Vultos e fatos da independência de BD: o Coronel Tininho
Esta crônica está fundamentada em antigos jornais e inúmeras fontes históricas de arquivo pessoal do Dr. Nicolau Teixeira Leite, um dos maiores conhecedores das origens, da história e dos personagens de Bom Despacho. Aqui nascido em 1897, aqui faleceu em 1994, aos 97 anos. Em 1912, na data festiva da instalação de nosso município e da cidade, ele tinha já 14 anos. Conheceu e curtiu grandes vultos da terra como o Cel. Tininho, Pe. Nicolau, Pe. Augusto, Faustino Teixeira, Dr. Miguel, Dr. Hugo Gontijo, Profa. Chiquinha Soares, Maria Guerra e outros.
Prestou inúmeros benefícios ao nosso povo e a nossa cidade como líder na Santa Casa, na Paróquia, na Sociedade de S. Vicente de Paulo, na ABAP, advogado e como professor e diretor da Escola E. Miguel Gontijo, como prefeito, vereador e presidente da Câmara Municipal. O cidadão e escritor Mário Morais e cronista de jornal (in memoriam) escreveu que Dr. Nicolau foi o maior vulto da história de Bom Despacho no século XX.
Fiz consultas também em textos jornalísticos do Pe. Vicente Rodrigues e do cronista Paulo Teixeira Campos de O Bom Despacho.
Grato a todos e também ao Eurico Chaves e Nicomedes T. Campos, editores do jornal.
O Coronel Tininho
Vale a pena saber que Faustino Assunção (o Coronel Tininho), nascido em Abaeté, mas filho adotivo muito extremado de Bom Despacho, encorajado pelo velho vigário da paróquia (Pe. Nicolau) e por seus companheiros de conquistas, em agosto e setembro de 1911 permaneceu por quase um mês em Belo Horizonte, capital de Minas, pequena cidade com somente 14 anos de idade, a atormentar os políticos e a incomodar os que governavam até que lhes dessem a segurança de que a sua terra não mais veria decorrer o ano seguinte como tributária de outro município. Vale a pena saber que isto custava um pouco mais de renúncia, de boa vontade do que hoje seria exigido.
A exaustiva viagem
Em 1911, uma viagem a Belo Horizonte se fazia em 3 dias: 6 léguas a cavalo e no segundo dia, ia-se até Felipe Galvão, onde se pegava um trenzinho infame, e no terceiro dia, por uma linha nova, há pouco inaugurada, sem horário e sem segurança, chegava-se à capital, quando a chegada não ficasse para o outro dia.
O corre-corre dos líderes e a reza do povo
Na capital, o corre-corre o espera com seráfica paciência, o andar quando preciso e o parar quando necessário. O deixar para amanhã aquilo com que se contava hoje e não ter pressa numa angústia de tempo… O sorrir sempre para todos, embora muitas vezes cansado de acariciar com o arminho da alegria.
Cá na aldeia o povo reza numa sofreguidão que vale por todos os martírios.
A maior de todas as notícias
Até que numa memorável tarde de setembro, um despacho telegráfico, mandado ao vigário da paróquia por via da estação de Paramirim e trazido pelo correio, vem dizer a todos de uma vez que está assegurada a independência municipal.
Quatro dias depois, a futura vila entrava em sua roupagem de festa para receber a mensagem viva da sua emancipação na pessoa do Coronel Tininho, do filho que regressava triunfante.
Preparativos para o grande dia
O tempo que decorreu até 1º de junho de 1912 foi de entusiástica preparação. Levantou-se o Paço Municipal, prédio para a sede da prefeitura e o edifício para o primeiro grupo escolar, também obtido na mesma época, o que demandou muito trabalho e penosos sacrifícios, considerando as exíguas possibilidades econômicas do tempo. Mas tudo se fez e, em 1º de junho de 1912, como não estivesse concluída a construção do edifício destinado ao município, a sua instalação, e consequente funcionamento da Câmara Municipal, se fez no salão da Santa Casa de Misericórdia, situada no velho casarão do Miguel Dias desde 1903, quando fora ali instalada num terreno que compreende hoje o Clube Bom Despacho e o lote da Escola Cel. Praxedes.
A eleição dos vereadores e do presidente
A Câmara se compunha de 7 vereadores: vereador especial: Gustavo Lopes Cançado, 295 votos. Pe. Nicolau Ângelo del Duca, 206 votos. Faustino Assunção (Tininho), 193 votos. Faustino Teixeira, 189 votos. Francisco Lopes Cardoso, 188 votos. Manuel Marques Gontijo, 177 votos. E Antônio M. Gontijo Filho, 177 votos. Outros candidatos votados: Vital Campos, 7 votos. Manoel Gontijo, 5 votos. Altino Teodoro da Costa, 2 votos.
A Lei N° 13 de 21/06/1913
Na reunião preparatória, presidida pelo Pe. Del Duca, foi eleito presidente da Câmara o Coronel Tininho. Não havia eleição nem a denominação de prefeito naquela época, e o Presidente da Câmara assumia também o cargo de Chefe do Executivo e então de prefeito.
No ano seguinte, pela Lei N° 13, de 21 de junho, foi instituído dia da festa municipal a data de primeiro de junho, até hoje celebrado como o dia do aniversário da cidade.
Registros históricos
I – O primeiro capelão da ermida de Nossa Senhora do Bom Despacho chamava-se Pe. Francisco de Assis. Isto em 1801.
II – Em 1812, o alferes Manuel Tavares da Silva conseguiu de D. João Vi, então “por graça de Deus, Príncipe Regente de Portugal e Algarves daquém e dalém mar, “a licença para a ermida se tornar capela pública”. Já então o Padre se chamava Miguel Dias Maciel.
III – Hoje afirma-se que nosso município possui mais de 60 mil habitantes. Em 1911, ano em que foi aprovada a lei estadual, que criou o nosso município, a população de Bom Despacho era de 1.544 pessoas, assim distribuídas: adultos masculinos: 483; femininos: 606; crianças do sexo masculino: 187; do sexo feminino: 143; velhos dos dois sexos: 125. Casas, incluídas as de capim: 289.
IV – O território que hoje forma o município de Bom Despacho já pertenceu a 3 cidades de Minas: de início a Mariana, primeira capital do Estado. A partir de 1715, a Pitangui, a Vila do Ouro. E a seguir, no século XIX, já havia o arraial e éramos distrito de Santo Antônio do Monte, cujo primeiro nome foi Iaúma, até a instalação da Vila de N.S. do Bom Despacho, em 1912.
V – No dia 1º de junho de 1961, o jornal “O Bom Despacho” anunciava que “comemorando o jubileu de ouro, Bom Despacho receberá o melhor presente! TELEVISÃO – Belo Horizonte, Rio e São Paulo. A TV BOM DESPACHO que será inaugurada dia 1º de junho de 1961 fazendo parte dos festejos de aniversário da cidade”.