Detalhes e comentários dos leitores
LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – Os leitores desta coluna sempre deixam comentários muito inteligentes e que sempre surpreendem positivamente a mim. Agradeço a todos vocês.
Fiquei bastante impressionado, especialmente, com a história da santa do povo de Bom Despacho, Berenice. A dois desses leitores, Laércio Ribeiro e Rita de Cássia Fidélis, e, em especial Laércio, agradeço especialmente. Ele obteve uma das raras imagens de Berenice que existem, bem como um simpático texto a respeito. Laércio disse-me que essas crônicas o fazem viajar no tempo, o que é um elogio encantador. Agradeço imensamente.
E qual não foi minha surpresa quando, ao procurar dentre os comentários feitos no site do Jornal, deparei-me com uma crônica pronta escrita por Alex Souza, que reproduzo aqui.
Berenice, a santa do povo
Texto enviado por Laércio Ribeiro
“Em 03/12/1927 nascia na cidade de Juiz de Fora uma mulher que veio a se tornar uma Santa em Bom Despacho.
Berenice dos Santos Almeida. Em sua vida, nunca curou, fez milagres ou benzeu alguém. Era uma mulher comum, simples, honesta, trabalhadora.
Uma mulher exemplar, muito bonita e cheia de vida. Morreu jovem, aos 34 anos, em 09 de setembro de 1961.
A partir de sua morte é que começaram a atribuir-lhe milagres. Não se sabe o porque, mas quem a ela recorre é atendido.
Berenice recebe constantes pedidos como arrumar emprego, passar de ano, resolver problemas conjugais, solucionar problemas financeiros e etc.
São milhares de pessoas, sem exagero, que solicitam ajuda de Berenice e são atendidas em seus pedidos. Basta ir ao cemitério velho e observar o constante vai e vém de fiéis em seu túmulo. As visitas se intensificam mais nos meses de setembro e novembro.
Em muitas cidades onde há os “Santos do Povo” a comunidade dá valor, a Prefeitura faz capelas, túmulos, sala de milagres e etc, mas em Bom Despacho, não sabemos o porquê, não se preocuparam ainda com este fato.
Berenice é a Santa do Nosso Povo. A Santa que o povo escolheu e conhece de perto. Berenice ama o povo de Bom Despacho pois o ajuda tanto e os que a procuram gostam muito dela.
Vamos amar mais e dar mais valor a essa mulher que há quase 40 anos vem nos ajudando e protegendo”.
Detalhes, de Roberto Carlos, e o camburão na serenata na Praça São José
Texto enviado por Alex Souza
“Bons tempos das famosas serenatas. Lá pelo idos de 1983 um amigo estava arrumando um namoro ali pelos lados da Praça São José. Preparou as canções de Roberto Carlos, afinou os violões, chamou os amigos e arrumou até flores.
Na primeira dedada nas violas apareceu o camburão da PM:
– Quê isso aí?
Corri na veraneio:
– É só uma serenata curta; já vamos parar…
– É você Baiano? Perguntou o guarda, que conhecia meu pai e me conhecia do Colégio Tiradentes.
– É né, sou eu, respondi. E a turma cantando e tocando (…detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes pra esquecer…)
A voz dos cantores deu uma rateada, mas todo mundo jura que não. Fazer o que!
– Tem golo? Perguntou o policial.
Achei que ele ia querer e falei:
– Não, Não. A gente não bebe…
E o guarda avisou ao sair:
– Ok. Tamo na área. Se der alteração já sabem, né?”
Serenata com toca discos na mão
Texto enviado por Alex Souza
“Outra namorada e outra serenata, agora sem violão. Inventaram de levar um pequeno toca discos, daqueles com agulha e uma caixinha de som na tampa. Um som horrível.
Colocaram uma música internacional e um amigo segurava o aparelho. Salvo engano um sucesso que toca até hoje: Please don’t go, de KC & The Sunshine Band. Só que o amigo, sacaneando, deixava o aparelho virar na mão, um pouco, de propósito.
Please don’t go
Don’t go “uououou”
Don’t go away
Please don’t go
Don’t go “uououou”
I’m begging you to stay
Amigo é assim: ajuda a perder a namorada, mas não perde a brincadeira”.
(Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor).
