Netos de Guilhermino e Martinho

 

Geraldinho Rodrigues (Foto: Arquivo pessoal)

Minha amizade com o Tadeu nasceu por volta do ano de 2003, ocasião que publiquei meu segundo livro, cujo título é Gente de Minha Terra Em Contos do Vale.

Meu primo Dilermando Cardoso procurou-me sugerindo que eu enviasse um exemplar ao Tadeu. Respondi a ele: você está louco? Isso não é obra para doar a um professor do nível de Tadeu Araújo, de forma nenhuma! Sou um matuto sem nenhuma formação superior, minha linguagem coloquial está muito aquém de um intelectual como ele. Ele me respondeu: – Você precisa conhecer o Tadeu e vai saber como ele pensa e o valor que dá à cultura de nossa terra.

Dilermando acabou me convencendo e levou o livro a ele. Na semana seguinte ele publicou uma matéria em sua coluna do Jornal de Negócios me colocando lá nas nuvens como se minha obra fosse um clássico! Seu gesto e suas colocações a respeito do livro foram para mim uma injeção de autoestima. A partir daí, não parei mais de escrever e descobri que a atitude de escrever bem ou mal, mesmo que não haja acontecimentos relevantes, é no dia a dia do cotidiano de uma sociedade que a história acontece. Se alguém não a registra através da escrita ela se perde no tempo, seu povo fica sem identidade.

Em 2012 tive mais uma surpresa, ao receber visita deste ilustre amigo Tadeu Araújo me convidando para a fundação da Academia de Letras de Bom Despacho (ABDL). Recusei, é claro, e o agradeci, justificando não ter uma bagagem literária à altura. Mas ele não aceitou minha recusa e pediu-me que pelo menos eu participasse de uma reunião onde iriam discutir a respeito daquele objetivo. Aceitei mais por gratidão a ele. Compareci no dia marcado, só que já estavam com o grupo formado com a cadeira número vinte destinada a mim. Não tive como fugir.

A partir daí tornamo-nos parceiros e colegas de Academia.

Ele se dispôs a fazer as correções e prefaciar meus livros e ainda passou a divulgar minhas obras em sua coluna no Jornal de Negócios.

Recebi uma série de homenagens, tudo isso graças a ele que se tornou o responsável por todas as minhas condecorações, embora eu não mereça!

Por ocasião do centenário da Escola Maria Guerra eu descobri um fato curioso através da ata que foi lavrada no dia do evento. Vale a pena refletir sobre ele. Ao escrever o livro do centenário, o qual foi corrigido e prefaciado pelo Tadeu, eu cheguei à conclusão que temos algo em comum. Ao inaugurarem a primeira casa de escola no dia 15 de março de 1.917, em plena mata virgem, semente que deu origem ao povoado do Engenho do Ribeiro, houve um encontro de almas que solidários estiveram presentes enaltecendo aquele acontecimento em prol do bem comum. Meu avô Guilhermino e Martinho Fidelis, avô do Tadeu, imagina caro leitor, como a vida e o tempo tem seus caprichos. Cem anos se passaram e em dois mil e dezessete, novamente dois encontros de almas solidárias registrando a história, os dois netos de Guilhermino e Martinho, um escrevendo e o outro corrigindo e prefaciando o livro do centenário da mesma escola. Esses pequenos detalhes são como os cascalhos brutos que depois de lapidados pela literatura irão perpetuar no baú das lembranças guardados no cofre da história!

Geraldinho Rodrigues é produtor rural e escritor

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