Eleição é dia de paz

FERNANDO CABRAL – Este ano a eleição no Brasil tem visto uma violência exacerbada. Os ataques morais sobem às dezenas de milhares; os ataques físicos sobem a centenas, as mortes sobem a dezenas. São tempos tenebrosos estes em que pessoas não podem livremente expressar suas opiniões, debater suas divergências e mostrar opções sem correr o risco de sofrerem linchamento moral, agressão ou morte. No entanto, a eleição periódica mediante a qual o povo escolhe seus representantes para governar por um período determinado é o próprio coroamento da democracia. É a sua essência. Por isto mesmo, deveria ser o momento de maior civismo e civilidade. Talvez venha a ser dia, quando as pessoas tiverem entendido que todo progresso decorre da discordância e da insatisfação corretamente dirigidas. Mas, para isto, temos que evoluir muito no quesito educação. Educação no sentido de letramento, mas também no sentido de que somos iguais e que cada um de nós tem direito a uma parcela das riquezas do planeta, dos conhecimentos que nos abrem a mente e do sol que nos ilumina a todos.

Na manhã deste 15 de novembro, mal amanhecido o dia, os brasileiros começaram a cumprir o mais sagrado de todos os direitos de cidadão: escolher seus concidadãos que vão representá-lo pelos próximos quatro anos no executivo e no legislativo do município. A tarefa nem sempre é fácil. Algumas vezes titubeamos entre o velho e o novo; entre o conhecido e o desconhecido; entre o que aparece bem e o que não aparece tão bem.

Mas a campanha eleitoral serve exatamente para nos dar os subsídios necessários para que possamos fazer uma decisão racional. Ou deveria servir para isto. Ela deveria oferecer uma oportunidade para que o eleitor ou eleitora conhecesse um pouco mais sobre o caráter, as habilidades, os conhecimentos e a experiência de cada candidato. Mais importante ainda: ela deveria oferecer uma oportunidade para que o eleitor ou eleitora conhecesse os planos de governo e as propostas dos candidatos.

Infelizmente, não é o que costumamos ver.

Num cálculo pouco científico, mas de valor simbólico, 90% ou mais do tempo de campanha é gasto em agressões cruzadas e na desconstrução do outro. Nesta batalha de destruição mútua, razão e verdade são as primeiras e maiores vítimas. Se o adversário não tiver pontos fracos, eles são criados. Se o adversário tiver o menor dos defeitos humanos, eles são ampliados e atacados como se fossem máculas imperdoáveis. Mesmo que não exista nenhum defeito de nota, algumas falhas graves serão criadas e impingidas por fofocas sorrateiras ou pela força bruta da repetição. Mas, se tudo isto falhar, os ataques poderão ir além do candidato e alcançar membros da família. Ninguém está fora do alcance do linchamento moral neste jogo de vale tudo que se tornou a campanha eleitoral. Ruim para o eleitor, ruim para a democracia.

Nas campanhas eleitorais que o Brasil tem vivido, as mentiras e as ofensas têm sido as maiores moedas de troca.

Este jogo destrutivo no campo das palavras é antidemocrático e deletério. No entanto, ele fica pior quando a agressão é física, como tem acontecido com tanta frequência.

As partes que se digladiam se esquecem de regras básicas do convívio e da necessidade de perdoar. Onde impera a lei do talião, a lei do olho por olho, dente por dente, todos acabam cegos e banguelas. Ninguém sobrevive ileso.

Parece que muita gente se esquece que a campanha eleitoral dura menos de dois meses, mas o convívio com nossos concidadãos dura a vida inteira. A vida, a amizade, e o companheirismo são mais importantes do que a vitória numa discussão e até mesmo do que a vitória nas urnas.

Neste domingo, dia 15, celebremos a democracia. Façamos nossa escolha com a firme convicção de que estamos escolhendo o melhor para nossa cidade, para todos e para nós mesmos. Agora e sempre, respeitemos democraticamente aqueles que pensam diferente de nós.

Nossas urnas são seguras

Toda eleição é o mesmo ramerrão: algumas pessoas que não entendem nada de tecnologia aparecem por aí questionando a segurança das nossas urnas eletrônicas. Este questionamento tomou tal virulência que o atraso está vencendo a batalha contra a modernidade, a eficiência, a segurança: estamos sob o risco de termos no futuro breve urnas que imprimem o voto. Esta é uma ideia maluca, para dizer o mínimo.

