O (re)encontro na antiga piscina da Mata do Batalhão

 

Naquele local, há 50 anos, Eloisa e Raimundo se conheceram. Casaram-se e fizeram carreira no Norte do Brasil. Após meio século voltaram para viver em BD.

ROBERTA GONTIJO ARAÚJO TEIXEIRA – Algumas vezes tive a oportunidade de ir embora e construir a vida em outros lugares, mas no final das contas, sempre arrumei minhas malinhas e pus o pé na estrada de volta pra ca.

Acredito que a vida e nossos amores moram quase sempre nos detalhes, no prazer da rotina diária que buscamos pra tornar tudo mais aprazível e um pouco mais seguro e é isso que morar em Bom Despacho representa pra mim: aconchego.

Bom Despacho tem as delícias de uma cidade interiorana, como a intimidade entre os habitantes, a segurança de se caminhar pelas ruas sem medo, um trânsito sem engarrafamentos diários e um ritmo de vida menos frenético.

E claro, como todo lugar que nos é caro, Bom Despacho tem suas peculiaridades: a linda Vila Militar, a exuberante Matriz, as estradas de terra acessíveis que nos permitem corridas, caminhadas e pedaladas no meio do mato, a mata do Batalhão, que eu particularmente amo e as pessoas que acabam se tornando, todas, queridos familiares.

Aqui a gente ainda consegue achar tempo pra fazer de tudo um pouco. Além do mais, apesar de pequena, a cidade conta com bons cursos de idioma, boas escolas, boas academias e, ainda que em número reduzido, com gostosos botecos e restaurantes.

Eloisa e Raimundo de volta às ruinas da piscina onde se conheceram há 50 anos, na Mata do Batalhão.

É verdade que ainda há muito por fazer: temos poucas opções de emprego, o aproveitamento e a coleta seletiva do lixo ainda engatinham, as queimadas intencionais são inúmeras, particularmente nos períodos de seca. São restritas as opções de lazer e cultura… mas acredito que essas mudanças competem a nós – que fizemos a opção de aqui viver – realizar, ainda que lentamente, ainda que com pequenas contribuições.

Mas não é sobre minha relação com Bom Despacho que quero falar.

Gostaria de contar sobre um casal que conheci há pouco e casualmente, em virtude das minhas histórias e paixões pela Mata do Batalhão.

Sérgio Rodrigues, meu dermatologista e amigo querido, ligou-me desejando saber sobre uma suposta piscina no interior da Mata do Batalhão. Contou-me sobre um casal de amigos e seu filho que desejavam encontrá-la mas não estavam conseguindo. Prontifiquei me a ajudar e levá-los às ruínas da piscina, o que pra mim, de fato, foi uma alegria.

Contatos trocados, numa manhã fria e ensolarada, nos encontramos na Panolli, fizemos as devidas apresentações e fomos para a nossa exploração. O passeio, claro, foi intercalado por deliciosas narrativas e muita emoção.

O filho do casal, Otávio, na verdade queria levar os pais à piscina, porque eles iam comemorar 50 anos de relacionamento e tinham se conhecido ali, na antiga piscina da Mata do Batalhão.

A história e as ruínas dessa piscina sempre me emocionaram. Acho fantástico que, em 1944, tenha sido construída, no meio daquela mata linda, frondosa e cheia de bichos uma piscina olímpica para uso da população e depois ampliada e amplamente utilizada.

Bom, retomando a história, o casal Maria Eloisa de Oliveira Gama, bom-despachense, com origens no povoado do Vilaça, encontrou, em agosto de 1972, nas dependências da piscina da mata, o então aspirante Raimundo Otávio da Costa Gama, hoje coronel da Polícia do Estado do Pará. Namoraram a maior parte do tempo à distância, trocando cartas e encontrando-se apenas nas férias do meio e fim do ano.

Eloisa e Raimundo no seu casamento

Em janeiro de 1975 casaram-se, construíram suas vidas no Pará, tiveram 3 filhos: Vivianne, Mara e Otávio (que foi o intermediário de toda a conversa, do encontro e também o atento fotógrafo do passeio).

Maria Eloisa formou-se bióloga pela Universidade Federal do Pará, fez um belo e diferenciado trabalho por lá, apresentou projetos e contribuiu com o meio ambiente da região, como servidora da Assembleia Legislativa do Estado do Pará.

Hoje se aposentou e adivinhem? Voltou com seu coronel para Bom Despacho não apenas para revisitar o local do primeiro encontro – onde tive o grande prazer de leva-los -, mas resolveram aqui morar.

Revisitando e andando com eles pela mata, pude usufruir de deliciosas companhias e apreciar o dinamismo, empolgação, inteligência e sensibilidade com que eles vivem e lidam com o entorno. Foi um presente conhecê-los e presenciar o retorno deles ao local do primeiro encontro, com direito a lembranças, papos, risadas, aventuras e cliques.

Fico feliz que tenham escolhido Bom Despacho pra morar. Acho que têm muito a contribuir para que esta cidade se torne ainda mais promissora e aconchegante.

Parabéns, Bom Despacho, pelos seus 110 anos! Parabéns, também, ao casal Maria Eloisa e Raimundo pelos 50 anos de relacionamento e paixão pela vida que ainda exalam!

Obrigada, Otávio e Serginho por me proporcionarem tão prazeroso encontro.

Roberta Gontijo Araújo Teixeira é servidora pública federal.

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