Entrevista exclusiva com o Papai Noel

 

ALEXANDRE MAGALHÃES – Neste Natal resolvi fazer uma coisa diferente: fui entrevistar Papai Noel em pessoa. Saber o que pensa e como vive o bom velhinho. Papai Noel abriu o coração e falou do seu trabalho, das mudanças ocorridas, da sua relação com Mamãe Noel e os duendes. Mas garante: o espírito natalino não mudou. “Nós continuamos acreditando em um mundo cheio de paz, de amor, de tolerância, de respeito dos mais jovens com os mais velhos e com os outros jovens, no amor entre todos”.
Na entrevista, Papai Noel revelou também que visita Bom Despacho regularmente. “Claro, vou disfarçado para não me reconhecerem. Odeio essa coisa de ficarem tirando selfie comigo. Quando vou a Bom Despacho, apareço como gente humilde e boa de coração”, contou. Veja na entrevista a seguir.
Papai Noel, como é ser a pessoa mais aguardada da noite de Natal?

Papai Noel: As crianças só pensam em mim na noite de Natal, mas meu trabalho começa muito antes. Acompanho a vida das crianças, vejo se elas estão sendo boazinhas, se estão sendo carinhosas com seus pais, avós e amigos. Confiro se estão tratando bem os animais domésticos e os da natureza. Enfim, trabalho contínuo o ano inteiro.
Se pudesse me comparar, sou uma espécie de carnavalesco, que trabalha o ano inteiro em silêncio e só aparece umas poucas horas para as pessoas.

É possível comparar sua vida no passado e agora?

Papai Noel: Minha vida é hoje muito diferente. No passado, quando não havia celular, computador, mídia sociai etc, eu levava uma vida calma e tranquila. Hoje, as crianças pesquisam seus presentes na Internet, sabem tudo sobre tudo, odeiam escrever cartinhas para mim. Quando mandam uma mensagem de WhatsApp escrevem tudo abreviado e eu quase não entendo o que estão dizendo. Elas me chamam de “mano”, “tio”, “véio” e mais um monte de gírias, com as quais eu não estou acostumado.

E como mudou a relação com a Mamãe Noel?

Papai Noel: Mudou muito. Há algumas décadas, as mulheres eram subalternas dos homens e não tinham voz ativa na sociedade. Nessa época, eu sozinho decidia tudo, qual presente para cada criança e escolhia quais crianças receberiam ou não seus presentes. A Mamãe Noel apenas respondia “como achar melhor, meu bem”. Hoje, não é mais assim. Ela é parte importante disso tudo. Ela decide tanto quanto eu, sobre os presentes, sobre as crianças merecerem ou não, opina sobre os duendes que devem trabalhar na fábrica, fala sobre tudo. É formada em Engenharia de Produção, tem CPF próprio, administra sua vida financeira, ou seja, nada mais a ver com uma senhorinha que ficava só cozinhando para o Papai Noel. Aliás, ela nem sabe mais cozinhar. Quase sempre saímos para jantar em restaurantes ou, quando o tempo está muito frio, pedimos uma comida gostosa em alguma empresa de delivery.

Puxa, que mudança…

Papai Noel: Sim, mas as mudanças foram frutos das lutas das mulheres contra o machismo que dominava e, infelizmente, ainda domina nossa sociedade. Hoje, minha relação com a Mamãe Noel é muito mais interessante, gostosa e cheia de vida. Somos seres independentes e que nos respeitamos em nossas individualidades…

É verdade que a Mamãe Noel foi a responsável pela mudança de atitude sobre as renas?

Papai Noel: Sim, é verdade. As renas, apesar de poderem voar, são animais selvagens da região do Polo Norte. Não era muito justo explorá-las, como fazíamos antes. Da mesma forma que o trabalho de animais nas fazendas vai sendo substituído por tratores e máquinas, o trabalho das renas vai mudando. Hoje, as renas não fazem mais trabalhos pesados e são mais usadas como símbolo do Natal e do Papai Noel. No máximo, posam para umas fotos. Carregar o trenó cheio de presentes é parte da magia do Papai Noel e não mais trabalho animal intenso. As renas estão muito mais felizes e nós, eu e Mamãe Noel, também.

E os duendes, continuam firmes e fortes como ajudantes do senhor?

