Afinal, o que está acontecendo, Bom Despacho?

Com açúcar, com afeto

“Com açúcar, com afeto / Fiz seu doce predileto / Pra você parar em casa / Qual o quê / Com seu terno mais bonito / Você sai, não acredito / Quando diz que não se atrasa / Você diz que é um operário / Sai em busca do salário / Pra poder me sustentar / Qual o quê / No caminho da oficina / Há um bar em cada esquina / Pra você comemorar / Sei lá o quê / Sei que alguém vai sentar junto / Você vai puxar assunto / Discutindo futebol / E ficar olhando as saias / De quem vive pelas praias / Coloridas pelo sol / Vem a noite e mais um copo / Sei que alegre ma non tropo / Você vai querer cantar / Na caixinha um novo amigo / Vai bater um samba antigo / Pra você rememorar / Quando a noite enfim lhe cansa / Você vem feito criança / Pra chorar o meu perdão / Qual o quê / Diz pra eu não ficar sentida / Diz que vai mudar de vida / Pra agradar meu coração / E ao lhe ver assim cansado / Maltrapilho e maltratado / Como vou me aborrecer? / Qual o quê / Logo vou esquentar seu prato / Dou um beijo em seu retrato / E abro os meus braços pra você”.

A letra acima é da música “Com Açúcar, com afeto” e está sendo discutida há semanas. Seu autor é o grande Chico Buarque, que fez a música a pedido da também nada pequena Nara Leão. Depois de reclamações de grupos feministas, seu autor, o próprio Chico, decidiu que não a cantará mais. A letra mostra uma amante submissa a seu amado, situação de muitas mulheres no mundo todo, até hoje.

Nara Leão e Chico Buarque

É uma discussão que acontece há anos, com especialistas defendendo a mudança nas obras históricas e outros defendendo que mantenham-se as obras, alertando o leitor ou ouvinte com notas de rodapé, explicando que aquela linguagem ou situação era normal na época na qual a obra foi composta ou feita. Um autor muito discutido é Monteiro Lobato, que chamava os negros e subalternos em suas obras com nomes que hoje seriam considerados racistas, mas que na época eram aceitos.

No caso de “Com açúcar, com afeto” é um pouco diferente, pois o próprio autor entende que as críticas são justas, apesar da letra e música serem maravilhosas, poéticas, mas claramente relatando uma época diferente.

Que possamos continuar a ouvir a música, aproveitando sua beleza, e entendendo que é o retrato de uma época, como são a Penélope da Odisseia, obra de Homero, ou Ana Karenina de Leon Tolstói.

O tema é tão relevante, e o Chico tão importante, que tenho lido diariamente na Folha de São Paulo e no Valor Econômico artigos sobre continuar contando ou não “Com açúcar, com afeto”. Na semana passada, a Folha de SP usou sua página de opinião para colocar dois artigos, um a favor e outro contra, discutindo o tema.

Veja um dos textos clicando neste link: Jucakfouri

O que está acontecendo, BD?

Recentemente, vi duas histórias muito tristes em Bom Despacho. Em uma delas, eu conheci os envolvidos bem de perto. O que está acontecendo, Bom Despacho?

A primeira história aconteceu há um mês, aproximadamente. Um antigo namorado matou o “atual” companheiro de uma mulher no bairro dos Cristais. Soube da história no exato momento em estava acontecendo. De madrugada, recebi uma ligação de uma bom-despachense muito próxima, dizendo que havia uma mulher pedindo socorro no sítio ao lado do terreno de seus pais. Ela havia chamado a polícia, que já estava a caminho.

O resto da história já é conhecido na cidade…

A segunda história é similar e também envolve ataque a mulheres. E, mais triste, eu conhecia as pessoas envolvidas, porque eram vizinhas até há pouco tempo da casa que fico em Bom Despacho. Neste caso, o homem matou a companheira, deixando sua pequena filha órfã.

