Elvino Paiva: a voz que entoava cânticos na Matriz
VANDER ANDRÉ – Pouco mais de uma década após a emancipação política da cidade, nasceu em Bom Despacho, a 27 de julho de 1922, Elvino Paiva de Oliveira, filho de José Paiva de Oliveira e Rosa Amélia de Miranda, dono de uma bela voz e talento musical. Um barítono que encantava as celebrações religiosas em Bom Despacho, notadamente durante as Semanas Santas.
Professor Elvino Paiva de Oliveira, morador da Rua Capivari, na Cruz do Monte, foi reconhecido como o senhor do coral da Missa das Nove, das procissões, das vias-sacras e de todas as festas religiosas de Bom Despacho. Missionário, possuía um altruísmo cujo verdadeiro significado poucos compreendiam. Sua simplicidade era a essência de sua alma, tornando-o uma figura majestosa capaz de contagiar todos ao seu redor.
Durante as Semanas Santas da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Despacho, o Professor dedicava-se com afinco aos ensaios dos cânticos litúrgicos e emprestava sua voz para liderar as músicas nas missas e nas procissões. Enquanto permanecia dentro da Igreja, entoava as melodias, transmitidas ao vivo pela Rádio Difusora, ao passo que o povo seguia o percurso, ouvindo-o com devoção. Não eram poucas as vezes em que, com seu reconhecido espírito generoso, custeava os folhetos de cânticos utilizados tanto nas missas quanto nas procissões.
Elvino percorreu sua jornada educacional cursando o Primário no Grupo Escolar Campo Alegre – Rural, o Fundamental – 1º Grau – no Ginásio São Joaquim em Lorena-SP e no Ginásio São Miguel em Lavrinhas-SP. O 2º Grau cursou no Colégio Comercial de Bom Despacho-MG, onde estudou Contabilidade. Mais tarde, graduou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Divinópolis e Letras, em Luz. Além disso, especializou-se em difusão de ensino secundário pelo MEC, com foco em Latim e Português, e fez um curso de desenvolvimento integral na PUC Minas.
Apesar de ter frequentado colégios religiosos, nos quais teve acesso à formação em teologia e filosofia, e nutrido uma vocação para o sacerdócio salesiano, sua saúde o impediu de seguir esse caminho. No entanto, sua dedicação ao serviço ao Deus católico permaneceu constante ao longo de sua vida.
Na Escola Estadual Miguel Gontijo, ele foi professor de Latim de 1959 a 1965; de Português entre 1961 e 1975 e também de Língua e Literatura de 1972 a 1975. Foi professor de Português no Colégio Comercial (1962 a 1967); no Colégio Industrial (1966) e no Colégio Tiradentes (1967 a 1972). Posteriormente, foi o primeiro diretor do CESEC Prof. Zaíra Batista Teixeira, desempenhando um papel fundamental na promoção da educação de jovens e adultos em Bom Despacho, no período de 1987 a 1992. Sua articulação junto ao Padre Jayme, à época, assegurou a mobilização da comunidade em prol da educação de jovens e adultos em Bom Despacho, ainda nos idos de 1983, por meio do trabalho com a juventude, defendido pelo Padre.
O projeto somente se efetivou em 20 de dezembro de 1985, quando o então prefeito, Célio Luquini, requereu da Câmara Municipal a celebração do convênio entre a Prefeitura e Estado, que criou o Curso Especial de Suplência.
O compromisso do Professor Elvino com o serviço comunitário e religioso era evidente em suas ações. Celibatário por opção, dedicou-se aos cuidados de sua mãe e aos serviços da Igreja Católica. Após a morte dela, adotou a comunidade como sua família, intensificando sua atuação em prol dos menos favorecidos.
Ao falar sobre o Professor Elvino, seu sobrinho, o advogado Helder Paiva, comenta: “Simplicidade era sua marca registrada. Apaixonado pelas pequenas coisas da vida, como fotografar flores e contemplar o pôr do sol, Tio Elvino sempre esteve disponível como um porto seguro para quem o procurava.”
Sua generosidade estendeu-se até mesmo aos bens materiais, que ele doou parte deles para auxiliar missionárias em sua obra evangelizadora em Bom Despacho. Hoje, é patrono da casa de missionárias Santa Terezinha do Menino Jesus, no bairro Ana Rosa. Além disso, seu nome é objeto de homenagem em uma avenida e uma escola municipal em Bom Despacho.
Professor Elvino Paiva fez de sua vida um verdadeiro sacerdócio, promovendo o amor, a caridade, a fraternidade e o espírito de partilha. Sua vida foi marcada pela dedicação à sua mãe, irmãos e sobrinhos, bem como à igreja Católica da qual era signatário. Sua partida, em 25 de fevereiro de 2008, deixou uma marca indelével na cidade de Bom Despacho e naqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
A coralista Marlene Correia recorda com saudade a participação do Professor Elvino no Coral Voz e Vida em Bom Despacho. Ele se dedicava colaborando com o naipe dos baixos, desde a criação do Grupo em 1990 até 1996. Ela compartilha: “Desfrutei da sua doce companhia no Coro, mas antes, tive o privilégio de tê-lo como professor! Além do seu vasto conhecimento, uma qualidade que sempre me impressionou foi a sua paciência. Ele permanecia sempre sereno e calmo, com um sorriso no rosto.”
Dentre os diversos relatos que evidenciam sua influência como professor, ouvi o das alunas, Professora Samira Araújo e Edelweiss Cabral, que recordam com carinho as aulas ministradas por Elvino e como a música e o canto faziam parte da sua didática.
Veja AQUI fotos de outros bom-despachenses com o Professor Elvino Paiva.
Elas destacam a atmosfera de descontração e afeto que Elvino criava para seus alunos: “Ele demonstrava um carinho especial por mim e pela Edelweiss. Durante as aulas de português, ele frequentemente recorria ao canto da Ave Maria em latim. Não era porque os alunos não gostassem da matéria, ou a considerassem complicada, mas sim porque aquele momento nos proporcionava relaxamento e descontração. Todos nós o admirávamos profundamente e costumávamos abraçá-lo, chamá-lo de ‘mestrinho’ e elogiá-lo, o que frequentemente nos levava às lágrimas de emoção.” (Vander André Araújo é advogado, filósofo e escritor / Foto do alto: Willian (direita) com Dedé no Bar do Tonhão / Fotos: Arquivos familiares)