Iluminação de ruas e segurança pública

 

FERNANDO CABRAL – Costumamos pensar que aumentar a iluminação das ruas contribui para aumentar a segurança pública. No entanto, após oito meses em Portugal, percebo que as coisas não são bem assim. De dezembro de 2022 até setembro de 2023 zanzei pelo país de leste-oeste, de norte a sul. Foram mais de 15 mil quilômetros de carro e mais de mil e quinhentos quilômetros a pé.

No momento em que escrevo estou em Cracóvia, depois de passar por Varsóvia.

Nestas andanças, uma das coisas que me chamaram a atenção foi a ausência de iluminação pública intensa. Ao contrário: na maioria das cidades as ruas têm pouca iluminação. Muitas são bem escuras.

Claro, há exceções. Algumas praças ou ruas com atrações especiais costumam receber iluminação elevada. Mas são exceções.

Pois bem, apesar de a iluminação pública ser modesta, Portugal é o 5º país mais seguro do mundo, uma posição invejável A Polônia está em 26º lugar, uma posição ainda muito boa, principalmente se considerarmos que aqui há milhões de refugiados e o país é visitado por dezenas de milhões de turistas todos os anos.

As enormes praças e aleias da Cracóvia são ainda menos iluminadas do que as ruas de Portugal. Mesmo assim, os crimes são raríssimos.

Há pouquíssimos furtos, roubos e outras formas de violência nas ruas. Mesmo em cidades grandes não é raro as pessoas deixarem portas e janelas abertas, como se estivessem vivendo numa pequena cidade interiorana de antigamente. Ninguém tem medo de ter sua carteira batida, seu celular roubado, sua casa invadida.

Outra informação interessante: em Portugal a polícia não caça usuários de maconha e outras drogas. Lá são tratados como dependentes químicos, não como criminosos. Já na Polônia a maconha e todos os apetrechos para seu preparo e consumo são vendidos livremente em lojas com grandes placas nas portas.

Mesmo assim, com as drogas toleradas e pouca iluminação pública, a criminalidade é baixíssima. Estes dois fatos nos obrigam a repensar nossas crenças. Entre elas, a de que se as prefeituras colocarem mais iluminação nas ruas a criminalidade diminuirá. O contraste entre o que acontece no Brasil, de um lado, e em Portugal e Polônia do outro, mostra que o problema está em outro lugar.

A lição que fica é que devemos procurar as causas da violência urbana alhures, não na falta de iluminação pública. Na distribuição de renda, talvez? Na educação? Nas oportunidades oferecidas pela sociedade?

(Portal iBOM / Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho / Foto: PMBD).

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