Diga ao povo que Fico!…

ITAMAR DE OLIVEIRA – Nos bons e bem antigos tempos de escola no Coronel Praxedes e no Ginásio Estadual, a gente tinha obrigação de saber, na ponta da língua, os nomes das capitais brasileiras, as datas históricas mais importantes e algumas frases que não esquecemos jamais. Exemplo “se é para o bem geral da Nação, então diga ao povo que fico”.

A frase, mais ou menos assim, era atribuída ao impetuoso príncipe Dom Pedro que teria pronunciado outra palavra ainda mais relevante, às margens plácidas do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822.

O tempo está passando feito a nave espacial Sputnik, que agora virou vacina contra o mais poderoso inimigo da nossa saúde pessoal e coletiva, o famigerado, temido e letal Coronavirus.

No próximo ano, se Deus quiser, vamos celebrar o bicentenário da independência política do Brasil e teremos nova oportunidade de mudar ou não a representação democrática de todos os brasileiros.

Dom Pedro, que foi imperador do Brasil e rei de Portugal, certamente será lembrado, cultuado e homenageado.

Outros protagonistas certamente se apresentarão para ocupar um lugar na história e na memória das atuais e das futuras gerações.

Mas a frase atribuída a Dom Pedro I tem ecoado na minha imaginação em decorrência de uma lembrança que desejo compartilhar com os meus amigos e conterrâneos: uma lembrança frágil, doce, amena e terna de Pacífico Rodrigues de Oliveira – o Fico, que acabou de nos deixar sem pedir a nossa permissão.

Já disse em outras oportunidades, com todas as letras, que mãe, pai, professor e os amigos deveriam ser proibidos de nos deixar.

O Fico, rebelde e peralta, saiu de cena e nos obriga a pensar na lição que ele nos deixou.

Sujeito de bem com a vida, com a família, com os amigos e com a comunidade. Foi um dos bons companheiros na fundação do MDB de Bom Despacho. O Fico parecia ter a nossa idade, o nosso entusiasmo e acreditava no nosso sonho de construir uma cidade mais justa, mais aberta e progressista.

Outra figura discreta e agregadora, Ary Marques, Padre Vicente Rodrigues e o Fico formaram uma santíssima trindade que orientou e deu ao então jovem prefeito Geraldo Simão Vaz a oportunidade histórica de colocar Bom Despacho no caminho do progresso e do desenvolvimento social.

Muita coisa boa aconteceu depois. Outras, nem tanto.

Mas o Fico, com serenidade, dedicação e paciência, foi um cidadão acolhedor que nos deixou um exemplo de vida. Ele esteve, na minha opinião parcial e militante, do lado certo.

De origem rural e oligárquica, como nossos líderes mais ilustres, o Fico teve um olhar de compaixão para com os operários, os trabalhadores e os camponeses. Foi a favor das reformas de base, que até hoje não aconteceram no Brasil e vibrou sempre com os acertos e rebeldias da juventude idealista que queria mudar o mundo nos anos sessenta do século passado.

O Fico, certamente não será lembrado apenas pela visão humanista e libertária que está fora de moda nos tempos atuais. O Fico não será esquecido. A gente pode até esquecer o que decoramos nos tempos de escola, mas o que aprendemos com a vida é algo que guardamos do lado esquerdo.

O Fico era do nosso lado e continuará sendo.

Eternamente.

ITAMAR DE OLIVEIRA é jornalista e escritor

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