Vamos respeitar as diferenças e as escolhas de cada um

 

Independente da forma que escolheram para manifestar sua sexualidade, todos merecem respeito, amor e espaço.

ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – No final de junho (dia 23/6) Bom Despacho teve sua primeira Marcha LGBT. Foram alguns dias de programação, com debate sobre um documentário na biblioteca, reuniões para discutir a pauta e o encerramento, no domingo, com um ato público.

Foi bem divertido fazer parte das movimentações e seguir a marcha do domingo. Marcha colorida, lúdica, com música animada, cheia de depoimentos intensos e amigos queridos.

Para a minha estranheza o número de participantes foi muito reduzido. A maioria simpatizantes. A adesão da comunidade LGBT daqui de Bom Despacho foi mínima.

Fiquei me perguntando porque. Como ia escrever sobre o assunto, troquei uma ideia com minha amiga Denise, que logo me sugeriu conversar e tentar entender. Parti para as perguntas, mandei mensagens para alguns amigos gays e lésbicas que tenho e que moram em Bom Despacho. Perguntei o motivo da ausência na marcha.

As respostas foram variadas. Algumas com silêncio, que também é uma forma de resposta. Outras explicaram que não ficaram sabendo, que tinham outro compromisso ou que não eram adeptos de manifestação de rua. A grande maioria, entretanto, me disse não sentir confortável para se posicionar ante a comunidade bom-despachense.

Claro! Que falta de sensibilidade a minha! Porque não me ocorreu isso antes? Talvez porque para mim seja fácil levantar essa bandeira. Não vivo as dores e os enfrentamentos na pele. Não sou vítima de olhar preconceituoso, não tive que lidar com a batalha para ser aceita e amada.
Bem ou mal, apesar de ter um jeito não muito convencional, sou branca, hétero, me casei na igreja, segui o protocolo. Não precisei quebrar barreiras e provar que mereço ser respeitada por ser quem sou.

Nesse momento, tentei ocupar o tão alardeado “lugar de fala” do qual se diz hoje. Não sei o peso de carregar essa dor e o olhar condenatório e preconceituoso. Pra mim, foi só mais um domingo festivo, colorido, de combate a uma causa justa. Eu não estava sub judice.

Fiquei pensando na comunidade como um todo. Nos muitos amigos queridos que tenho, que olham para essa situação com desdém e mais que isso, fazendo um julgamento pesado. Não os culpo, exatamente, mas, também, não os absolvo. A hora é de reflexão e mudança. Mudar não quer dizer banalizar o amor e o sexo, quer dizer respeitar as diferenças, as escolhas e as individualidades de cada um. O processo exige coragem e um olhar atento sobre o que é dogma enraizado e o que é, de fato, um valor a ser carregado e mantido vida afora.

Em Bom Despacho, crescemos, via de regra, norteados pela religião, especificamente pelo Cristianismo. Para o Cristianismo, a relação homoafetiva é um dos maiores “pecados carnais” e a vida por aqui, até então, sempre se pautou por esse tipo de ditame.

Gosto da oração, da igreja e da paz que as preces me trazem. Gosto do acalanto de poder pensar que há um Deus a me guiar e proteger. Gosto de quem Cristo foi e do que ele pregou. Acredito, contudo, ser o momento de compreendermos melhor a mensagem desse Cristo. Tudo na vida é evolução, mudança, progresso. É tempo de rever dogmas pesados, atrasados, perversos e preconceituosos.

Gosto de pensar no Deus de Spinoza. Um Deus que acolhe, que ama, que abraça, que não vai nos punir deixando-nos arder no fogo eterno. Um Deus que se mistura à natureza e que é o todo.

Penso que é assim que deve ser. Precisamos, enquanto comunidade e até enquanto cristãos, ter coragem para viver esse processo de transição e mudança. Como disse a vários amigos, a finalidade da marcha não é uma afronta aos “bons costumes”, mas o acolhimento.
Acolhimento a pessoas que até agora precisaram se explicar, se esconder, se defender e provar que, a despeito da forma que escolheram para manifestar sua sexualidade, merecem respeito, amor e espaço. A escolha sexual de cada um não pode mais ser uma questão de avaliação. Isso não nos cabe enquanto comunidade.

Não há mais tempo nem espaço para julgamento e exclusão. Não há mais margem para desamor. Precisamos seguir os reais ditames de Cristo e nos aproximar um pouco mais do Deus de Spinoza.   (Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Fotos: Renato Tavares).

 

2 thoughts on “Vamos respeitar as diferenças e as escolhas de cada um

  • 5 de julho de 2024 em 18:52
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    Muito necessários o texto e a manifestação. Já passou da hora das pessoas perceberem que cada um tem a sua escolha e julgar essa escolha não cabe a ninguém. Precisamos seguir rumo à evolução e essa pauta já deveria estar lá atrás, bem resolvida, fechada. Precisamos gastar nossa energia em resolver problemas como as desigualdades, a fome, a educação, a saúde, o meio-ambiente, o presente e o futuro da humanidade. Que cada um ame à sua maneira, porque quem ama não perde tempo cuidando da vida do outro e contribui para o mundo ser um lugar muito mais alegre e feliz. Viva o amor, de qualquer maneira.

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    • 6 de julho de 2024 em 07:56
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      Parabéns aos organizadores e participantes. Fundamental!

      Resposta

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