Como seria minha vida sem Bom Despacho

ALEXANDRE MAGALHÃES – Já contei neste espaço a história de um filme francês chamado “Smoking – Non-Smoking”, filme de 1993 do gênio francês do cinema, o Alan Resnais. Neste filme, uma mulher sai de sua casa para ir ao centro da cidade e quando está no portão, lembra-se que esqueceu seu maço de cigarros. Ela volta para buscá-lo e quando sai de casa encontra um jardineiro que oferece seus serviços para limpar seu jardim. Eles apaixonam-se e casam-se. O filme volta para a cena inicial e a personagem, desta vez, não volta para buscar seus cigarros, preferindo comprar um novo maço no centro da cidade. Nesta sequência, ela não casa com o jardineiro, pois não o encontra, é atropelada e morre a caminho do centro da cidade. 

O filme volta sempre a um entroncamento importante e mostra decisões importantes da protagonista, que a cada decisão diferente, muda seu destino. No filme do Alan Resnais, ao final temos histórias completamente diferentes, pois decisões diferentes levam a mudanças importantes em nossa vida. Vale a pena tentar encontrar esse filme e assisti-lo. É mais do que um filme, é uma aula de como a vida funciona.

Como conheci Bom Despacho

Há seis anos, em 2017, combinei de levar minha filha para ver baleias em Abrolhos, no litoral baiano. As baleias jubarte vão todos os anos para o litoral nordeste do Brasil, um ano para cruzar e no ano seguinte, para dar luz a luz seus filhotes. 

Marquei de ir em julho, período de férias escolares, já que Isabella tinha na época onze anos. Não consegui ir, pois apareceu uma viagem de negócio de minha empresa. Fomos em outubro, fora do período de férias e em uma semana pós provas dela em sua escola. No dia em que estava voltando a São Paulo, conheci minha futura namorada bom-despachense, que também estava na Bahia para ver baleias, também fora do período de férias escolares, acompanhada de sua filha, com uns treze anos à época.

Se minha viagem tivesse “dado certo” em julho, jamais conheceria minha futura namorada e, provavelmente, jamais teria ouvido falar em Bom Despacho/MG, não escreveria para o Jornal de Negócios, teria outra companheira de vida, estaria fazendo outras coisas na vida.

Isso não é incrível?

Como virei colunista do Jornal de Negócios

Um dia, vendo que meu sogro escrevia e distribuía o Jornal de Negócios pelos comércios da cidade, comentei com minha namorada bom-despachense que eu havia sido colunista de alguns jornais de bairro em São Paulo, para uns escrevendo sobre Cinema, para outro escrevendo sobre Teatro, para outro escrevendo sobre a vida em geral. Acrescentei que achava que poderia escrever para o Jornal de Negócios uma coluna sobre as diferenças de viver em Bom Despacho e em São Paulo. 

Minha namorada bom-despachense poderia simplesmente ter ignorado meu comentário, mas decidiu levar adiante meu comentário. E, por causa desta decisão dela, estou aqui escrevendo minha coluna.

Decisões sobre o que escrever

Um dia, há alguns anos, decidi escrever sobre um show de música, meu primeiro show, em São Paulo. Não me lembro por que escrevi sobre este show e não sobre outro tema qualquer. 

A partir desse show, virei fã do maior músico brasileiro vivo e, talvez, de todos os tempos: Hermeto Pascoal. 

O show durou muitas horas, começando no sábado às 21:00 horas, no Teatro Tuca – Teatro da Universidade Católica, a PUC, e terminando umas 7:00 horas da manhã de domingo. Eu tinha treze anos nesta oportunidade.

O show me fez conhecer o Hermeto Pascoal, me fez passar a ir a todos os shows dele. O último que participei foi o de comemoração de seus oitenta e um anos, pouco antes da pandemia. Este ano, tentei ir a um show dele, mas não havia mais ingressos para vender. Pena!

Do Jornal de Negócios para o mundo

Um biógrafo, um escritor, que estava escrevendo a biografia do Hermeto Pascoal, estava há meses procurando alguém que tinha visto este show histórico no Tuca e não encontrava. Desesperado, começou a buscar no Google referências a esse show. Encontrou meu texto no Jornal de Negócios, entrou em contato com o jornal, que me avisou e pediu autorização para passar meu número de celular para o autor, o Vitor Nuzzi. 

O sujeito me ligou, conversamos várias vezes, sobre esse show do Tuca, sobre outros espetáculos que estive presente, alguns que o Nuzzi nem sabia que havia acontecido.

Se eu tivesse escrito sobre outro tema, o Nuzzi nunca me teria encontrado e, segundo ele, a biografia talvez não tivesse sido escrita.

Por que estou contando esta longa história para o raro leitor e a rara leitora? Dias atrás recebi uma ligação do Vitor Nuzzi me dizendo que o livro será lançado nas próximas semanas. 

Raro leitor e rara leitora, meu maior ídolo musical, o Hermeto Pascoal, vai ter sua biografia lançada nas próximas semanas pelo Vitor Nuzzi, e minha contribuição só aconteceu porque tive uma reunião inesperada em julho de 2017, tive de mudar a data da viagem com minha filha para outubro e, por causa disso, conheci minha companheira de vida, uma bom-despachense, que resolveu me sugerir para escrever ao Jornal de Negócios, que por acaso do destino, resolvi escrever uma coluna sobre um show que vi quando eu tinha 13 anos de idade. Por causa disso, Vitor Nuzzi me encontra e eu colaboro com uma obra que não vejo a hora de ler, a biografia de meu maior ídolo musical.

A vida é um eterno “Smoking – Non-Smoking”.

Obrigado, Bom Despacho! Obrigado, minha namorada bom-despachense! Obrigado, Jornal de Negócios! Graças a vocês, devolvi um mísero pedaço de tudo aquilo que o Hermeto Pascoal me proporcionou de alegria na vida!

(Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por BD e SP)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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