Sim, poderei ser candidato em 2024, diz Cabral
[ENTREVISTA] Depois de retornar a Bom Despacho após quase um ano na Europa, o ex-prefeito Fernando Cabral deu sua primeira entrevista à imprensa. Nela Cabral falou dos desafios e das mudanças em sua vida após caminhar mais de 1.600 km percorrendo três vezes o Caminho de Santiago de Compostela. “A gente passa ver o mundo de forma diferente (…) Em muitos sentidos, fazer o Caminho de Santiago me remoçou fisicamente e me renovou espiritualmente”.
Terminada sua jornada tripla a Santiago, Cabral percorreu mais de 50 cidades em 23 países. “Em todas as etapas eu aproveitava para aprender como os europeus administram suas cidades e como conseguiram resolver problemas que nós ainda não conseguimos”, afirma. Segundo ele, “na maioria das vezes as soluções não envolvem mais dinheiro do que já gastamos hoje. O que envolve é maior participação da população e algumas mudanças na forma de trabalhar”.
Fernando Cabral admite que poderá sair candidato em 2024. “Um partido me convidou para ser candidato a prefeito. Muita gente que encontro pede que me candidate. Segundo ouvi dizer, algumas pesquisas colocam meu nome como favorito”, afirmou.
Cabral também reafirma que não tem impedimento legal para se candidatar. “Eu entendo que meus pretensos futuros adversários façam circular a notícia falsa do meu impedimento. Mas qualquer um que consultar a Lei e as decisões do Tribunal verá que estão mentindo”, garante.
Veja na entrevista a seguir feita pelo editor Alexandre Borges.
Jornal de Negócios – Como é voltar para Bom Despacho após passar quase um ano percorrendo a Europa?
Fernando – Adorei a viagem, mas fiquei alegre quando voltei. Cheiro de pão de queijo, queijo de Minas e amigos de muitas décadas só aqui. Também, é bom falar mineirês depois de um ano falando inglês e mau espanhol. O ouvido agradece e o coração se alegra.
Enquanto estava na Europa, você fez o Caminho de Santiago três vezes, cada uma delas por um trajeto diferente. O que trouxe dessa jornada? Mudou algo na sua vida?
Fernando – Verdade. Fiz os Caminhos Português, Francês e Finisterra. Comecei o Caminho Português por Fátima e o Francês por Lourdes. Os motivos foram sentimentais. Em 1969, com apenas dezessete anos, eu os visitei. Minha mãe ficou muito feliz. Por isto eu queria começar por estes lugares.
Finisterra teve motivação também histórica. Os antigos acreditavam que ali era o fim da Terra. Daí vem o nome Finisterra, que em latim se escrevia ‘finis terra’.
Outro motivo era visitar Muxia, onde se encontra a igreja da Virgem da Barca. Segundo a história, no século IX a Virgem apareceu numa barca e pediu que ali fosse construída uma igreja.
Fiz estes três Caminhos e aprendi muito. Primeiro, a solidariedade. Este é um sentimento que está registrado desde o início das peregrinações, no ano de 814. Os albergues e abrigos que encontramos a cada jornada são registros vivos desta solidariedade histórica. Alguns estão em funcionamento há mais de mil anos. Principalmente os que estão em igrejas e mosteiros.
Ao longo do caminho vemos também quão difícil era vida dos nossos antepassados. Isto nos dá outra perspectiva sobre nosso conforto atual.
Mas, principalmente, o que nos toca mais fundamente são as conquistas interiores. No total caminhei por mais de 50 dias e percorri mais de 1.600 quilômetros. Isto significa que, dia após dia, eu passava seis, oito, dez horas meditando sobre a vida. A gente passa ver o mundo de forma diferente. Por exemplo, meu sentimento de gratidão ficou muito mais forte. Gratidão com meus familiares, meus amigos, as pessoas em geral e, principalmente, com a vida mesma.
Em muitos sentidos, fazer o Caminho de Santiago me remoçou fisicamente e me renovou espiritualmente.
Após fazer o Caminho de Santiago, você passou semanas viajando pela Europa. Em quantos países esteve? Quantas cidades visitou nesse período?
