Lideranças do setor saem em defesa dos produtores de leite

[AGRONEGÓCIO] “Produtores estão trabalhando no vermelho”, diz Patrick Brauner. Valor médio pago pelo litro ao produtor caiu de R$ 3,32 para R$ 2,19 no último ano. “Produtores estão sendo lesados”, afirma Fúlvio Cardoso. “Leite importado desregula o mercado”, alerta Enes Fialho. “O impacto na economia em Bom Despacho e toda a região é enorme”, diz Pedro Adalberto. Ele contou ao iBOM que muitos produtores estão vendendo o rebanho e deixando a atividade.

Comitiva formada por lideranças do setor rural e do cooperativismo de Bom Despacho foi a Brasília/DF participar do II Encontro dos Produtores Brasileiros de Leite, que acontece no Congresso Nacional nesta terça-feira (31/12), a partir das 15 horas.

O encontro é promovido pela Frente Parlamentar de Apoio ao Produtor de Leite, Confederação Nacional da Agricultura e Organização das Cooperativas do Brasil. Seu objetivo é sensibilizar o governo federal para a grave crise que atinge os produtores de leite, especialmente pequenos e médios.

Produtores no vermelho

“Nosso produtor está trabalhando no vermelho, o que ele recebe hoje pelo litro do leite não paga os custos de produção. Ele não está sendo remunerado pelo seu trabalho”, afirmou Patrick Brauner, presidente do Sindicato Rural de Bom Despacho. ASSISTA AO VÍDEO de Patrick Brauner clicando AQUI.

Lideranças ouvidas pelo portal iBOM são unânimes: a queda acentuada no preço pago ao produtor se deve à importação indiscriminada de leite feita por grandes laticínios através do Mercosul, que entra no país com benefícios fiscais e chega aqui a preço mais baixo que o custo de produção do leite brasileiro. Além disso, dizem as lideranças, não há fiscalização efetiva do Ministério da Agricultura quanto à origem do leite importado e nem de sua qualidade.

Para o presidente da Cooperbom, Fúlvio Cardoso, “os produtores rurais estão sendo lesados” pelas importações de leite em pó. “Existe um ditado antigo que diz que enquanto 1 litro de leite pagar 1 kg de ração é viável produzir. Nesse momento, a conta já não está fechando porque 1 kg de ração está custando muito mais que 1 litro de leite”. ASSISTA AO VÍDEO de Fúlvio Cardoso clicando AQUI.

Valor caiu 34% em um ano

Levantamento a que o portal iBOM teve acesso mostra que há um ano, em Setembro/2022, o produtor da Cooperbom recebia em média R$ 3,32 por litro de leite. Já em setembro deste ano o valor médio recebido por ele pelo litro havia caído para R$ 2,19 – uma queda de mais de 34% no preço. Nesse mesmo período, medicamentos, alimentação do rebanho, salários, energia elétrica e outros custos subiram. “Muitos produtores estão deixando a atividade porque no final do mês recebem menos do que gastaram para produzir. Estão tendo prejuízo com a produção de leite”, afirmou Fulvinho.

Para Enes Fialho, diretor comercial da Cooperbom, o leite importado entra no país a preço muito mais baixo e desregula o mercado. “Enquanto os nossos produtores precisam investir para cumprir as exigências de qualidade, o leite importado não passa por esse mesmo crivo e há denúncias inclusive de leite em pó sendo reidratado para ser vendido no Brasil”. Fialho ecoa a afirmação do presidente Fulvinho e ressalta que “o pequeno produtor é o mais lesado” com a situação porque ele “depende 100% do leite” para sobreviver. ASSISTA AO VÍDEO de Enes Fialho clicando AQUI.

Impacto na economia local

Patrick Brauner, presidente do Sindicato Rural, vai mais longe. Ele afirma que “70% do leite vem de pequenos e médios produtores que vivem exclusivamente da atividade leiteira. Se nada for feito será uma tragédia econômica e social, pois muitas famílias vão abandonar a atividade” porque estão sofrendo “concorrência desleal” enquanto os laticínios importam “volumes recordes de leite”. Hoje, segundo Patrick, Bom Despacho produz entre 350 a 400 mil litros de leite por dia.

O presidente do Sicoob Credibom, Pedro Adalberto da Costa, alerta que “o momento é muito preocupante” porque “o produtor de leite está passando por uma situação muito difícil”. Segundo ele, “o impacto aqui em Bom Despacho e toda a região é enorme” já que a “atividade leiteira movimenta a economia local” e a desvalorização do leite “impacta no comércio, na área de serviços, na área financeira e em outros aspectos”. O presidente da Credibom confirmou para o iBOM que muitos produtores estão vendendo o rebanho e deixando a atividade. ASSISTA AO VÍDEO de Pedro Adalberto clicando AQUI.

“Por isso, unimos forças para negociar com o governo federal”, finaliza o presidente do Sindicato Rural, Patrick Brauner. “Queremos basicamente três coisas: o fim das importações de leite, a inclusão obrigatória do leite na merenda escolar e a prorrogação das dívidas de custeio e investimento dos produtores rurais junto aos bancos oficiais e às cooperativas de crédito”. (Reportagem, fotos e vídeo: Portal iBOM).

Legenda da foto: Patrick Brauner (esquerda), Fúlvio Cardoso, Enes Fialho e Pedro Adalberto (direita).

 

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