Pablo Lobato transforma emoções em trabalho
O bom-despachense Pablo Lobato é hoje um artista plástico de renome. Tem obras expostas em galerias de São Paulo e Paris, bem como trabalhos apresentados no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte do Rio e no MoMA em Nova York.
Nós últimos dias venho me inquietando mais que o normal com a lógica que, em regra, escolhemos para viver. Guiados pelo medo, nos cercamos de concertinas, excessos de comida, carros de luxo, armas de fogo, muros altos e outros artefatos, buscando, de uma forma insana, nos sentir melhores, mais estáveis e mais seguros que os outros. Ansiando aplacar nossa insegurança, seguimos tentando controlar a vida.
Quando pensei em conversar com o Pablo e saber sobre quem ele tinha se tornado e o trabalho que estava realizando, pensei que me emocionaria. Afinal, ele é um ser que vi crescer, amigo dos meus irmãos e filho de Bom Despacho.
No entanto, tirar algumas horas do meu dia pra essa troca foi mais que uma grata surpresa. Deparei-me com inúmeras respostas e aprendi, imensamente, com o menino que saiu de Bom Despacho para estudar Comunicação e Arte Social na PUC, rompeu sistemas, inovou a forma de ver o óbvio e ganhou o mundo.
Nascido em Bom Despacho, em 28/08/1976, filho de Maria Angélica Cardoso Lobato e Aelson José Zuca Lobato, irmão de Gisella, Mariana, Flávia e Aelson, Pablo é hoje o companheiro de Julia Panadés, com quem tem uma filha de 17 anos, Ana Panadés Lobato.
Carlos Pablo Cardoso Lobato teve sua formação inicial por aqui. Estudou no Coronel Praxedes e no Miguel Gontijo. Após, na PUC-BH, para, então, especializar-se em Cinema e Fotografia na Escola Guignard. Hoje é um artista plástico de renome. Tem suas obras expostas em galerias de São Paulo e Paris, bem como trabalhos apresentados em mostras individuais e coletivas em instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museu de Arte do Rio e o MoMA em Nova York. É um dos criadores da Teia – Centro de Pesquisa e Produção Audiovisual, em Belo Horizonte. Antes de atuar nas artes plásticas, produziu filmes, dentre eles os longas-metragens “Ventos de Valls” e “Acidente”.
Pablo não se delimita. Ele ama a arte e vive dela, em qualquer forma que se expresse.
Não constrói seu trabalho a partir de algo pré-definido. Tem interesse pelas sensações, pelas construções, pelo processo do que se propõe a realizar. Ele quer cheirar, sentir, perceber, compreender.
Na minha leitura, ele é o avesso da concertina, que tanto me apavora. Ele quer tocar, conhecer, relacionar, experienciar para, assim, alimentado do que experienciou, realizar sua obra. Segundo ele o trabalho dá-se através de uma inter-relação com os fenômenos, matérias, situações e pessoas que o cercam.
Dentre as muitas narrativas de suas experiências, contou-me, com mais ênfase, sobre dois convites que recebeu: um para participar da Bienal em Jerusalém e o outro para fazer uma residência em Seul, na Coreia do Sul. Nas duas ocasiões esperavam dele um pré-projeto. Ele não tinha nada pré-fabricado a oferecer.
Mesmo receoso de estar apresentando a resposta indevida a convites tão ilustres, escolheu ser quem era. Ante as ofertas apresentadas, esclareceu que seu trabalho é construído através da atuação no mundo, de forma menos impositiva e mais sensível à escuta. Era preciso construir. Eles acolheram a proposta e Pablo teve a grata oportunidade de experienciar e realizar coisas muito especiais através desses convites.
Nosso cineasta bom-despachense era um pouco da resposta que eu passei a semana buscando e ansiando ver esclarecida. Um ser provido de medos, incertezas e inseguranças, como qualquer um de nós, mas disposto a abrir mão de controlar a vida e as circunstâncias para experimentar situações, gostos, cheiros, emoções e transformar suas sensações em trabalho.
Ele, indubitavelmente, não sobreviveria a uma concertina ou talvez produzisse um tratado sobre ela.
Dias atrás estreou nos cinemas de Belo Horizonte com o documentário “Dos 3 aos 3”, projeto baseado na observação do desenvolvimento humano, onde a amiga Bianca Bethonico o convidou a olhar, acompanhar e gravar o filho Ravi em crescimento. Bianca é pedagoga e estudiosa da Abordagem Pikler. Quanto ao teor do trabalho e às nuances do documentário terei que descrevê-los em uma outra edição. Fiquei tão emocionada com a narrativa e os desdobramentos do projeto, que dez páginas seriam pouco para encaixar a minha narrativa.