Mães não são todas iguais
Não sou fã de efemérides, ou seja, de comemorar datas criadas pelos homens para fins específicos. Claramente, o Dia das Mães é uma efeméride criada para homenagear de forma justa algo que é comum a todos nós, que é o fato de que todos temos uma genitora. Com o tempo, esta efeméride virou uma data comercial, cujo principal objetivo é vender produtos. Mas, vale a pena entrar na brincadeira e dizer “feliz Dia das Mães”!
Claro, cada mãe é diferente da outra, a não ser pelo fato de que todas pedem para os filhos levarem uma blusa de frio quando saem de casa…
Quem lê esta coluna frequente ou ocasionalmente, sabe que adoro citar letras de músicas. Vou homenagear alguns tipos de mães, tomando emprestado as composições musicais brasileiras.
Mães do tipo “meu guri”, do Chico Buarque.
São aquelas que amam incondicionalmente seus filhos, sem saber exatamente o que eles são, como ganham a vida, se estudam ou não… aqui um pouco da letra da canção: “Chega suado e veloz do batente / E traz sempre um presente pra me encabular / Tanta corrente de ouro, seu moço / Que haja pescoço pra enfiar / Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro / Chave, caderneta, terço e patuá / Um lenço e uma penca de documentos / Pra finalmente eu me identificar…”.
Mães do tipo “pedaço de mim”, também do Chico Buarque
São aquelas que perderam um filho ou filha e levam esse luto para o resto da vida. Mantém quartos, roupas e objetos do filho intactos, dedicando sua vida a lembrar do filho ou filha que se foi. Um trecho da música: “Que a saudade é o revés de um parto / A saudade é arrumar o quarto / Do filho que já morreu…”
Mães do tipo “mama África”, do Chico Cesar
São as mães que se dedicam a criar seus filhos, esquecendo-se de viver suas próprias vidas. É comum que tenham muitos filhos, que os criem solitariamente, sem marido ou companheiro. Um pedaço da obra: “A minha mãe / É mãe solteira / E tem que fazer mamadeira / Todo dia / Além de trabalhar / Como empacotadeira / Nas Casas Bahia…”
Mães do tipo “trem das onze”, do Adoniram Barbosa
São os tipos que superprotegem seus pimpolhos, não os deixando crescer e amadurecer com naturalidade. Ajudam na escolha das namoradas ou namorados dos filhos e, claro, “Além disso, mulher, tem outra coisa / Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar…”
Mães do tipo “Santa Branca”, da Tetê Espíndola
São as mães que veem seus filhos e filhas saírem de casa para irem morar em outras cidades, estados ou países. Passam a vida esperando aquelas rápidas visitas, geralmente na época das festas de fim de ano. Segue a bela letra da Tetê Espíndola: “Na varanda da casa / Mala pronta e cheia de medo / E as pessoas sorrindo sinistras do meu silêncio / Assuntando do meu futuro / De escola a capital / Anel de grau / No lugar da bombacha, um terno doutoral / Minha mãe na estação me dizia / Meu filho cuidado / Minha mãe apontava chorando / Uma janela do trem / De repente eu estava do lado de lá / Da janela
Do lado de lá / Do lado de lá / Santa Branca até um dia / Que o trem corria pelo campo / Molhado de fim de dia (ai, ai!) / Santa Branca eu te dizia / Adeus e a Deus pedia / Pra um dia eu voltar”.
Pachamama
Pachamama, da língua Quíchua, idioma de povos originários da Patagônia argentina e chilena, quer dizer algo como “Mãe Terra”. Esta é a mãe comum a todos nós que nascemos neste pequeno e improvável planeta com vida.
No Dia das Mães, gostaria de fazer uma homenagem a esta mãe tão carinhosa conosco, mas que nós estamos esquecendo de ligar de vez em quando para perguntar como ela está indo, se sentindo, precisando…
Um beijo, Pachamama! Perdão por não estar te tratando como mãe nestes últimos muitos anos.
Parque Estadual São Gonçalo do Rio Preto
Mas, nem tudo está perdido em nossa Pachamama. Neste último fim de semana tive a oportunidade de passar belos dias no Parque Estadual São Gonçalo do Rio Preto. A cinquenta quilômetros de Diamantina, o parque é repleto de lindas cachoeiras e, melhor, para todos os condicionamentos físicos. Há passeio maravilhoso para visitar a Cachoeira do Crioulo, com dezesseis quilômetros de caminhada por trilhas lindas e difíceis para quem não tem joelho em dia, pois a volta é feita pela beira do Rio Preto, com escaladas de pedras ou caminhadas por areias fofíssimas. Mas, há também passeios de um, dois ou três quilômetros, sem subidas, para visitar o Poço do Veado, por exemplo, além de outros pontos para nadar e curtir as belezas.
Para quem gosta de natureza preservada, vale a pena, tanto para ver flora, quanto fauna, pois há encontros constantes com tamanduás, veados, micos, raposas, lobos, cobras, pássaros e até onça parda, que deixa mais suas pegadas serem vistas do que a si mesma.
O parque oferece alguns chalés dentro de seus enormes espaços, além de restaurante. Tudo muito simples, mas muito bem cuidado.
Até as placas de “trânsito” no local são um convite ao descanso e contato com a natureza. As duas placas que mais gostei: “deixe os gafanhotos cuidarem de seus grilos” e “reduza a velocidade, pois as formigas estão cruzando a pista”.
Bom Dia das Mães para as raras mães que leem esta coluna!