Vez e voz para os idosos

Antes de mais nada, PARABÉNS AOS NOSSOS CONCIDADÃOS MAIORES DE 65 ANOS: todos já tiveram a oportunidade de receber pelo menos a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Ressalvando nosso enorme pesar pelas vidas já perdidas para a doença e nossas orações pelo restabelecimento daqueles que ainda estão doentes, não posso deixar de registrar minha alegria pela marca que alcançamos nessa batalha. Penso quantas vidas mais não poderíamos ter poupado no Brasil se nossos governantes não se perdessem tanto entre vaidade, incompetência e corrupção. Mas, enfim, quero celebrar com vocês, nossos “veteranos”, essa importante conquista para nossa sociedade. PARABÉNS!!!

Confesso que estou inclusive com um pouco de inveja, longe de uma perspectiva concreta de me vacinar com os meus 46 anos de idade. Os alvos da Covid agora são outros… Mas o que me marcou neste último mês foi a alegria de ver pessoas tão queridas protegidas! Depois de um ano de medo, Deus me permitiu ver tanto Seu Majela quanto Dona Rita, meu pai e mãe amados, vacinados contra o vírus. Claro que todos os vacinados ainda devem manter seus cuidados, porque ainda podem ser portadores do vírus para familiares e amigos não vacinados, mas vocês nos trouxeram luz depois de um período sombrio.

Preâmbulo feito, quero aproveitar a oportunidade para falar dessa parcela da nossa população que, priorizada na vacinação, não tem os merecidos prestígio e respeito em diversas outras áreas. É fato que a expectativa de vida cresceu e que muitas pessoas ultrapassam os 65 anos de idade com vitalidade para dar e vender. Mas nossa sociedade ainda não se adaptou a isso. Enquanto, por exemplo, há muitas políticas públicas voltadas à infância e juventude, elas quase não existem para a terceira idade. Em Bom Despacho, os poucos programas que vimos antes da pandemia se restringiam a opções de entretenimento, com atividades físicas, culturais e de lazer, além de algum trabalho de assistência social, com destaque para o nosso Asilo São José. É pouco.

Cidades em países mais desenvolvidos têm programas ligados a diversos outros temas, como habitação, empregabilidade e segurança pública. “Mas aqui é Brasil!”, dirá alguém. Sim, e isso não é desculpa para que, na nossa cercania, na nossa Bom Despacho, não tenhamos algumas iniciativas similares.

Pensando em habitação, por exemplo, há um nicho importante de condomínios voltados para esse público, com serviços especializados, como fisioterapia e outras atividades físicas orientadas, entretenimento, limpeza e lavanderia. Os espaços também são adaptados para dispor de praças de convivência no lugar de parquinhos infantis, com cuidados em termos de acessibilidade e redução de riscos de traumas.

Falando em emprego, quantas pessoas na melhor idade estão em casa ociosas enquanto têm plena capacidade cognitiva e física para serem produtivas? Grandes empresas têm recrutado profissionais “seniores” para mesclar maturidade, conhecimento e habilidades de uma vida com o ímpeto, energia e inovação dos jovens. Se há programas nesse sentido em Bom Despacho, desconheço. Em se tratando do poder público, como temos programas para incentivar a contratação de menores aprendizes, poderíamos ter leis similares para incentivar a contratação de idosos. Nos Estados Unidos e Europa, que já observam esse fenômeno do crescimento da população idosa há mais tempo, a presença de profissionais mais experientes nas empresas é vista com naturalidade. No atendimento a clientes, em supermercados e outros estabelecimentos comerciais, é inclusive utilizada como reforço da imagem dessas empresas junto a esse público consumidor.

Conselho Municipal do Idoso

Para regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, foi criado em 2003 no Brasil o Estatuto do Idoso. No âmbito municipal, ele reforçou os poderes do Conselho Municipal do Idoso como órgão responsável pelo cumprimento dos direitos dessa população. Em Bom Despacho, no entanto, pouco se percebe do trabalho desse conselho. Vemos muitas campanhas e movimentos em torno do Asilo São José, instituição beneficente que tem tradição no apoio aos idosos carentes no município. Mas o trabalho do Conselho Municipal do Idoso pode e deve ir muito além disso. Para exemplificar, o artigo 19 do Estatuto do Idoso estabelece os canais para informar quaisquer tipos de violência contra essa população, estando os conselhos dos idosos ao lado da polícia e do ministério público. Quantos idosos maltratados há em Bom Despacho? E o estatuto vai muito além disso, dando ao conselho atribuições relativas à implementação das políticas públicas para essa parcela importante da população no município.

Doe através do seu IR

A propósito, estamos em época de declaração de imposto de renda e há nela uma oportunidade para todos contribuirmos para o fortalecimento do conselho municipal do idoso. A Receita Federal permite que você doe uma parcela do valor de imposto que tem a pagar para esse órgão aplicar nas políticas locais destinados aos idosos. Procure a aba “Doações diretamente na declaração”, selecione a aba “Idoso” e clique em “Novo”. A seguir, para “Tipo de fundo”, escolha “Municipal”, selecione a UF de Minas Gerais e, claro, a cidade de Bom Despacho. O sistema exibirá então um campo com o “Valor disponível para doação” e você informará no campo “Valor” quanto deseja destinar. Mesmo aqueles que têm restituição a receber podem fazer doação, e o valor doado será somado a sua restituição. Se você quer ajudar a fortalecer nosso Conselho Municipal do Idoso, este é um caminho pragmático: aumentamos o orçamento e depois cobramos ações. Se quer ajudar o Asilo São José, parte desse dinheiro é encaminhada a ele pela prefeitura (e você inclusive pode cobrar isso do conselho).

Asilo São José

Falando no Asilo São José, são atualmente 57 idosos assistidos. Conheço o asilo há mais de 30 anos. Quando era adolescente, meu pai gostava de me levar lá para ver aqueles velhinhos, dizer um bom dia, ouvir umas histórias de um e outro. Infelizmente, o asilo está fechado para visitas agora em função da pandemia. Graças a Deus, nenhum dos internos teve Covid até então e todos já foram vacinados. Quando reabrirem as visitas, sugiro que você tire um tempinho para ir lá vê-los, levar um pouco de carinho. É uma experiência única! O asilo é uma instituição simples, mas muito profissional e humana. Há lista de espera para entrada de novos residentes. É hoje o único espaço que temos em Bom Despacho para acolher idosos que não têm como viver por conta própria, normalmente em função de demandas de suporte profissional (fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista, médico) ou mesmo de carência de convívio social. É pouco para uma população tão representativa em nossa cidade.

Fazer mais

Vou ficando por aqui, deixando a certeza de que podemos fazer mais pela terceira idade. Não é só uma questão da prefeitura ou do asilo, é bem mais amplo que isso. O que faz e o que pode fazer a iniciativa privada, o que faz e o que pode fazer sua família, o que fazem e o que podem fazer os nossos idosos? Eles podem até gostar de dominó e crochê, de uma visita no final de semana, mas merecem muito mais do que isso. Bora fazer, Bom Despacho!

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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