranoid, lançada em 1970, de Black Sabbath, banda britânica que definiu e revolucionou o Heavy Metal significativamente.
Porcos de Guerra contém uma crítica social e geopolítica atemporal, que lamentavelmente continua presente, intacta e contextualizada no mundo em que vivemos atualmente, onde o capital e o poder se sobressaem entre a índole e as virtudes dos seres humanos, afetando diretamente a vida de milhares de pessoas vítimas dessa ganância.
Walpurgis: as raízes da inspiração de “War Pigs” foi o título original da música, uma referência com o sabbat das bruxas. “Walpurgis é como o Natal para os satanistas. E, para mim, a guerra era o grande Satanás”, disse o baixista e letrista Geezer Butler, que também acrescentou: “Não era sobre política, governo ou qualquer coisa. Era [sobre] o mal. Então eu estava dizendo ‘generais reunidos nas massas / assim como bruxas em missas negras’ para fazer uma analogia. Mas quando trouxemos para a gravadora, pensaram que “Walpurgis” parecia muito satânico. E foi quando nós o transformamos em ‘War Pigs’. Mas não mudamos as letras, porque elas já estavam finalizadas.”
Black Sabbath incorporava histórias de terror em suas letras, compunha canções que tratavam e abordavam temas relacionados a instabilidade social, corrupção política, os perigos do abuso de drogas e profecias apocalípticas resultantes de guerras. Uma contribuição gigantesca para o Heavy Metal, formulando e definindo um gênero musical de enorme importância e contribuição para a música/arte de protesto, tanto no exterior, como aqui, no Brasil.
Com uma introdução obscura, extraordinária e extremamente admirável, com diversos sons de guerra e sirene, nos fazendo acreditar e passando a impressão de que estamos realmente em um campo de batalha, sentindo na pele as sensações de um clima tenso e sombrio que é viver um conflito que envolve vidas, a música, no decorrer dos seus quase 8 minutos de duração, retrata uma letra com a moral cristã, relacionada aos pecados cometidos pelos generais, políticos e demais responsáveis públicos causadores e promovedores das guerras, ressaltando a ideia de que um dia eles pagariam pelo mal e a dor que semeiam e disseminam constantemente.
A música, com toda a sua riquíssima crítica e complexidade, também faz analogia a clássica obra “A Revolução dos Bichos”, do autor inglês George Orwell. O livro apresenta uma interpretação sobre como o dinheiro e o poder corrompem o ser humano, apresentando a moralidade e o totalitarismo como suas principais características. “Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível.” – Andrzej Sapkowski. (Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor / Fotos: Arquivo Sara Mariana).