Maestro Coimbra 115 anos: resposta ao tempo

LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – O escritor Alberto Coimbra, leitor desta coluna, é fã dos escritos de Tadeu Teixeira e dos meus. Igualmente, gosto muito dos textos dele e da irmã Denise. Meu avô Mário Morais e o avô dele (José Coimbra Milagre, o Juquinha Coimbra) foram amigos. Meu avô Mário também tocava. Mário e Juquinha conheceram-se em Santo Antônio do Monte, no distrito de Coqueiros, nos anos 20 do século passado, quando Juquinha foi jogar uma partida de futebol por lá: “belo e elegante moço de porte atlético, maneiras finas e educadas”, escreveu meu avô Mário sobre ele no livro Rastros na Poeira.

Juquinha Coimbra chegou a executar em público uma música em homenagem a Mário, celebrando carinhosamente essa amizade. A canção, escreveu Mário, era uma sentimental valsa que o emocionou muito. E, para meu avô, teve um sentido quase místico. Vovô Mário admirava muito aquele exímio instrumentista, tão musical que conseguia tirar música de qualquer objeto que lhe caísse na mão, mesmo que fosse uma folha de papel, bem como propunha-se a tocar qualquer instrumento que pudesse ter tempo de treinar e dominar.

Lançamento de CD

Recentemente, Vinícius Coimbra, irmão de Alberto e músico também, lançou um CD comemorando os 115 anos de nascimento do “Juquinha”. São dez músicas, nove do maestro Coimbra e uma música do pai deles, Jair, uma canção chamada Infeliz. Dentre as nove canções de Juquinha Coimbra, uma delas, intitulada “Teu Sorriso era Assim”, é um foxtrote elogiado por meu avô em Rastros na Poeira e tem, atualmente, uma interpretação disponível no youtube, no canal de Pedro Lima (ASSISTA CLICANDO AQUI).

A morte de Maurílio

Alberto perdeu o irmão Maurílio recentemente. Quase quarenta anos atrás, em 7 de fevereiro de 1984, a família foi marcada pela perda prematura de outro irmão, o saudoso Maurício Coimbra que, por sua vez, foi amigo de meu tio Bil. Maurício também tinha o dom musical que caracteriza a família, como lembra Alberto em Resposta ao Tempo:

Pela primeira vez depois de trinta e cinco anos, escrevi sobre nossas últimas palavras e o que me restou da lembrança dessa imagem. Ele era magro, alto e belo. Lembro-me de uma vez em nossa casa quando ele me emocionou ao tocar no piano a música Trois Gymnopédies, de Erik Satie e fui me aproximando do piano para vê-lo tocar. Ele era economista, trabalhava na Seplag, falava três idiomas, bom de bola, tocava piano e namorava a mineira Cássia Eliane Gerep.

Alberto é um leitor ávido, afetivo e sistemático. Denise Coimbra também já escreveu crônicas nesse Jornal de Negócios e ofertou a mim o livro de contos 54, Rua da Alfândega, que há bem tempo estou para resenhar aqui. Esse nosso leitor querido escreveu a respeito da perda recente:

O meu irmão Maurílio Coimbra disse que a pessoa deve ser pura de coração. O escritor João Guimarães Rosa escreveu o livro Grande Sertão Veredas, livro que convoca as pessoas a serem mais simples e puras como bem dizia meu irmão Maurílio. Aliás, Guimarães Rosa ao se atirar em peregrinações com tropeiros e retireiros pelo Sertão Norte de Minas Gerais e ter lançado o seu célebre livro Grande Sertão Veredas, convoca a toda humanidade para a procura de se relacionar uns com os outros sem as fáceis vaidades de intelectuais e ainda relacionarmos de uma forma natural, simples, representada na amizade de Guimarães Rosa com o sertanejo Miguelão no seu livro Grande Sertão Veredas, [livro] onde ele aparece sem orgulho, cinismo e soberba. Maurílio era um ser de paz, com paz para a paz. Viveu de forma sofrida com esse sentimento, pois queria ser santo. Como ser ele mesmo não bastasse. Por fim, ele descansou de seu desejo e sofrimento. Como todo ser humano, ele desejava ser algo que o consumia ao mesmo tempo em que ele atingia seu objetivo, mas não se dava por satisfeito com suas conquistas. Por fim, a sua doença, [a] esquizofrenia fez dele um coração, mas não o fez simples.

E, parafraseando meu avô Mário (que tanto sonhou com o resgate da obra do amigo Maestro Coimbra), espero que estejam todos agora unidos no céu, recebendo alegremente o filho Maurílio com retretas, o seu pai Jair e o maestro Coimbra lá com sua batuta.   (Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor).

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