A solução para o lixo está nas mãos do cidadão

 

Em 2017 Roma teve um enorme problema com lixo acumulado nas ruas. Atualmente a cidade está bem mais limpa, embora ainda haja problemas. Não faz muito tempo Portugal tinha sérios problemas com o lixo urbano. Atualmente as cidades portuguesas são limpíssimas. Países como Suécia, Áustria, Finlândia e Suíça são consideradas exemplares na limpeza urbana. O que estes países fizeram para deixar a sujeira urbana para trás? Em que podemos imitá-los para solucionar o enorme problema da limpeza urbana no Brasil?

FERNANDO CABRAL – Andando pelas ruas de cidades brasileiras é certo que vamos encontrar lixo por todos os cantos. Aqui um toco de cigarro, ali um saco plástico, acolá um armário velho, uma geladeira estragada, um pneu abandonado.

Quando encontramos o lixo, geralmente o dedo acusador se volta para os administradores públicos: o prefeito, o secretário de meio ambiente, o secretário de obras. No entanto, a experiência das cidades da Europa, do Japão ou de Singapura evidenciam que o problema está principalmente no comportamento dos cidadãos. Estes países adotaram regras e implantaram costumes que mostram ser possível ter cidades limpas e ainda ajudar o Planeta com altas taxas de reciclagem. Ou, melhor ainda, com a diminuição significativa da quantidade de lixo gerada.

Um dos exemplos da diminuição são as embalagens. Entre as embalagens, a mais simbólica é o saco de supermercado. Os números são reveladores. Em 2021 os brasileiros usaram 21,7 bilhões de sacolas de supermercado. Isto significa que, na média, cada brasileiro usou 108 sacolas plásticas por ano. Numa casa com cinco pessoas, serão 550 sacolas por ano. Esta é a média.

Reduzir

Na área das sacolas, muitos países estão bem à frente do Brasil. Por exemplo, Japão, Suécia e Portugal proibiram a entrega de sacolas gratuitas em supermercados e lojas. Se o consumidor quiser usar a sacola do supermercado, ele terá que pagar por ela. O comerciante não pode entregá-la sem lançar na fatura e sem cobrar. O registro da venda é obrigatório. Seu custo, em torno de R$ 1,0 por sacola, não é desprezível.

Em consequência deste custo obrigatório, o consumidor começou a reutilizar as sacolas. Como elas são cobradas, os supermercados oferecem sacolas bem mais resistentes e mais bem acabadas do que estas que encontramos no Brasil. Elas podem ser reutilizadas. Assim, só de raro em raro um cidadão compra sacola. Em resultado ele gasta menos dinheiro, ajuda a manter a cidade limpa e dá uma boa contribuição para o Planeta.

Esta política de cobrar por sacolas está funcionando bem. Os países onde foi adotada viram o consumo de embalagens cair em torno de 80%. Como resultado, na Suécia a média de consumo é de onze sacolas por habitante, por ano. No Japão e em Portugal, a média é de vinte sacolas por habitante, por ano.

Este é, portanto, um bom exemplo da aplicação de um dos preceitos básicos da limpeza urbana e da proteção do ambiente: reduzir a produção de lixo.

Reutilizar

Como as sacolas são fortes (e são caras), as pessoas passam a reutilizá-las de forma repetida. Com isto temos atendido outro preceito da limpeza urbana e da proteção do planeta: reutilizar ao máximo os materiais que usamos.

Reciclar

Mas, quando reduzir e reutilizar chegam ao seu limite, entra em jogo mais um preceito: reciclar. Também nisto Singapura, Japão e países europeus estão bem à nossa frente. Alguns números nos permitem ver isto:

Os números da tabela mostram que o Brasil precisa melhorar muito. Dos quatro materiais apresentados, o único cuja reciclagem o Brasil se aproxima da Alemanha, França e Japão é o Alumínio. Este é, também, o único material que o Brasil recicla mais do que a Itália.

Portanto, se o país gera menos lixo e reutiliza mais, como acontece com as sacolas de supermercado, ele fica mais limpo. Mas, se além disto, ele também recicla mais, ele não só fica mais limpo, mas também protege melhor os recursos naturais do Planeta.

Separar

Mas, tudo isto só é possível porque o cidadão faz sua parte. Ele reduz, reutiliza e recicla. Mas, além disto, não joga nada no chão; não atira nada pela janela; não despeja nada na rua. Ao contrário, ele faz questão de levar tudo até a lixeira. Neste momento entra um fator igualmente importante: a separação. Os europeus já se acostumaram bem com ideia de que é preciso separar o lixo. As lixeiras são de pelo menos quatro tipos: papel, plásticos, vidro e outros.

Mas, além de separar, eles também dão o último passo: levam o lixo já separado até a lixeira. Eles não colocam nas suas portas; eles não colocam na rua; eles não colocam na porta do vizinho. Eles levam até onde as lixeiras estão.

Educar

Este avanço se deveu a três fatores principais. Primeiro, a oneração de quem não colabora. Quem consome mais descartáveis acaba tendo despesas maiores. Segundo, a conscientização quanto à importância de manter a cidade limpa e favorecer a reciclagem. Terceiro, o sistema de coleta eficiente que leva tudo – ou quase tudo – para a reciclagem.

Se a Europa, o Japão e Singapura conseguiram taxas de redução, reutilização e reciclagem tão altas como estas, é certo que nós também poderemos. É questão, principalmente, de conscientização da sociedade. Com uma pequena colaboração de cada um de nós, poderemos fazer da nossa cidade uma cidade mais limpa e mais bonita.

Não há dúvida: a solução para o enorme problema do lixo está principalmente nas mãos dos cidadãos. Nas mãos de cada um de nós.

(Portal iBOM / Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho / Imagens ilustrativas).

 

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