Andar com fé é um traço típico em nossa cidade

PAULO HENRIQUE ALVES ARAÚJO – Bom Despacho celebrou no 8 de dezembro o Dia da Imaculada Conceição, feriado municipal aqui e em algumas outras cidades da região. Sempre me impressionou a quantidade de datas e celebrações religiosas em Bom Despacho, e o fervor e envolvimento das pessoas nesses eventos. Nos últimos 30 anos, a população bom-despachense cresceu e diversificou sua fé, observando o surgimento de comunidades de algumas outras religiões. Mas mantivemos sempre uma forte conexão com a vida espiritual.

O 8 de Dezembro era uma data que sempre chegava carregada de expectativa na minha infância, porque marcava a caminhada anual que meu pai fazia a Conceição do Pará, em companhia de outros tantos amigos católicos. Eram duas noites de caminhada, a primeira de Bom Despacho a Leandro Ferreira, com um repouso durante o dia seguinte em pensão local. Na segunda noite, faziam a caminhada de Leandro a Conceição do Pará, onde participavam de missa em homenagem à Imaculada Conceição, e depois retornavam de carro a Bom Despacho. Lembro-me de algumas vezes irmos buscá-lo de carro em Conceição e de, em outras, ele retornar em van fretada junto com os demais amigos e companheiros de fé.

O fato é que sempre me impressionou a fé daqueles homens de se disporem anualmente a caminhar cerca de 30 km na primeira noite e 20 km na segunda. E voltarem todos exultantes, apesar de cansados, celebrando sua fé e sua amizade. Num daqueles anos, eu e meu irmão, bem jovens, nos prontificamos a irmos juntos na caminhada até Leandro Ferreira. Coitados dos novinhos… Chegamos a Leandro Ferreira exaustos. Lembro-me de mal sentir as pernas de tanta dor. Sentei-me num meio-fio lá e tinha a impressão de não ser possível de lá me levantar. E via meu pai e os amigos tranquilos de pé e rindo da “fraqueza” daqueles “meninos”.

Mas voltando à nossa Bom Despacho de hoje, vimos surgir e/ou crescer várias outras crenças religiosas. O que, a princípio, era visto com resistência e muito preconceito, atingiu um nível importante e saudável de respeito. As famílias bom-despachenses passaram a ver a migração de novas gerações para outras religiões, seja por se identificarem melhor com suas práticas, seja pela união com filhos de famílias de outras crenças. Já nas nossas origens, temos um exemplo fantástico de sincretismo religioso na festa do Reinado, que traz para a festa de Nossa Senhora do Rosário componentes de religiões de origem africana, o que acontece de forma harmoniosa há décadas na nossa cidade e região.

A crença na dimensão espiritual, numa força divina ou em entidades superiores que nos apoiam em nossa vida material continua predominante na sociedade bom-despachense. Ainda que os ritos e as crenças nos afastem em vários pontos, continuamos convergindo ao crermos que somos mais do que a matéria e a razão que predominam na ciência. E digo predomina porque mesmo cientistas céticos admitem que a ciência é manca sem essa dimensão divina ou espiritual. Sei que há divergências em alguns pontos de contato aqui em Bom Despacho, mas prefiro ficar com nossas convergências e fazer o que estiver ao meu alcance para frutificá-las.

Acredito que isso nos torna uma cidade mais humana, mais acolhedora e mais fraterna. Na minha história recente em Bom Despacho, tive experiências fantásticas com batistas, umbandistas, kardecistas e católicos. O bem como propósito, e a compreensão da incompletude humana sem a dimensão espiritual, nos aproximam e nos conectam.

Com a minha fé católica, peço a Deus e a Nossa Senhora da Imaculada Conceição que abençoem a você e sua família, te abram os melhores caminhos e conservem sua fé! E que nossa convivência seja cada dia mais respeitosa e fraterna!

“Andá com fé eu vou, que a fé não costuma faiá!”

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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