Durante alguns meses, talvez alguns anos, o casal viveu na casa bem ao lado da que fico. No começo, ainda não tinham sua filha, que nasceu já nesta casa. Sempre foi possível escutar as brigas, os gritos e os barulhos de coisas quebrando durante os dias, noites e madrugadas. Presenciei uma das brigas, que terminou com uma garrafa de whiskie sendo atirado contra o carro do homem. Lembro que essa briga, especificamente, fez a vizinhança chamar a polícia, discutir ações para impedir que algo mais grave acontecesse…

O casal mudou há uns meses e há duas semanas recebi uma mensagem da bom-despachense dona da casa em que fico, contando que nosso “ex-vizinho” havia asfixiado a companheira… lembrei de nossos vários encontros na porta de casa, dos “bons dias” ditos um para o outro, da companheira grávida, do casal com a criança recém nascida, dos pensamentos antecipando a tragédia… Por que, no século XXI, os homens continuam achando que as companheiras são suas posses e achando que podem decidir se elas devem viver ou não? Espero que Bom Despacho não continue a viver uma onda de feminicídio.

As águas

O mês de janeiro inteiro foi de muita chuva em São Paulo. Choveu todos os dias e em quase todos os dias, a quantidade de água foi enorme. Mesmo assim, apesar de todas as mortes e de toda a destruição causada pelas chuvas, as represas que abastecem a cidade de São Paulo continuam com níveis de água bem baixos.

* Cantareira – 28,7% da capacidade
* Alto Tietê – 38,8%
* Guarapiranga – 45,6%
* Cotia – 47,8%
* Rio Claro – 36,3%

Como podemos ver na tabela acima, retirada da web no dia 9 de fevereiro de 2022, a principal represa que abastece a minha cidade, a Cantareira, tem 28% de sua capacidade. Há oito anos, o governo fez um plano de evacuação da cidade, pois a água chegou a quase zero na Cantareira. Depois de tanta chuva, continuamos correndo o risco de ter de abandonar a cidade nos próximos anos.

Como consigo trabalhar à distância, menos quando dou aulas presenciais, já penso em mudar para uma cidade mais equilibrada, mais humana, com mais água… como Bom Despacho. Por isso, aguentem-me, vou passar mais uma pequena temporada nesta linda cidade. Embarco hoje à noite. OBA! (Imagem ilustrativa)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

One thought on “Afinal, o que está acontecendo, Bom Despacho?

  • 4 de julho de 2022 em 09:44
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    O mi-mi-mi do “politicamente correto” causa mais estragos a cada dia. Músicas boas, filmes bons (“E o Vento Levou”) e até LIVROS estão sendo jogados na fogueira ideológica imposta por minorias que nos impõem, a cada dia que passa, mais e mais ditadura. Chico, que já provou ter um talento raro, que domina como ninguém a língua como compositor, poeta e escritor, gênio que é, tem dado, nos últimos anos, a maior prova de que talento, inteligência e sucesso infelizmente não implica, necessariamente, em bom caráter. Além de se mostrar um mau caráter que defende bandidos (guevaras, fidéis, lulas, maduros e outros animais do mesmo pântano), Chico se mostra um COVARDE ao abrir mão da própria arte, cedendo à pressão das femi-mi-mi-nistas. Feminazismo, na verdade.
    E tem sido assim na música, na literatura, e na vida cotidiana: lamentavelmente, a maioria da população está se ajoelhando, inerte, às vontades de uma minoria que se autointitula “defensora da democracia”, mas na verdade, nada mais faz do que impor regras e comportamentos “revolucionários” à força, com o auxílio da mídia enviezada à esquerda. Nossas crianças estão sendo diuturnamente expostas à libertinagem e a distorções sexuais e comportamentais, inclusive dentro das escolas. Nossos costumes (culturais, religiosos e sociais) estão sendo combatidos à exaustão por “artistas” e “influenciadores” que pregam, 24 horas por dia, o fim da moral e da ética ocidental. Triste ver, neste jornal, tanta gente aderindo às sandices da “nova ordem mundial”.

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