As mentiras que contaram pra gente na infância

 

Essas ingênuas e até bonitas histórias e prevenções nos guiaram (e ainda guiam) pela vida, tentando evitar o mal (será?) e nos conduzindo, muitas vezes, até a morte, sem que sequer tenhamos descoberto as verdades da vida.

VANDER ANDRÉ – No lançamento do meu último livro infantil, Pinoquiabo, tenho recebido muitas respostas dos leitores, não apenas das crianças, mas também dos adultos, sobre aquelas “mentirinhas” que nos contavam na infância em Bom Despacho/MG.

No livro, entre outras questões que resolvi explorar, abordo algumas dessas pequenas mentiras, fake news, crenças, lendas, superstições, mitos e tabus alimentares que ouvimos desde cedo e que acabam moldando nossa visão de mundo. Elas geram em nós, muitas vezes, medo, angústia, preconceitos, dúvidas sobre a vida, e até incertezas como no conceito dos terraplanistas ou, em casos mais extremos, consequências graves como as fake news do movimento antivacina.

Alguns leitores se debruçam sobre as ilustrações do artista Carlos Caminha, apreciando os cenários pintados por ele que remetem à flor do quiabo – tão linda e tão benquista no cerrado mineiro –, mesmo sem conhecer sua origem africana. Outras representações, como as festas juninas, as fazendas repletas de árvores frutíferas e os ipês em flor, contrastam com a ilustração em preto e branco de pessoas em situação de vulnerabilidade.

O que tem me surpreendido é o número de leitores que comentam comigo sobre os tabus e crenças populares que eram passados como verdades científicas e que ainda ressoam hoje em dia, embora já um pouco esquecidos. Minha prima Roberta, por exemplo, me enviou um vídeo engraçado com várias dessas situações. Confesso: eu realmente acreditava em muitas delas.

Em uma época sem Internet, desconectados e sem o acesso facilitado à ciência, tínhamos escassez de informações e éramos alimentados com essas “verdades” que moldavam a nossa infância. Nós vivíamos em um mundo ainda sem Internet e a Academia de ciência ainda nos era um pouco distante.

O vídeo citado é uma animação de Dalvaro Thiago, no qual o narrador menciona coisas como: tocar em asas de borboleta cegava; se ficasse zarolho quando o galo cantasse, os olhos ficariam assim para sempre; e se engolíssemos chiclete, “enrolava as tripas”. Há também a crença de que contar estrelas fazia nascer “berrugas”. Outra que eu testei pessoalmente é a de que brincar com fogo nas festas juninas fazia a criança “mijar na cama”. Um clássico regional era: quem varresse o pé de alguém impediria que essa pessoa casasse. Assista clicando AQUI.

Uma crença que citei no meu livro é a de não se misturar manga e leite, pois “matava na hora” – uma ideia possivelmente criada para que escravizados não consumissem o leite nas fazendas (triste constatação tardia…) Recentemente, ouvi de uma mãe que proibia o filho de comer banana à noite, por receio de que ela passasse mal e não conseguisse dormir: “banana prata à noite mata”! E, se chovia após um dia de sol, dizia-se que era “casamento de viúva”, essa nem sei mesmo se é crença ou apenas brincadeira com a sonoridade da frase: sol e chuva, casamento de viúva! Outra ainda, comum na região, naqueles dias em que as nuvens de chuva brincavam de esconde-esconde com o sol, é que passar sob o arco-íris mudava o sexo da pessoa, quem diria!

Essas ingênuas e até bonitas histórias e prevenções nos guiaram (e ainda guiam) pela vida, tentando evitar o mal (será?) e nos conduzindo, muitas vezes, até a morte, sem que sequer tenhamos descoberto as verdades da vida. A ciência e a razão, sempre persistentes, podem nos incomodar, mas elas nos convidam ao estudo, à leitura, à pesquisa, e, sobretudo, a um olhar mais filosófico sobre a nossa existência.

E, para encerrar esta breve história, trago algumas informações para reflexão, especialmente sobre o arco-íris, que desperta grande curiosidade. Vale lembrar que, segundo Gênesis 9:16, ele “representa uma aliança de Deus com a humanidade, prometendo que não haveria outro dilúvio para destruir a vida na Terra”. Já a ciência explica que “a luz branca se divide nas cores do espectro ao atravessar gotas d’água, proporcionando o efeito que vemos”.

Portanto, caros leitores, lembremos: a leitura e o conhecimento abrem portas para o saber, algo que sempre devemos buscar e incentivar, especialmente na formação de nossas crianças. (Portal iBOM / Vander André Araújo é advogado, filósofo e escritor / Foto: imagem ilustrativa).

 

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