Servidores públicos, no melhor sentido da palavra, temos em BD

O serviço público passa por um período de grandes cobranças, críticas e reflexões. Muitas delas procedentes. Mas é preciso cuidado para não generalizarmos e sermos injustos com gente que está lá de fato a nosso serviço e realiza um trabalho honrado e profissional. Sou servidor público e já sofri muito na pele o preconceito de carregar esse título. Lembro-me de um episódio em um grande evento de tecnologia em que, quando me aproximei de um grupo de colegas que estavam conhecendo uma solução, vi nos olhos de vários um misto de repulsa e descrença quando me apresentei como servidor público: “esse veio aqui a passeio para gastar o dinheiro de nossos impostos”, provavelmente pensaram. Alguns inclusive se afastaram da conversa…

Se quisermos induzir um serviço público digno, produtivo e de qualidade, é importante sabermos reconhecer o trabalho e a competência de quem faz de verdade, sob pena de desestimularmos esses profissionais. Tive a grata satisfação de conhecer o trabalho de algumas das secretarias aqui do município e confesso que me senti orgulhoso de homens e mulheres que estão de fato imbuídos em nos servir. Mais do que isso, são pessoas que muitas vezes não têm e não buscam visibilidade pelo que fazem, são empreendedores silenciosos de ações que melhoraram algumas áreas importantes de nossa Bom Despacho nos últimos anos.

Lembro-me, por exemplo, da defesa técnica e resoluta que Juliano e Lívia, da secretaria de obras, fazem da drenagem profunda das vias. O que é isso? É a infraestrutura necessária para que, ao cobrirmos Bom Despacho de asfalto, não fiquemos sem saída para a água das chuvas e observemos o rápido aparecimento de rachaduras e buracos ou, no pior caso, desastres com inundações e desabamentos. Numa cidade cada vez mais urbana, é claro que todos queremos nossas ruas asfaltadas, lisinhas, bonitas, e queremos logo. Mas a gente não quer só rapidez, a gente quer qualidade e durabilidade também. Aprendi que a drenagem das vias, especialmente a profunda, é fundamental para isso. E agradeci por termos gente habilitada pensando no que é preciso fazer abaixo do que enxergam nossos olhos. Quando um servidor diz que isso é tão importante quanto asfaltar a cidade, apesar de serem mais aplaudidos se fizerem o asfalto às pressas sem esses cuidados, percebo gente preocupada em nos servir de verdade.

Outro exemplo é o Eduardo, do desenvolvimento social. Este aqui acredito que inclusive seja mais conhecido na cidade, porque vive rodando pelos centros de assistência social e pelos inúmeros eventos e atividades que promove nas quadras e praças da cidade, em contato direto com as pessoas, especialmente as mais carentes. Prestando serviços os mais variados, desde aulas de ioga e capoeira até acolhimento de pessoas em situação de risco, passando por capacitação profissional e gestão da agência do SINE, a equipe que ele lidera atende cerca de 5 mil pessoas por mês em Bom Despacho (quase 10% da nossa população). Além do atendimento próprio, a secretaria garante recursos mensais significativos para custeio de instituições filantrópicas muito queridas na cidade, como o Lar do Idoso São José, a APAE e a ABAP. Silenciosamente.

Podemos passar pela Ivy, da secretaria de educação, que, com coragem e criatividade, buscou meios para garantir vagas em creches para todas as crianças em Bom Despacho e conseguiu modernizar as instalações das escolas municipais. Posso citar ainda a Roberta, que conseguiu colocar nossa cidade entre as que mais investem na formação de atletas, promoção de eventos e apoio a participação em competições esportivas de Minas Gerais, nos colocando entre as 10 primeiras do estado no crédito do ICMS Esportivo (recurso do ICMS estadual direcionado a municípios que se destacam pelo investimento na área). Ou Wallace, que além de liderar a digitalização de vários processos de trabalho na prefeitura, está desenhando o projeto que pode vir a ser a semente de um polo de tecnologia em Bom Despacho. E temos ainda Renato Gomides, que está conduzindo o processo para implantação do programa Olho Vivo na cidade, em parceria com a Polícia Militar, e desenhando um projeto bacana para uma guarda municipal que, além da segurança patrimonial, nos permita ter uma defesa civil estruturada no município. Isso sem falar no Tito, que está ali na articulação para que essas engrenagens girem juntas e no mesmo sentido.

Reformas administrativas virão, porque toda organização é viva e está sempre em construção. A própria prefeitura de Bom Despacho já anunciou que está desenhando a sua, com vistas a simplificar a estrutura e valorizar os perfis especializados e os gestores. As instituições que não entendem isso acabam morrendo, como vimos acontecer com a Kodak e com parte significativa da indústria automotiva norte-americana – ou seja, a necessidade de estar em constante evolução não é privilégio do serviço público. Claro que a política ajudou para que essas pessoas pudessem desempenhar bons papéis nas iniciativas que citei, claro que há maus servidores públicos que querem desde o primeiro dia de trabalho que ele não seja de trabalho. Mas essas pessoas pouco visíveis a quem nos acostumamos a criticar têm seu valor também, cometem também seus erros, precisam ser humanizadas como todos nós gostamos de ser.

Toda generalização é burra. Saibamos reconhecer e demos o crédito merecido a quem é de direito. Inclusive no serviço público.

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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