Olá Prof Lúcio Emílio Jr, sempre estou por aqui para acompanhar as notícias da nossa Terra Querida, de tanta histórias, estórias e memorias afetivas. Alguns casos participei e outros ouvi; as lembranças vão sendo reavivadas. Não sou Forrest Gump nem Pantaleão, mas me lembro de alguns “causos”:
SERENATA III – REGIÃO DA CHÁCARA DA PEDREIRA
Nessa eu não estava, mas ouvi os amigos contarem a presepada. Eles chegaram de mansinho para tentar fazer uma surpresa, salvo engano no aniversário de uma garota. Pularam a grade e adentraram na varanda do imóvel.
Sabiam que não havia cachorro na casa; cachorro é danado para estragar serenata latindo, uivando em 2ª voz ou botando a turma para correr. É bom se prevenir.
Mas em serenata que é serenata tem que haver algum rolo. Na casa visitada já se sabia que não havia cachorro, mas um “jerico com ideias” acompanhou a turma. Todo “requenguela”.
Havia na varanda uma cadeira de ferro e o camarada resolveu dar uma espreguiçada antes do primeiro acorde no violão. A cadeira de ferro tombou para trás com o sujeito e foi aquele barulhão; luzes se acenderam e o pai da moça abriu a janela. O “jerico” de pernas para o ar no chão e as “ideias” esparramadas na varanda.
– Ainda bem que são vocês. Levei um susto danado pensando que fosse ladrão. Vocês querem entrar?
– Não, não. Nossa intensão não era incomodar, disse alguém. Tocaram umas duas canções, colocaram a viola no saco e foram embora rindo daquilo tudo. E o “jerico com ideias” se justificando.
FOGUETE ACESO DENTRO DO BAR
Nos idos de 1970, como contava uma galera animada da região do “Jardim Sem Flor”, o pessoal decidiu constituir uma turma de carnaval. Reuniram os amigos e mandaram fazer camisas. Melhor não mencionar os nomes; apenas o feito. Um conhecido meu, ao ser chamado, sempre respondia desconfiado: – “Oi, pode falar. Sei de nada, nem vi nada. Se perguntarem eu nego tudo”.
Ninguém bebia. Mas deram à turma o nome de “Canabrava”. Ansiosos para curtir a festa saíram com as camisas na sexta-feira para um esquenta ali não região do antigo Posto Pajé, mais precisamente no Gato Preto Bar (muitos conheceram o lugar como Perdidos na Noite).
Era um bar sempre bem movimentado, com algumas mesas ao ar livre; no interior paredes sempre limpas e um balcão arredondado. No teto havia uma linda treliça de madeira envernizada. Um show. Marcou época na cidade.
Ocorre que um “Canabrava” comprou um foguete e ficou com aquilo na mão no interior do bar, sob a treliça; outro “Canabrava”, mesmo com o bar lotado, entendeu que era boa ideia chegar no pavio um cigarro aceso sem o companheiro ver. O artefato foi detonado e foi uma correria geral, com acionamento da polícia.
Os “Canabravas” vazaram e esconderam as camisas. Alguém acionou a polícia; o nome da turma ficou em evidência. Naquele tempo, auge da ditadura, se alguém dava alteração nos eventos de carnaval costumava ser preso no xadrez e solto só na quarta-feira de cinzas; se o Zorro fosse preso e faltasse vaga liberavam alguém para recolher o mascarado. Até isso era difícil.
A polícia saiu à procura dos integrantes da turma por causa da treta no Gato Preto Bar; haviam “atravessado o samba e desafinado”. Foi este o triste fim dos “Canabravas do Jardim Sem Flor e Sem Carnaval”. Dizem por aí que o bar, pelo susto, virou Gato Branco até meia-noite; mas se recuperou, ficou bem e continuou Gato Preto.
ÉTER COM MERTIOLATE NO TRASEIRO RALADO
Um calor danado no “Campo da Associação” e rolava uma preliminar dos famosos “cascudinhos”. Para quem não entende de futebol amador, cabe um registro: o cascudinho era formado pela turma “pé-de-rato”, por ex-jogadores do quadro principal e pelos jovens que estavam começando no time.
Ruim de bola como sempre fui joguei em alguns “cascudinhos”; a ruindade era tanta que eu era reserva.
Era uma aventura jogar: almoçar mais cedo para não ter uma “congestã”, começar a partida no máximo às 13:15 horas (não havia iluminação e jogo do 1º Quadro tinha que começar até 15:30 horas). Sol rachando mamona e nem um bebedouro ou água gelada à disposição na preliminar; por isso o “cascudinho” também era chamado “esfria sol” ou “2º quadro”. Mas a gente gostava de jogar.
