Mulheres que foram pioneiras em Bom Despacho
Março, mês da mulher. Da mulher mundial. Da mulher brasileira. Da mineira. Da bom-despachense.
Com o coração cheio de alegria, as minhas palavras quais pétalas de rosas exalam um doce perfume de pura gratidão para saudar o dia consagrado às mulheres heroínas de nossa terra, cidade das três colinas. Da Tabatinga e da Cruz do Monte…
Terra de minhas duas avós, de minhas quatro bisavós, além das oito trisavós, das 16 tetravós. E tenho 32 penta-avós descendentes das milhares de avós, que se as continuarmos contando, per secula seculorum, vamos, sem exagero, chegar a milhões, bilhões delas. Isso desde as mulheres da caverna, de quem carrego, no sangue, a marca de cada uma dessas históricas criaturas que pariram minhas ascendentes e acabaram parindo a mim também. Mulheres pioneiras. Segundo o dicionário do Aurélio “Pioneira é a (pessoa) obra, serviço, iniciativa, ideia, etc. que se antecipam ou abrem caminho a outros iguais ou similares.”
As duas Mariquinhas
Parece, mas até os dias de hoje, algumas raras mulheres tiveram seus nomes citados na historiografia de Bom Despacho. Exceção feita à inscrição do nome da Mariquinha, a maga de tão saborosas broas, bolos e biscoitos que teve seu nome para sempre inscrito ao lado da Biquinha, como nossa maior quitandeira de todos os tempos: “Quem bebe da Biquinha e come das roscas de Mariquinha sempre voltará a Bom Despacho.”
Ela foi pioneira em sua profissão de fazeção de deliciosos quitutes e seu nome se tornou lendário para sempre em Bom Despacho.
A Mariquinha do Berto era também excelente biscoiteira. Às vezes tem seu nome confundido com a outra Mariquinha quitandeira. Porém o que mais impressionava nela era seu carisma e bravura. De menino, já sabia que lugar de mulher era cuidar do marido, da prole e da casa. Trabalho pesado era com os homens.
Mas um dia ela entrou para a história da Extrema e do Bom Despacho. Aquela fazendeira de quatro costados não por um motivo seu ou por obrigação houvesse, mas por uma necessidade que ocorreu, a doença do Sô Berto. Mariquinha subiu no cabeçalho de um carro de bois e com um menino de guia e vara de ferrão buscou o milho na palhada e trouxe pra sustentação. Guardou no paiol pra tratar, ano inteiro, dos porcos, das galinhas e de todos os bichos de asas do terreiro. Também pra fabricar o fubá indispensável na lida da casa.
Leda, Leda e Maura: pioneiras da aviação e da literatura
Nas décadas de 1930, 40 e 50 a cidade tinha um aeroclube, um grande campo de aviação e pilotos, homens e mulheres, cortando os céus em seus valentes teco-tecos.
As moças eram a Leda Vaz, a Leda Hamdan – que foi minha professora de música e canto no Ginásio Estadual – e Maura Lopes. Ela tinha vindo de São Gonçalo do Abaeté com a mãe, viúva e rica. Com 15 anos, ganhou de sua genitora um avião e aprendeu a pilotar em Bom Despacho. Casou-se mais tarde com Jair Praxedes, também piloto, filho do Coronel Praxedes, comandante do Sétimo Batalhão. Mudando-se mais tarde para o Rio de Janeiro, Maura escreveu nos mais destacados jornais do Brasil. Escreveu, ao lado dos maiores escritores nacionais, um dos mais importantes livros da Literatura Brasileira: ”O Hospício é Deus.”
O consagrado escritor Carlos Heitor Cony, certa vez em Paris, perguntou: “- E Maura Lopes?”. O grande romancista respondeu: “- É a maior escritora ao Brasil.”
Silvana Mascarenhas e a capela da Cruz do Monte
Silvana Mascarenhas, na década de trinta, ao tirar o diploma do quarto ano do grupo escolar, com 11…12 anos, foi contratada por meu avô, na fazenda do Raposo, como professora de seu filho, dos empregados e filhos para ensinar-lhes o beabá, a ler e escrever e assinar seus nomes. Na aritmética, aprendiam a tabuada e as quatro operações. Na maturidade andou pelo Rio de Janeiro. Casou-se. Na terceira idade, voltou para Bom Despacho. Aqui levantou uma histórica obra, com recursos próprios, a capela da Cruz do Monte, no mesmo lugar em que os fundadores de Bom Despacho ergueram uma capela em devoção a Nª Srª do Bom Despacho, por vota de 1775. Ela foi uma pioneira. Creio que a única pessoa que doou à cidade uma obra pública, histórico-religiosa, na Cruz do Monte.
Merecem ser lembradas
Fica para a próxima edição, mas vou falar ligeiramente das seguintes bom-despachenses pioneiras, outras ainda vão ser lembradas.
As primeiras conterrâneas, lá pela década de 1920 a se formarem, em cursos além do quarto ano de grupo: Dona Joventina Guerra em curso de Farmácia, Dona Maura do Pedro Gontijo, em Contabilidade.
E ainda mais Dona Maria Guerra, alfabetizou, creio que nos anos 40, um deficiente surdo-mudo, no Engenho do Ribeiro. Dona Alma Khornet que, jovem, fugindo da destruição na Europa, veio para Bom Despacho. Formou-se como enfermeira. Tornou-se a parteira mais solicitada e durante décadas salvou milhares de vidas de recém-nascidos e de suas mães no parto. Partos em que antes dela morriam mães e bebês com frequência pelo tétano e falta de higiene.
Incontável número de bom-despachenses estão vivos hoje devido às mãos de um anjo abençoado vindo das longínquas terras alemãs para salvá-las e aos seus filhos.
Legenda das fotos – 1) Dora Khornet e sua família; 2) Maria Guerra; 3) Leda Hamdan; 4) Dona Alma; 5) Maura Lopes
(Portal iBOM / Tadeu de Araújo Teixeira é professor, escritor e fundador da ABDL / Fotos: arquivo).
Gostaria de que fosse lembrado mais mulheres espetaculares que passou por essa terra maravilhosa como minha Tia Maria esposa do Zé do Sonego grande bordadeira. Obrigado deste já.
Que bom poder saber das mulheres de Bom Despacho