Cineasta Pablo Lobato, de BD, estreia seu novo filme Oroboro
VANDER ANDRÉ ARAÚJO – Alunos criando teatro! Assim começa — e termina — a história do novo filme dirigido pelo bom-despachense Carlos Pablo Lobato, filho de Zuca e Maria Angélica Lobato. Ator-mirim que fui em Bom Despacho, essa temática me tocou profundamente. Traz à tona a saudade de um tempo em que a educação artística era movida pelo prazer das encenações de grandes textos da literatura brasileira, nas inesquecíveis aulas de Língua Portuguesa na escola pública.
Nos anos 1980, as professoras que tive no Colégio Miguel Gontijo — Sônia Maia, Célia Assunção, Lourdes Resende, Geralda e Lourdinha Santos — sempre incluíam em suas aulas montagens teatrais de peças como A Bruxinha que Era Boa (Maria Clara Machado), em que interpretei o menino Pedrinho, ou a adaptação de Vidas Secas (Graciliano Ramos), na qual fiz o papel da cachorrinha Baleia. Encenei ainda clássicos de José de Alencar e até criações autorais, como a inesquecível O Milionário da Loteca, de Lourdes Resende, onde, pasmem, vivi o personagem Seu China. Que alegria era interpretar tantos papéis diante da plateia atenta de colegas e sob o olhar orgulhoso das professoras! Que prazer era subir ao palco daquele colégio!
E agora, a arte escolar retorna à cena — mas nas grandes telas do cinema — com o lançamento de Oroboro, mais uma obra do artista visual e cineasta Pablo Lobato, que nos brinda com seu olhar sensível e apurado.
O documentário acompanha estudantes dos 8º e 12º anos da Escola Rudolf Steiner, situada no Vale do Sereno (entre Nova Lima e Belo Horizonte), um vale cercado por arranha-céus. Eles se lançam no desafio de adaptar Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e a ópera A Flauta Mágica, de Mozart. Veja trailer do filme clicando AQUI.
Ao longo de três anos, Pablo registrou os bastidores dessas montagens, a rotina escolar e o poder transformador da arte na formação desses jovens. O filme mergulha na intimidade dessas descobertas, desafios e alegrias, revelando como a experiência sensível pode renovar os processos pedagógicos.
Sobre o título, Oroboro remete ao símbolo ancestral da serpente que engole a própria cauda, formando um círculo. De origem grega, representa o ciclo da vida, a renovação e a transformação contínua.

Pablo comenta: “Oroboro partiu de um espanto. Em 2018, deparei-me com um grupo brilhante de jovens estudantes adaptando Grande Sertão: Veredas para o teatro. Fiquei profundamente tocado ao vê-los criando juntos, encontrando embocadura para esse mito fundador brasileiro. A peça já estava em curso, mas o filme nasceu ali — sem projeto, sem recursos, apenas pela urgência do que se apresentava diante de mim. Atendi ao chamado. No início, segui sozinho, movido por esse encontro inesperado. Aos poucos, aproximei-me mais dessa escola mineira, onde a arte é parte inseparável da pedagogia. Entre 2018 e 2020, formei uma pequena equipe e acompanhei com minha câmera os processos imersivos vividos pelos estudantes, registrando também uma segunda turma, de adolescentes mais jovens, que me encantou ao adaptar A Flauta Mágica, de Mozart.”
Oroboro está em cartaz em Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Porto Alegre. Na capital mineira, pode ser assistido no Una Cine Belas Artes, próximo à Praça da Liberdade. Vale a pena dar um pulo em BH para se encantar com essa obra tocante de Pablo Lobato, artista talentoso da nossa querida Bom Despacho. (Portal iBOM / Vander André / Foto: Arquivo).
Horários e datas das sessões no Una Cine Belas Artes (BH)
Sessão 14h | Dias 21, 22, 23, 25 e 26/03 (sexta, sábado, domingo, terça e quarta-feira)
Sessão 18h | Dias 21, 25 e 26/03 (sexta, terça e quarta-feira)