Motos e a vida: imprudência traz consequências trágicas
Sob vários aspectos a motocicleta é um meio de transporte superior ao automóvel. Consome menos matéria-prima na fabricação, queima menos combustível fóssil no uso, ocupa menos lugar nas ruas e nos estacionamentos e são mais ágeis no deslocamento. São coisas que falam a favor das motos. Em contrapartida, o motociclista e seu passageiro estão muito mais sujeitos a acidentes e morte do que o motorista e seus passageiros. Esta diferença poderia ser compensada com pilotagem mais prudente e mais atenção ao trânsito. No entanto, os fatos mostram que não é o que acontece. O número de motociclistas imprudentes é grande e as consequências têm sido trágicas.
FERNANDO CABRAL – Quase ninguém gosta de números e estatísticas. No entanto, são espelhos que mostram com clareza onde temos problemas mais sérios a resolver. Vejamos o caso das mortes no trânsito. Todos os anos, para cada 100 mil motos em circulação, temos 16,1 mortes de pilotos e garupeiros. Já para os automóveis, para cada 100 mil, nós temos 6,8 mortes. Portanto, a chance de uma pessoa que anda de moto morrer de acidente de trânsito é 2,4 vezes maior do que morrer num acidente de automóvel.
Estes números são grandes, pois o Brasil tem atualmente 26 milhões de motos em circulação, o que representa 23% da frota. Esta participação tem aumentado e, com ela, o aumento do número de mortes.
Estamos falando de mortes, mas quando computamos as hospitalizações e o tempo de permanência, bem como os danos permanentes, como tetraplegia, os números ficam ainda mais desfavoráveis para os motociclistas e seus passageiros.
Mas, convém repetir, a situação frágil em que a moto deixa o motociclista poderia ser parcialmente compensada pela prudência no trânsito. No entanto, o que vemos é um bom número de motociclistas fazendo manobras imprudentes e colocando sua vida e vidas alheias em risco.
Um exemplo disto aconteceu semana passada em Bom Despacho. Policiais militares prenderam um motociclista, aplicaram-lhe cinco multas e apreenderam sua moto. O delegado o soltou sob fiança de R$ 1.400,00. Veja a reportagem CLICANDO AQUI.
As irregularidades não eram pequenas: com uma pessoa na garupa, o motociclista acelerava e empinava sua moto na rua Rio de Janeiro. Ao avistar a polícia, acelerou para fugir. Detido mais adiante, ficou constatado que os pneus estavam carecas, a descarga aberta, o capacete estava sendo usado de forma irregular e a placa estava dobrada para ocultar a identificação.Este motociclista colocou em risco sua própria vida, a vida do garupeiro e de todos os transeuntes e passageiros de veículos que passavam pelas proximidades.
Comportamentos imprudentes como este agravam outro problema que já faz parte do trânsito: a irritação. Quando um motociclista empina sua moto perto de um pedestre ou motorista; quando acelera de forma desproporcional à capacidade da via; quando passa com a descarga aberta, as pessoas se assustam, se irritam e ficam agressivas. O que começa com um incidente irritante, mas pequeno, não raro se transforma numa tragédia com violência mútua e morte.
Há solução
Gostando ou não, ninguém pode negar que há pessoas que são amantes da adrenalina. Por isto vemos pilotos de fórmula 1 e de kart, toureiros, paraquedistas, e toda sorte de esportes radicais. São pessoas que gostam de viver na proximidade do perigo. Não haveria problema nisto, se somente suas vidas estivessem em jogo. No entanto, eles colocam outras vidas em jogo.
É quase sempre possível criar regras e espaços para que estas pessoas possam se embriagar com sua adrenalina sem colocar em risco o patrimônio e a vida alheia. Para o caso dos motociclistas são as trilhas demarcadas, as áreas fechadas e as ruas delimitadas e liberadas pelo órgão de trânsito municipal.
Cabe ao poder público municipal se esforçar para criar estas áreas, seja em caráter permanente, seja em caráter temporário. Mas cabe também às autoridades de trânsito fazer o que os policiais fizeram semana passada: aplicar com rigor a lei a todos os recalcitrantes que insistem em desobedecer à lei e em colocar o patrimônio e a vida alheia em perigo.
Moto é eficiência no trânsito, é liberdade de locomoção, é agilidade no ir e vir. Nem por isto pode ser usada de modo a colocar a vida de terceiros em risco. (Portal iBOM / Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho / Foto arquivo)