Assim, com a chegada da eleição daqui a três dias, temos uma boa ocasião de falarmos novamente sobre segurança de urna. Mas antes, vamos lembrar o que você já aceita que é suficientemente seguro.

Se você usar um cartão de crédito você depende todo o tempo da segurança de computadores e suas redes. Redes, entre as quais, a mais conhecida e a mais vulnerável, que é a Internet.

Se você tem um cartão para sacar dinheiro em caixas de banco, você também depende da segurança de computadores e suas redes.

Se você tem dinheiro no banco, você depende da segurança dos computadores e suas redes.

Se você faz qualquer encomenda ou compra pela Internet, você depende da segurança dos computadores e suas redes.

A urna eletrônica é infinitamente mais segura do que qualquer destes sistemas. Então, por que confiamos neles, mas aceitamos alegações infundadas daqueles que levantam suspeitas sobre as urnas eletrônicas?

As urnas eletrônicas são computadores. Elas têm as mesmas características essenciais que eles têm. Ela tem processador central, memória RAM, memória ROM, meio de armazenamento removível de grandes volumes, unidades de entrada e saída. Elas são, em tudo por tudo, computadores. Mas, do ponto de vista da segurança, têm duas vantagens sobre os computadores comuns usados em bancos e tantos outros lugares: são computadores especializados e não estão ligados à Internet ou outras redes.

Por serem computadores especializados e de funções limitadas, as urnas são computadores mais simples. Quando se trata de segurança, quanto mais simples, mais fácil fazer a segurança.

Por não estarem ligados à Internet, não há muitas portas por onde invasores possam entrar. Em linguagem técnica, a superfície de ataque é pequena.

Portanto, as urnas já nascem mais seguras dos que os computadores considerados seguros, como aqueles usados por bancos e até pelas forças armadas.

Na segurança de redes e de computador, o elemento mais frágil na segurança é o ser humano. É muito mais fácil pagar propina para alguém roubar uma senha do que usar de meios cibernéticos sofisticados para penetrar num computador (ou numa urna). No entanto, a penetração e adulteração de uma urna depende da participação de dezenas e até de centenas de pessoas. Pessoas que são de partidos diferentes, de ideologias diferentes e que moram em cidades diferentes. É difícil (provavelmente impossível) comprar todas elas. Então, só resta o ataque cibernético.

Mas as urnas têm muitos mecanismos de segurança que dificultam o ataque. Entre eles, a criptografia e os testes de segurança feitos por partidos políticos e técnicos. Além disto tudo, as urnas têm uma característica que praticamente impede o ataque cibernético: elas não estão conectadas à Internet. Isto significa que os gênios do mal não têm uma porta de entrada, como acontece com os bancos, cartões de crédito e outros.

Portanto, pode-se afirmar que as urnas eletrônicas são muito mais seguras do que os sistemas dos bancos, dos cartões de crédito, da maioria das instalações das forças armadas.

Assim, se você tem conta no banco ou usa cartão de crédito e consegue dormir à noite, pode votar e dormir mais tranquilo ainda: seu voto estará milhões de vezes mais seguro na urna eletrônica do que o seu dinheiro está seguro no banco. Isto não acontece só por causa da competência dos nossos técnicos. Acontece, em grande medida, porque pela forma fechada como o sistema é usado. É diferente de um banco, que é acessado por pessoas do mundo inteiro 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Há mais um detalhe curioso: as urnas eletrônicas são ultrasseguras em qualquer eleição. Mas, nas eleições municipais elas são mais seguras ainda do que nas eleições para presidente, senador ou deputado. Mas isto é assunto muito técnico que não cabe aqui.

Vote!

Neste domingo vá às urnas com tranquilidade. As urnas são seguras. Então, vamos cuidar da sua segurança. Use máscara, leve sua própria caneta, mantenha distância. Respeite a preferência dos idosos especialmente no horário de 7 às 10 da manhã. Prepare seu guarda-chuva, pois poderá chover ao longo do dia.

Vote bem, vote em paz. Com o seu voto você constrói a democracia.

Fernando Cabral

Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho

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