Assistencialismo: quem vive de favor subloca sua dignidade

Assistencialismo foi a principal arma para manter no poder uma das administrações mais danosas que o Brasil já teve. A promessa do fim da pobreza por meio do financiamento direto das famílias pelo governo foi um ardil inteligente e popular. Há que se reconhecer que os efeitos iniciais foram benéficos, retirando da miséria milhões de brasileiros, provavelmente alguns conhecidos seus inclusive. Mas o que deveria ser um socorro temporário para dar condições de independência aos nossos cidadãos permanece há quase 20 anos e foi utilizado várias vezes como capital eleitoral.

Parecia que estávamos abandonando isso, mas as filas para sacar o auxilio emergencial que vemos na agência da Caixa há meses em Bom Despacho mostram um cenário diferente. As dificuldades para se contratar pessoas em alguns setores da cidade são um outro mau sinal. Alguns podem argumentar que não se contrata porque falta capacitação. Mas o número de pessoas que não buscam capacitação, assim como não buscam emprego, por se satisfazerem com a ajuda governamental, sinaliza que sedimentamos um modelo de dependência e subdesenvolvimento.

Outra prática danosa da administração pública é o uso dessas organizações como cabide de empregos. Quantas promessas de emprego não foram feitas na recente campanha eleitoral? E quantos pedidos foram feitos? Infelizmente, essa prática não é privilégio dos ocupantes de cargos eletivos. Nós aprendemos que o governo proverá, que o relacionamento oferece mais oportunidades do que a competência, que os “amigos do rei” conseguem bons empregos, muitas vezes sem necessidade de contrapartida séria de produtividade, de entrega de resultados. Quantos casos já vimos na imprensa assim? Quantos casos você conhece aqui em Bom Despacho?

Desculpem o desabafo, mas continuaremos sendo pequenos e pobres se não mudarmos esse modelo. Países desenvolvidos se baseiam em empreendedorismo e trabalho duro, capacitado e eficiente. Municípios brasileiros que vêm se destacando também! Repito: eles não se destacam porque gastam demais empregando e subsidiando seus cidadãos e empresas. Se fosse assim, Macaé, que recebe fartos recursos de royalties da Petrobrás, teria disparado o mais alto IDHM do país. Não seriam São Caetano do Sul, Águas de São Pedro ou Florianópolis – cidades de portes diferentes, vocações diferentes, mas todas empreendedoras.

Na semana passada, fui convidado para integrar a diretoria de uma associação de servidores públicos em Brasília. O presidente da associação acompanhou o trabalho que eu vinha fazendo em Bom Despacho e então me procurou propondo que me juntasse a ele. Agradeci o reconhecimento, mas recusei o convite. Argumentei que o sindicalismo é um movimento com que nunca me identifiquei. Entendo o contexto histórico em que surgiram, entendi a boa intenção do colega que me procurou – inclusive de mudança, mas não consigo pactuar com a forma como funciona a maioria dessas entidades.

No Banco Central, minha primeira experiência como servidor público, tive o primeiro contato direto com o movimento sindical. Era frequente o “movimento paredista” dos servidores do BC à época, no meio dos anos 2000 – coincidindo com um governo sindical inclusive. Colegas que quase nada produziam em seu papel ordinário como servidores públicos se transformavam em lideranças durante as greves, bradando palavras de ordem e constrangendo quem queria trabalhar. Era a mesma época em que o governo enchia os pobres de esperança e assistencialismo barato, enquanto desviava fortunas com apoio de aliados nomeados em cabides de emprego estatais.

Associativismo produtivo é diferente de sindicalismo, mas por vezes caminha para ficar parecido. Nossa cooperativa de produtores rurais, por exemplo, está passando por uma importante renovação, exatamente para recuperar seu papel produtivo e desconstruir esse modelo “sindical” que se instaurara. Quem está conduzindo esse trabalho foi eleito com quase o triplo de votos da segunda chapa mais votada, sinal claro de desejo de mudança dos produtores rurais de Bom Despacho. Como nossas cooperativas de crédito, ela agora caminha para se tornar mais profissional e efetivamente produtiva.

Cuidado com quem quer te comprar por pouco, bom-despachense. Cuidado com quem te apresenta escola fácil, renda fácil ou emprego fácil, sem perspectiva de abrir oportunidades para você não precisar da ajuda dele no futuro. Cuidado com a esmola que escraviza. Não venda suas perspectivas e sua dignidade para autoridade nem para organização nenhuma. Se falo isso de escola ou renda de baixa qualidade, o que dizer de se satisfazer com um churrasco, um buraco tampado na sua rua ou o pagamento de uma conta de energia.

Cobre e colabore na construção de soluções de verdade para o presente e futuro seu e dos seus. É preciso educação e capacitação de verdade, fomento a empreendedorismo, cooperativismo e atividades produtivas em geral, empregos em volume e qualidade suficientes. Benevolência e gastança pública não deveriam ser mais um caminho, precisamos aprender com os erros do passado. Todo dinheiro público é finito e vem do nosso bolso. E todo representante público é seu empregado, não faz favor algum em trabalhar por você. Não se deixe enganar.

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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