Como nasceu Minas Gerais
Há alguns anos li três livros do Laurentino Gomes, um jornalista e não um historiador. Por ser alguém que está acostumado a escrever para leigos, Laurentino traz em seus textos uma linguagem muito fácil de entender. Os livros mencionados foram 1808, 1822 e 1889. O primeiro narrava a mudança da família real portuguesa para o Brasil, fugindo de Napoleão Bonaparte. O segundo, o 1822, foca na declaração da independência do Brasil, ato feito pelo próprio filho do rei, o que já é meio estranho. Finalmente, o terceiro livro, o 1889, mostra os bastidores da passagem do império para a república.
Por ter sido agradável a leitura daqueles três livros, comprei a nova trilogia do mesmo autor: Escravidão. O primeiro destes livros narra desde a entrada de Portugal no tráfico dos escravos, em 1444, até a morte e destruição do Quilombo de Palmares, em 1695.
O segundo livro da trilogia, que é o objeto de meu comentário nesta coluna, narra a descoberta das minas de ouro e diamantes, especialmente no território que viria a ser conhecido como Minas Gerais, este estado que aprendi a gostar e respeitar e, agora, conhecer um pouco mais a história.
O que eu não tinha ideia, provavelmente por erro meu quando estudei a história do Brasil ainda na escola primária, era da velocidade com que Minas foi invadida e explorada.
Laurentino Gomes narra o deslocamento enorme de populações do litoral para o interior do país, ainda não um país constituído claramente. Até o começo dos anos 1700, a única cidade fora do litoral era São Paulo. Era muito difícil andar pelo interior do país. Mas, a descoberta de muito ouro e diamantes atraí gente de todos os locais, brancos portugueses, negros escravos ou livres, pessoas interessadas em tentar achar ouro e comerciantes que querem vender alimentos para os milhares de novos moradores da região. A corrida para explorar o território do futuro Estado de Minas Gerais é tão grande, que Portugal proíbe sua população de pegar um barco lá na Europa para vir tentar a vida aqui no Brasil, pois o movimento ameaçava acabar com grande parte da população da sede do Império.
O aumento da população na região de Minas Gerais e a falta de comida para tanta gente causa uma inflação local. A diferença entre o preço da comida em Minas Gerais e nos outros lugares brasileiros chega a centenas de vezes.
Laurentino traz os preços praticados em Minas Gerais em 1703, quando o problema do excesso de gente e falta de comida já era visível, para os dias de hoje.
Eu fiquei estarrecido com essa informação: uma galinha era vendida em 1703 pelo equivalente a US$ 800.00 (para que não haja erro no entendimento, repito: oitocentos dólares por uma galinha), uma vaca valia em dinheiro de hoje a US$ 17,000 ou quase R$ 100.000,00. Um queijo mineiro valia US$ 830 ou R$ 4.500,00 de hoje.
Esses preços explicam o porquê houve tanta fome e mortes por falta de alimentos e porque criou-se um comércio regular de venda de animais de grande porte, como bois, entre locais longínquos, como o Rio Grande do Sul, e Minas Gerais.
Havia tanta gente migrando para o atual estado de Minas Gerais, que a coroa portuguesa não consegue controlar a criminalidade e o roubo do ouro. Laurentino narra que havia assalto e assassinatos aos montes, nas ruas à luz do sol, pois não havia como prender os criminosos.
Vale a pena ler a trilogia, e mais ainda o livro II, para entender como surge Minas Gerais. O livro II da trilogia pode ser lido separadamente, já que Laurentino, por ser jornalista e não historiador, permite leituras independentes entre os capítulos e os volumes.
Fica a dica!
Monocultura em Bom Despacho?
Apesar de estar em São Paulo desde o final de julho, para dar aulas presencias na universidade, mantenho contato com algumas pessoas de Bom Despacho. Com algumas delas, meus contatos são bem constantes.
Nas últimas semanas, algumas pessoas que não têm relação entre si, fizeram comentários na mesma direção, o que me levou a crer que o fenômeno relatado a mim é de grandes proporções: o desmatamento em grande escala e a entrada de uma empresa para transformar Bom Despacho em um território de monocultura.
Os relatos falam de fazendas que acabaram com grandes áreas de mata e preparam o plantio de extensões enormes de um mesmo produto.
Fiquei triste com a notícia, pois algumas destas áreas são minhas conhecidas, pois corro pelas estradas de terra que cortam estas fazendas. Mais triste ainda, pois conheço como funcionam estas grandes empresas que alugam fazendas para a monocultura: exploram a terra até o limite, acabam com o solo e depois a abandonam e partem em busca de outras paragens com áreas ainda fértil para explorar. Mudam a paisagem, acabam com a qualidade da terra e somem tão ilesas quanto chegaram. E mais ricas!
Entendo que o dono da terra vê o dinheiro oferecido pela empresa e sente-se atraído pela receita fixa que entrará em sua conta corrente. Mas, socialmente, para a sociedade como um todo, o resultado esperado é bem ruim.
Espero que meus amigos bom-despachenses estejam errados e exagerando o tamanho dos estragos causados pela monocultura que se avizinha. Em breve, voltarei a Bom Despacho e poderei ver com meus próprios olhos os danos. Espero que meus amigos estejam exagerando…
Meu pai e Minas Gerais
Meu falecido pai faria 90 anos no último dia 26 de agosto.
Como tenho uma relação muito próxima de Minas Gerais agora, meu interesse pelo estado tem crescido muito nos últimos anos. Quando estávamos rememorando meu pai na última sexta-feira, por causa da efeméride de seu aniversário, perguntei a minha mãe se o velho Celestino conhecia Minas Gerais. “Acho que não…”, deu uma risadinha e complementou: “Passamos nossa lua de mel em Poços de Caldas, que em São Paulo todos chamavam de “cemitério das virgens””.
Posso dizer que meu pai conheceu Minas Gerais e guardou boas lembranças do Estado.
Minha filha e Bom Despacho
Se meu pai não teve a chance de ir a Bom Despacho, minha filha não só conhece a cidade, como a adora.
Na última quinta-feira jantei com ela, que me fez um pedido: “pai, quando eu estiver de férias, você me leva para passar um mês em Bom Despacho? Quero correr na Matinha (agora ela começou a fazer exercícios físicos), nadar no Lambari e rever meus amigos bom-despachenses”. Promessa feita, logo ela visitará novamente a cidade.
Neste ponto, minha filha teve mais sorte do que meu pai: conheceu Bom Despacho.
Expectativa para o começo de outubro
No começo de outubro terei um dos grandes momentos de minha vida recente. E não estou falando de votar na eleição…
Irei a Belo Horizonte para ver um show de Chico Buarque. Não será meu primeiro show do mestre, mas talvez seja um dos últimos, já que tanto Chico, quanto eu, estamos com mais passado do que futuro… Não quero perder esta oportunidade por nada. Ingresso comprado e planejamento para a viagem concluído.
Minas Gerais tem grandes histórias, muita coisa boa, incluindo a chance de estar com minha namorada em um show do grande poeta da MPB. Coração já está batendo forte…