No estádio até havia um bar, contudo, o responsável sempre tinha a desculpa pronta: – “Só tem Coca, Fanta, Crush, Grapette e Guaraná quentes; o cara que entrega o gelo me deu o cano”. Mentira. Ele só ia resolver isso quando o povo chegava para assistir o jogo do 1º Quadro.
Nessa partida em particular um cabra mais entusiasmado resolveu dar um “carrinho” para tirar a bola de um adversário; acabou ralando o traseiro e ficou deitado a rolar no chão.
Aí entrou o “massagista” correndo com uma bolsa; no interior dela a panaceia contra todas as contusões no futebol amador: um vidrão de éter e um vidro menor com mertiolate (aquele remédio que as crianças “vazavam na braquiária” só de ouvir as mães falarem).
Hoje as coisas mudaram o o futebol amador também conseguiu um pouquinho da “água milagrosa” dos times profissionais.
Voltando ao jogo e ao incidente, a popa ralada do cabra que deu o carrinho lembrava a música do Djavan (Faltando Um Pedaço); parecia que haviam passado o traseiro dele no ralo de fazer doce de mamão.
O carinhoso “massagista” chegou e deitou éter com mertiolate no lugar ralado. Até achei que era bálsamo. O cabra se levantou num pulo. Vi aquilo e pensei: esse remédio é bom mesmo; o cara estava rolando de dor no chão e já se levantou xingando e querendo bater no massagista! Sarou.
ATÉ A VOLTA DO CAMINHÃO LEITEIRO
Certa feita juntamos uma turma de meninos da Rua da Olaria e do Bairro Santa Ângela e embarcamos para um jogo de futebol na Garça; fizemos o check-in na Praça do Rosário, cada um pagou umas moedas e embarcamos na carroceria de um caminhão, sobre os latões de leite.
O mais bizarro disso era a duração da partida. O leiteiro tinha uma rota com muitas fazendas para visitar; enquanto ele ia fazer o percurso recolhendo o leite a gente jogava. Apontava o leiteiro o juiz encerrava a partida e nós subíamos correndo ao caminhão; se ficasse para trás só pegando carona ou aguardando o leiteiro no dia seguinte. Futebol é ou não é para quem gosta?
CASCAVEL & COLORIDO EM AREIAS
Na comunidade de Areias, Leandro Ferreira, fui passeando, mas acabou sobrando uma “boca” no cascudinho do Tupi, da Tabatinga. Não era bem uma “boquinha”; ou jogava eu ou o time ficaria com um a menos, pois faltou uma pessoa. Então entrei.
Mais ou menos como aquela pelada entre amigos que não pode ser paralisada. Alguém sempre fala: – “Estou machucado”. – “Sem problema, respondem, você pega no gol; se marcarem do lado machucado não vale”. O espetáculo não pode parar.
Fui a campo e a comunidade local reunida no barranco para ver a partida. Os estimados atacantes Colorido & Cascavel eram os destaques do cascudinho do time local. Gente boa. Aliás, nas andanças futebolísticas erámos sempre muito bem acolhidos por onde andávamos. Povo da nossa região é povo de paz.
Na partida a bola saiu pela linha de fundo. Nosso goleiro retardou a reposição de bola. Então o bravo Cascavel veio e chutou a bola para o fundo do nosso gol. Saiu comemorando com o Colorido e os companheiros.
E aí começou a saga do juiz para explicar ao Cascavel que aquele tipo de gol não valia. E Cascavel insistindo:
– Juiz autorizou, ele não bateu e a bola é nossa. É claro que ele sabia a regra, mas para ganhar a partida valia tudo, inclusive a balançada de chocalho do artilheiro Cascavel. Só faltou exigir que fosse “o gol do Fantástico”.
Coisas do futebol amador e do jogo dos cascudinhos: “dois num é falta”, “prensada é da defesa”, “pode sair e voltar no lugar de outro” e improvisos do tipo. O juiz tinha que se desdobrar para explicar as coisas; mas sempre havia alguém parecido com o imparcial e famoso “Cidinho Bola-Nossa” para ajeitar tudo.
Como dizia o famoso humorista Chico Anysio, “depois eu conto o resto”… deixando este registro como homenagem a muitos que jogaram nos “cascudinhos”. Turma boa que nunca reclamava e jogava por prazer. Sem eles não havia como treinar o 1º Quadro ao longo da semana, sem falar que eles todos iam para a arquibancada torcer para o Quadro Principal, organizavam a charanga, recolhiam o material como uniformes e bandeiras. Também aos povoados nas redondezas de BD e aos amigos aqui lembrados.