A vinda do IF para o antigo Sesc reaviva nossos sonhos

ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – O dia 22 de agosto de 2024 foi uma data histórica para Bom Despacho. Nesse dia aconteceu a audiência pública do Instituto Federal de Minas Gerais para apresentar as possíveis áreas de atuação da academia no campus Bom Despacho.

Minha primeira reação foi de emoção, de estar no Sesc, com um salão lotado para uma finalidade tão especial. Adorei transitar entre tantos rostos conhecidos. Uma presença mexeu particularmente comigo, me chamou especial atenção. Rodrigo Gomes, doutor em ciências da Educação e professor no campus do Instituto Federal de Minas Gerais em Congonhas estava ali e foi um dos apresentadores do projeto.

Há muitos anos, aquele espaço, naquela época Sesc Laces Bom Despacho, foi sonhado, idealizado e depois usufruído por muitos, de muitas formas. Foi um marco na história de Bom Despacho. E, Rodrigo e muitos outros acompanhamos de perto esse processo.

Robínson Gontijo, mineiro por excelência, bom-despachense apaixonado, traduziu naquela área de lazer, de esporte e de cultura as especialidades de Bom Despacho apenas lá encontradas. Além da beleza e riqueza do espaço, que passou a contar com piscinas, churrasqueiras, capela, salão de festas, salas de reunião, quadras, muitos chalés, fonte d’agua, reserva de plantas nativas, restaurantes e até um lindo anfiteatro, era, também, usado para contar parte da nossa história.

As ruas, avenidas e praças do lugar tinham/têm, cada qual, escolhidas a dedo, o nome de um profissional, um “doido” ou uma família importante da cidade. Isso em que ser preservado.

No fim da construção, lá embaixo, perto da reserva, foi feita uma gruta para abrigar, ninguém menos, que a imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho. Até hoje, às vezes, ainda passo por lá para conferir se está intacta.

Naquela época, do Sesc Laces, meu marido Léo ainda era vivo e trabalhava, como terceirizado, nas dependências do lugar. Estávamos no início do casamento e como a demanda de trabalho lá era enorme, nos meus momentos de folga eu estava sempre por lá, com ele.

A equipe era incrível. Não vou nem ousar citar nomes porque, certamente, corro o risco de esquecer pessoas queridas para trás. Havia os salva-vidas da piscina, os porteiros, os monitores, as meninas da limpeza, a lanchonete da Dona Bina, os empregados diretos da parte burocrática do Sesc. E, compondo essa grande equipe, meu amigo Rodrigo Gomes e sua, hoje, esposa, Fernanda.

Acho que todos nós, bom-despachenses, sofremos um bocado quando aquela estrutura foi encerrada. Cada um a seu modo, carregou/carrega esse pesar.

Encontrar o Rodrigo ali, naquele dia, ajudando a conduzir as apresentações e trazendo, de alguma forma o Instituto Federal para cá, foi um pouco como curar feridas e reavivar sonhos. Acredito que para muita gente, mas particularmente para nós dois, aquele era um momento inexplicável e emocionante. A ocasião dispensaria qualquer conversa sobre o assunto e toda abordagem seria insuficiente. Ainda assim, falamos. Lembramos daquela época, daquelas pessoas, da história e tudo que o Sesc representou para Bom Despacho e especialmente para nós, talvez por termos vivido tudo bem de perto.

Foi mais que relembrar ou contar histórias, foi assistir e participar da releitura de um espaço que foi construído para ser centro de lazer, cultura, aprendizado, geração de emprego e crescimento para Bom Despacho. Foi presenciar a reinauguração de um sonho, sonhado e realizado pelo Dr. Robínson, junto com tantos outros bom-despachenses. Ver aquele espaço retomar uma posição que nunca deveria ter perdido foi incrível.

Muitos foram os envolvidos nesse processo e, a cada um deles, o nosso muito obrigada. Tanto o Dr. Bertolino, prefeito, quanto o Reitor do Instituto Federal agradeceram, individualmente ao Professor Lau e ao Lula pela participação no processo da vinda do Instituto, numa clara atitude de grandeza, demonstrando que não há, num momento como este e, mesmo em outros, que se priorizar disputa política ou partidária em detrimento de ações coletivas.

Houve um momento da audiência que cheguei a ter um pouco de preocupação. Como muitos, quando foram apresentados os cursos ou os eixos que seriam trazidos pensei: será que não dá para ser outra coisa? Os eixos e cursos apresentados, que podem ir desde curso técnico até pós-graduação, contam com algo na área de gestão de negócios, marketing, moda, design de calçados e bolsas, arte, audiovisual e educação.

Pensei: porque não agronomia, que tanto nos caracteriza, ou mesmo algo voltado para a grande bacia leiteira que somos? Porque não ciência da computação? Mas, como numa boa audiência pública, essas perguntas vieram. E as respostas foram claras. “Não podemos competir com os outros Institutos Federais da Região, que já têm esses cursos”. “Temos que fazer tudo com os pés no chão, dentro da nossa grade orçamentária”, informaram os membros da mesa de autoridades.

No dia seguinte, Alexandre, Haroldo e outros amigos meus me tranquilizaram. Explicaram que essas pessoas estudam muito antes de fazerem essas propostas e, esclareceram que há uma demanda profissional enorme nas áreas e eixos apresentados. Que muitos empresários daqui e da região buscam o tipo de profissional que esses cursos formam em outros Estados da Federação, por carência local.

Foi um alívio ouvir essas explicações. Então o cenário estava completo, ao menos pra mim. A alegria de ver um Instituto Federal vir movimentar essa cidade, ainda mais funcionando no Sesc, transformou-se em êxtase.

Segundo informações, ainda, não se sabe a data exata da implantação. O governo federal autorizou a criação de 100 Institutos Federais Brasil afora, sendo 16 deles para instalação ainda este ano. Estão tentando que Bom Despacho seja um dos 16 instalados em 2024.

O reitor deixou claro que Bertolino e sua equipe fizeram o dever de casa e antecedendo-se a várias cidades apresentaram a documentação completa para a instalação. O lugar é propício, o antigo Sesc Laces Bom Despacho abriga muito bem a instituição. A verba inicialmente prometida pelo Governo Federal é de vinte e cinco milhões de reais. Agora nos cabe torcer e opinar. Qualquer pessoa pode fazer sugestões e dar opinião sobre os cursos. Isso é feito através de consulta pública que está disponível na Internet até dia 5/9. ACESSE O FORMULÁRIO AQUI.

Deixemos de lado as desavenças político-partidárias. Sejamos um povo só. Não estamos em busca de vilões, bandidos e polarizações. Pratiquemos a boa política, o bom combate. Estamos todos no mesmo barco. Somos parte de uma mesma teia. Precisamos uns dos outros. Vamos voltar a respeitar nossos adversários ou mesmo quem pensa diferente de nós.

Hoje é dia de celebrar. O Sesc vai voltar à vida, não na exata forma como era antes, mas como espaço de arte, cultura, moda, aprendizado, rentabilidade e crescimento para nossa Querida Bom Despacho.

Obrigada, Dr. Robínson, onde quer que esteja. Obrigada a todos os envolvidos na vinda do Instituto Federal pra cá. Sei que foi trabalho realizado a muitas mãos. (Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal).