A oração é um instrumento poderoso
Não importa a religião que professamos, os santos ou deuses que escolhemos adorar e a forma como nos contatamos com o divino. Importa a comunhão, o que vai no coração, o querer bem, o cuidado com o próximo e a forma como escolhemos viver nossos dias e passar por essa Terra.
ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Fui criada na religião católica, batizada, crismada, casada, tudo como manda o figurino. Como boa brasileira que sou, numa terra rica em crenças e culturas, desejei conhecer e me aventurar em diferentes formas de contato com o Divino, a fim de constatar a melhor forma de me comunicar com Deus.
Fui a alguns cultos para conhecer de perto a devoção dos evangélicos e me encantei com os louvores. As músicas são quase sempre lindas, em muitas igrejas evangélicas. Fui a um terreiro de umbanda para entender como funcionava a cerimônia e me maravilhei com aqueles tambores soando, as pessoas em sua maioria vestidas de branco e o altar encantador que têm, que se chama Congá. Assisti a várias palestras espíritas Kardecistas, uma delas proferida, inclusive, pelo meu irmão Bruno, que estuda a doutrina a fundo e é frequentador assíduo de uma casa Kardecista na Bahia. Tomei passe e aprendi um pouco sobre a filosofia. Entrei para um corte de reinado.
Acho, também, maravilhosas as crenças das divindades indígenas. Várias tribos cultuam os elementos da natureza, considerando-os deuses(as): Tupã (Deus trovão), Guarací (Deus sol), Jaci da lua, Iara das águas e por aí vai.
Sinto-me energizada e renovada com banhos de rio, de mar e cachoeira, fortalecida por uma boa exposição ao sol e curada de muitas mazelas, depois de uma caminhada ou corrida sob as árvores. Então, comungo das crenças indígenas de que a natureza tem poder de cura e me permito considerar suas forças como divindades.
Isso sem falar nas milhares de religiões professadas mundo afora que desconheço completamente. Algumas nem sequer ouviram falar de Cristo ou dos nossos santos católicos, mas estão por aí, fortes em suas crenças. Uma vez lembro de pesquisar e constatar que eram mais de vinte mil registradas mundo afora: islamismo, hinduísmo, budismo, que muitos dizem não se tratar de religião, judaísmo ….
Muitas pessoas acreditam que orações são para beatos ou uma forma de agradecer, pedir ou simplesmente prestar homenagem e reconhecer a existência de um Deus.
Não apenas na minha opinião, mas por constatação de estudos científicos, em parte comprovados e ainda em construção, a oração é bem mais que isso. É um instrumento poderoso, que permite a liberação de substâncias importantes, nos trazendo uma sensação de pertencimento, bem-estar e melhora na autoestima. Sem falar do desencadeamento de soluções para processos de curas físicas e mentais.
Então, na verdade, não importa a religião que professamos, os santos ou deuses que escolhemos adorar e a forma como nos contatamos com o divino.
Importa a comunhão, o que vai no coração, o querer bem, o cuidado com o planeta, com a natureza, com o próximo e a forma como escolhemos viver nossos dias e passar por essa Terra. O que importa é usarmos o sagrado para nos conectar, com intensidade, ao nosso processo de evolução, compreendendo que ele está, certamente, ligado, como uma rede, a tudo e a todos.
Quanto nos postamos em oração, escancaramos nossas angústias, problemas, gratidões e alegrias para alguém bem íntimo. Alguém em quem confiamos com profundidade. Cada um tem a sua forma única e pessoal de se conectar com as divindades, independente do nome tenham.
E eu, como disse, criada na religião católica desde muito cedo, mesmo tendo experimentado diversas formas de conexão e de professar minha fé, sempre acabo voltando às origens.
Não condeno, como muitos amigos queridos, as posturas tristes, demagogas e às vezes, até, em certos períodos da história, meio criminosas da Igreja.
Gosto de ir à missa durante a semana. Acho lindo o ritual. É rápida, silenciosa e tem pouca gente. Naquela meia hora dentro da igreja, procuro silenciar minha boca e meus pensamentos, tarefa meio difícil pra alguém tão tagarela e ansiosa quanto eu.
Procuro rezar, entregar e, quase sempre, receber a comunhão.
Logo após receber a comunhão não retorno para o meu banco de origem. Vou direto aos pés de uma imagem de nossa Senhora, linda, gigante e acolhedora, que fica ao lado esquerdo de quem está de frente para o altar.
Muita gente coloca assim: que absurdo adorar santos e imagens, que comportamento atrasado. Na verdade não estou em busca da imagem, estou atrás do simbolismo, do que ela me remete e representa e o que ela materializa, me fazendo sentir pertencente, acolhida e amparada – como bem constatou o estudo que citei acima.
Inúmeras foram as vezes que me ajoelhei aos pés daquela imagem, contei minhas agruras, narrei minhas conquistas, entreguei pessoas que amo, tanto as que se encontram nesse plano quanto as que já partiram para o plano espiritual.
Somos íntimas, eu e aquela Nossa Senhora gigante. Já pus muitas pessoas e situações sob seu manto que, na minha interpretação, é sagrado. Depositei ali coisas que algumas vezes não ousei partilhar com ninguém. E confiei que seriam acolhidas e solucionadas.
Grande foi minha decepção quando, semana passada, me dirigi, após a comunhão, para os pés da minha guardiã e ela não estava lá. Havia uma outra imagem no lugar. Não consegui rezar, acho que, para meu espanto, cheguei até a me sentir um pouco desamparada.
Não tinha nada em particular naquele dia pra entregar. Só um oi, uma visita rotineira. Ela não estava lá.
Nunca havia me dado conta do laço que já havia criado e da ponte que aquela imagem representava para mim.
Fui, claro, em busca de respostas. Descobri que ela havia sido retirada para ser restaurada.
Mas só decidi falar publicamente sobre isso porque essa semana, quando cheguei ao trabalho, uma colega veio abordar comigo o assunto, sem nada saber. Disse: olha, já vi você na igreja e penso que talvez saiba me responder uma coisa. O que aconteceu com aquela imagem de uma Nossa Senhora com estrelas no vestido, etc, etc, etc. Fez uma descrição linda e emocionante da santa esculpida. Narrou, ainda mais lindamente, sua relação, desde a infância com ela. Perguntou-me se sabia o nome, se eu havia percebido sua ausência e que estava muito sentida de não tê-la por lá. Que além da beleza da imagem e de ser um patrimônio da Igreja, ela era sua confidente.
Ficamos emocionadas e desejamos falar sobre o assunto para fazer alguns esclarecimentos aos que, como nós, sentiram a falta da Santa: ela foi apenar ser restaurada e, em breve, retornará.
E para quem vive combatendo religiões, sejam elas quais forem, e as formas de cada um expressar sua fé, que repense, tente não julgar, não condenar e, simplesmente, ache a sua forma de rezar e se conectar com o divino. Não importa se através do ecoar de um tambor, de um banho de cachoeira, de uma atividade física intensa, de uma prece no silêncio de sua casa, no entoar eufórico de cânticos de louvor, ou mesmo de joelhos aos pés de uma imagem que simbolize acolhimento, amor e acesso a Deus.
Que vivamos com menos julgamentos e mais fé, com menos preconceitos e mais ações de construção, com menos condenação e mais abertura para o convívio. Seja qual for o Deus em que você acredita, ou mesmo quando não acredita, só uma coisa faz sentido nessa vida: evoluir, viver bem e construir um mundo melhor. (Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Imagem ilustrativa).
Qualquer coisa que a gente fale depois dos textos da Roberta, são insignificantes. Só cabe a mim, especificamente, aplaudi-la, me emocionar e torcer pra que chegue logo seu próximo texto. Parabéns Roberta. Você é realmente, cria do prof Tadeu e da professora Geni. Sua verve é admirável.