Fernando – Visitamos perto de cinquenta cidades em vinte e três países. Percorremos mais dez mil quilômetros.
Numa entrevista anterior ao Jornal você disse que estava fazendo um estudo, uma pesquisa sobre como as cidades europeias resolveram problemas que afetam ainda hoje Bom Despacho. Entre esses problemas citou limpeza pública, lixo, ecologia e proteção dos mais fracos. Seu propósito, afirmou, era trazer para Bom Despacho experiências e soluções bem sucedidas de cidades europeias. Eu pergunto: qual o resultado dessa pesquisa? A que conclusões chegou? E o que mais te impressionou?
Fernando – Sim, é verdade. Em todas as etapas eu aproveitava para aprender como os europeus administram suas cidades e como conseguiram resolver problemas que nós ainda não conseguimos. A coleta de lixo e a reciclagem, por exemplo. Lá vem funcionando bem. Em regra as cidades são limpíssimas. Mas nem sempre foi assim. Também os rios estão limpos. Não há lixo neles. Os países estão bem reflorestados. São coisas que podemos trazer para Bom Despacho.
Na maioria das vezes as soluções não envolvem mais dinheiro do que já gastamos hoje. O que envolve é maior participação da população e algumas mudanças na forma de trabalhar.
Mas uma coisa que me chamou atenção foi que as cidades costumam ter bebedouros e banheiros públicos em praças. Algumas têm churrasqueiras e mesas nos parques. Em Portugal, por exemplo, são chamados parques de merenda. São coisas boas que podemos implantar entre nós.
Mesmo com as diferenças culturais, educacionais e climáticas entre cidades europeias e cidades brasileiras, dá para aplicar em Bom Despacho experiências bem sucedidas por lá? Como fazer isso? Dê exemplos, por favor.
Fernando – Sim, dá para aplicar aqui sim. Por exemplo, temos a Mata do Batalhão. Ela é pouco usada pelas famílias. Se a prefeitura fizer lá alguns banheiros, colocar churrasqueiras e mesas, a Mata se tornará um local atraente para as famílias.
Outro exemplo: colocar um banheiro público na Praça da Matriz (aliás, o projeto, feito pela arquiteta Malê Mesquita, já existe).
Sim, há muita coisa que deu certo lá que dará certo aqui também.
Agora que está de volta a Bom Despacho, quais são seus planos?
Fernando – Primeiro plano é rever os amigos. Colocar a conversa em dia. Depois, começar a fazer coisas práticas.
A pergunta que não quer calar: você é pré-candidato a prefeito ou a vereador?
Fernando – Um partido me convidou para ser candidato a prefeito. Muita gente que encontro pede que me candidate. Segundo ouvi dizer, algumas pesquisas colocam meu nome como favorito.
Se eleito, pretende implementar em Bom Despacho experiências bem sucedidas que conheceu na Europa?
Claro! Tudo que vi, que deu certo lá e que não depende de muito dinheiro, poderia ser implementado aqui por qualquer prefeito
Afinal, como está sua situação eleitoral? Você poderá ser candidato na eleição de 2024?
Fernando – Sim, poderei ser candidato em 2024. Não tenho impedimento. Meus pretensos futuros adversários têm dito o contrário, espalhando fake news, dizendo que estou vedado pela justiça. Eles mentem. Acredito que estão tentando enganar o eleitor.
Vamos aos fatos. Primeiro, não estou condenado. Embora eu tenha sido prejudicado por uma decisão absurda e questionável da Justiça, não houve trânsito em julgado e aguardo decisão do TSE e do STF. Legalmente não sou condenado, embora esteja cumprindo pela antecipada. Mas, mesmo que eu seja realmente condenado em definitivo (repito que não fui!) minha punição terminará no dia 2 de outubro de 2024. Como a eleição é no dia 6 de outubro, não terei nenhum impedimento. É isto que diz a lei, é isto que diz o TSE, e foi isto que o STF disse recentemente, em dezembro.
Eu entendo que meus pretensos futuros adversários façam circular a notícia falsa do meu impedimento. Mas qualquer um que consultar a Lei e as decisões do Tribunal verá que estão mentindo. (Portal IBOM / Foto: Arquivo pessoal Fernando Cabral)