Papai Noel: Tudo mudou também. Antes, até por falta de consciência minha, usávamos os duendes praticamente como escravos, sem pagamento de salário, sem férias, sem direito a uma vida gostosa. Na mesma época que Mamãe Noel se emancipou, ela me alertou sobre a necessidade de mudarmos nossa relação com os duendes. E mudamos! Hoje, os duendes trabalham menos horas por dia, trabalham com alegria e recebem tudo a que tem direito. Nada de exploração mais!
E você sabe que só os duendes homens tinham trabalho, enquanto as duendas não podiam trabalhar para fazer os presentes? Agora, temos um plano para ter 50% de duendes e 50% de duendas na fábrica. E elas são excelentes para cuidar dos brinquedos, são mais atenciosas, carinhosas, detalhistas. Hoje, temos muito menos erros nos presentes do que quando tínhamos somente os duendes trabalhando. Foi uma maravilha reconhecer as duendas como opção de trabalho.
E alguns duendes e duendas criaram suas próprias fábricas, empreenderam, e hoje preparam uma parte importante dos presentes. Isso foi bom para mim e para Mamãe Noel, pois nos deixa mais tempo livre para curtirmos a vida, e também foi ótimo para os duendes e duendas, que fazem presentes diferentes dos que fazemos, incluindo novas magias natalinas aos presentes. Todos saímos ganhando.
Percebemos que diversidade é boa para os presentes, pois novos itens são acrescentados à lista de presentes e, para os próximos Natais, vamos radicalizar: contrataremos duendes e duendas afrodescendentes, asiáticos e de outras partes do mundo, além de prestarmos atenção em questões como igualdade de gênero, orientação sexual dos duendes e duendas. Em outras palavras, somos mais inclusivos e com isso melhoramos nossos presentes, que podem atender a todos, com muito mais carinho e delicadeza na fabricação dos presentes.

E o espírito natalino, mudou?

Papai Noel: De maneira alguma. Todas as mudanças que mencionei apenas adequam o mundo mágico do Papai e da Mamãe Noel para os dias atuais. Nós continuamos acreditando em um mundo cheio de paz, de amor, de tolerância, de respeito dos mais jovens com os mais velhos e com os outros jovens, no amor entre todos. Queremos cada vez mais um mundo de paz, amor e respeito. E, se pensarmos bem, para termos isso, é necessário um mundo muito mais igual, mais inclusivo e de respeito aos seres humanos, aos animais, aos diferentes etc. Meu sonho e da Mamãe Noel é atendermos aos pedidos de todas as crianças. Não achamos justo haver alguém que não receba um presente, pelo menos no Natal. Um dia, vamos conseguir fazer esta magia natalina.

E para Bom Despacho, alguma surpresa de Natal?

Papai Noel: Bom Despacho é uma terra maravilhosa. Estou sempre visitando aquele lugar. Claro, vou disfarçado para não me reconhecerem. Odeio essa coisa de ficarem tirando selfie comigo. Sou das antigas. Quando vou a Bom Despacho, apareço como gente humilde e boa de coração. Algumas vezes, vou como Claudio, ando pelas ruas descalço, no meio da rua, como tendo um problema de visão que me impede de ver as coisas. Outras vezes, vou como Tarcísio, me passo por um atendente de caixa de lanchonete, sempre simpático e com um sorriso lindo no rosto. Outras vezes, saio catando lixo reciclável pelas ruas, sem nome conhecido e sou ignorado por muita gente. Outras vezes, apareço de agente do Bicho Amigo e resgato animais maltratados, que precisam de ajuda e faço um esforço para arrumar um lar para os bichanos. Às vezes vou disfarçado de vender de leite ou verdura, carregando pesadas carroças pelas ruas e me chamo Tõe ou Joãozinho. Mas, já apareci lá como motorista de lotação, agente dos postos de saúde, atendente de loja, varredor de rua, alguém que faz trabalho voluntário para salvar a Mata do Batalhão ou alguma escola rural que precisa de auxílio, outras vezes apareço como uma pessoa humilde com poucos recursos para viver. Papai e Mamãe Noel estão sempre em Bom Despacho! Só não nos vê quem não quer.
Bom Natal a todos! Em qualquer país, no Brasil, em qualquer estado, em qualquer cidade, especialmente para minha querida Bom Despacho! (Portal iBOM / Imagem ilustrativa)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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