Ser velho e viver a vida é tão bom

Vejo muita gente em restaurantes que nem se olham, ficam somente mexendo no celular. Ser velho é bom… (…) A conversa durante as refeições, a boa companhia, a própria comida, um bom vinho ou uma cerveja gelada valem muito mais do que mil fotos, em minha humilde opinião

ALEXANDRE MAGALHÃES – Hoje pela manhã recebi uma ligação de um amigo. Em algum momento da conversa, ele mencionou que não tem visto “posts” meus no Facebook, nem no Instagram. Acrescentei: “nem no TikTok, nem no Twitter… Só uso o Linkedin porque é profissional e uso para ganhar dinheiro”.

Meu amigo quis saber o motivo de eu me orgulhar de não usar as ferramentas que todos usam. Expliquei, com o velho defeito de um professor, que até a modernidade, a obra de arte era mais importante do que o artista. Com a chegada da pós-modernidade, o artista é mais importante do que a obra de arte. 

“O que isso tem a ver com usar ou não o Facebook?”, cortou-me. Expliquei que as Sonatas de Beethoven são mais importantes do que o próprio compositor. Mas, que no caso da Anita, ela é a própria obra de arte. Não importa o que ela canta, o que é relevante é a própria pessoa. E, com as mídias sociais, concluí, é a mesma coisa. “Antes, eu fotografava a Torre Eiffel. Hoje, eu tiro uma ‘selfie’ minha na frente do BigBen, com minha imagem tomando 90% da foto”.

Ele entendeu: o mundo hoje é para quem gosta de expor sua própria figura, não suas ideias.

Fotos nas matas de Bom Despacho

Quando corro nas estradas de terra de Bom Despacho, algumas vezes encontro amigos do grupo CorreBom também fazendo seus exercícios. Muitas vezes observo que eles e elas param no meio da mata para tirarem “selfies” ou fotos de si mesmos, só para “postar” em suas páginas no Instagram ou Facebook ou outra mídia social qualquer. 

Costumo comentar com minha namorada que acredito que se proibirem as “selfies”, 90% das pessoas parariam de correr, de ir à academia ou de se exercitar. A foto e a divulgação da mesma são mais importantes do que a própria atividade física, saudável e boa para a saúde.

Restaurantes instagramáveis

Há uns dias, a Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre restaurantes bons para “postar” fotos e chamou isso de lugares “instagramáveis”. Fiquei pensando se a comida é boa também ou só o lugar é bonito. Fujo dessas coisas…

A conversa durante as refeições, a boa companhia, a própria comida, um bom vinho ou uma cerveja gelada valem muito mais do que mil fotos, em minha humilde opinião. 

A última foto

Também recentemente vi um artigo no jornal sobre uma jovem que morreu tentando tirar uma “selfie” perfeita, no alto de um edifício. A tentativa foi tão radical para tirar a melhor “selfie” do mundo, que acabou caindo e perdendo a vida.

Um trem em meu caminho

Há uns dois ou três anos, surgiu uma “moda” na India, que consistia em tirar uma “selfie” bem pertinho de um trem em alta velocidade. Lembro de ter lido que mais de quarenta mil pessoas morreram atropeladas, esmagadas, trituradas pelos trens. Que bom que sou velho…

Vendo filmes ou séries e vivendo a vida

Minha filha, e vejo jovens fazendo isso aos montes, inclusive em Bom Despacho, costuma ver filmes ou séries no celular e fazendo um montão de coisas simultaneamente. Vai à academia e faz exercícios físicos enquanto “assiste” um filme ganhador do Oscar. Pergunto se entendeu alguma coisa da obra de arte e ela diz que prestou atenção em tudo. Quando peço um detalhe do filme, ela não sabe nem que aquela cena aconteceu…

Ser velho é bom

Não quero algumas coisas “jovens” para mim. Quero continuar a ler meu livro bem focado, prestando atenção em cada palavra. Adoro ir ao cinema, no escuro, ficar o tempo todo olhando a tela e entendendo a história, os detalhes das caras e bocas dos artistas. Conversar com os amigos olhando nos olhos deles, degustando cada palavra que a namorada está falando, presente totalmente quando estou fazendo alguma coisa.

Vejo muita gente em restaurantes que nem se olham, ficam somente mexendo no celular. Ser velho é bom…

Gosto de andar por Bom Despacho

Nunca usei a lotação em Bom Despacho e uso bem pouco o carro na cidade. Meu maior prazer é fazer tudo a pé, olhar as paisagens, parar no Na Praça Lanches, no Vila Monte, ou na Maria Doce para tomar um café espresso, reparar nas mudanças que a cidade está passando, ver as coisas acontecendo, encontrando amigos e pessoas conhecidas pelas ruas.

Ver Bom Despacho do alto

Um de meus maiores prazeres em Bom Despacho é caminhar pelo Bairro Esplanada, subir a ladeira que dá na Igreja São Sebastião, lá no alto, sentar-me na mureta em frente à igreja, preferencialmente no final da tarde, e observar partes da cidade e ver o sol se pôr. 

Se eu fosse mais jovem, possivelmente “aproveitaria” meu tempo olhando fotos de gente feliz no Facebook ou no Instagram, ou tirando uma “selfie” com o pôr do sol em quinto plano, lá atrás, bem pequenininho. 

Entendo que as mudanças tecnológicas são ótimas para muitas coisas… mas, ser velho, muitas vezes, é tão bom, fazer uma coisa de cada vez, prestando atenção a detalhes, a lindas flores, a belas borboletas, atenção à vida, enfim.

(Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por BD e SP)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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