Pra não dizer que não falei dos velhos
DILERMANDO CARDOSO – Os cinco teimosos leitores deste canto de página, quando não encontram nada melhor para fazer na vida, ou sem remorso perdem alguns minutinhos do seu precioso tempo apreciando as lenga-lengas que escrevo, possivelmente vão se lembrar do meu desconforto por conta da expressão “melhor idade” — decerto invenção de um gaiato no vigor das suas vinte e poucas primaveras!
Como quem troca seis por meia-dúzia, isto é, mudando de assunto pra dizer a mesma coisa, algum de vocês cinco reparou como são os passeios de Bom Despacho? Verdadeiras armadilhas! Se não existem degraus irregulares acertando declives, o piso é inclinado para o lado do meio-fio. Seja escorregão de velho, seja tropeço de jovem o coitado se esborracha na rua. Caso aconteça de naquele instante passar ali qualquer dos nossos motoristas com síndrome de piloto de Fórmula Um, é tragédia anunciada.
Não faz muito tempo, fui vítima de um destes passeios escorregadios, que silenciosos e traiçoeiros ameaçam a vida dos pedestres, dia sim e outro também. Vinha eu carregando o peso da “melhor idade”, quando me desequilibrei numa rampa de garagem recoberta com ardósia… Na queda bati com os joelhos no asfalto. Poupo vocês dos detalhes de meu quase calvário! O certo foi que depois de consultas médicas prescreveram-me fisioterapia como tratamento. Mas não ficou apenas nisto, se quisesse uma recuperação rápida e definitiva teria ainda que fazer hidroginástica. [Confira mais conteúdos de Bom Despacho e região no @jornaldenegocios].
Bem, é aqui que fica realçada toda minha ignorância. Por preconceito, sempre achei que homem praticar hidroginástica fosse a mais pura boiolagem. Trocando em miúdos: a clássica saída do armário! Só quando, depois de muita reza, compareci à primeira sessão de “hidro” pude perceber o quanto estava mal informado. Além de mim na turma havia outros cidadãos, machos com “i” de “imbroxável, imorrível, e incomível” como arrotou certo “idiota”. Já na piscina, entendi porque o último censo do IBGE registrou mais mulheres do que homens na cidade — éramos três “eles” contra vinte e sete “elas”! As mulheres cuidam da saúde e da aparência mais do que os homens.
Por falar em estatísticas, no quarteirão da Rua Padre Vilaça, entre Avenida São Vicente e Rua dos Operários, residem as pessoas mais velhas de Bom Despacho. A média de vida lá supera as noventa velinhas com que são enfeitados seus bolos de aniversário! Meu ex-colega de serviço, Luiz Cláudio, ao saber desta novidade não teve dúvida, comprou uma casa e se mudou para o dito endereço. Por economia, e agora desnecessário, cancelou o plano de saúde, o seguro de vida… E para quem quiser ouvir, ele diz: “— Não troco meu conjolo da Rua Padre Vilaça nem por uma mansão no Arraial!”
Pelo que eu disse até aqui, e para ser coerente, estou reconsiderando minha birra com a tal “melhor idade”. Porém, no mais íntimo de mim, continuo ouvindo uma vozinha teimosa que protesta, tal como o Pitimba, inconformado freguês ao pedir a saideira, quando o Chen cisma em fechar seu bar antes da meia-noite: — Disconcordo! [Portal iBOM / Dilermando Cardoso é bancário aposentado e escritor / Imagem gerada por IA].