Bom Despacho virou minha referência de viver e pensar

Há três semanas voltei a São Paulo, como já mencionei neste espaço nas últimas oportunidades. Esta cidade é o local onde nasci e me criei. Conheço muito bem uma pequena parte da cidade, já que São Paulo é tão grande, que grande parte do município eu nunca sequer passei perto. Nunca fui ao bairro Marsilac, por exemplo, ou ao bairro de Cidade Tiradentes. Conheço bem Santana, divisa da Zona Norte com o Centro de São Paulo, domino o Centro da Cidade, ando bem pelos bairros onde ficam os cinemas e teatros, na zona Oeste da cidade, enfim, conheço uma pequenina parte do local onde nasci.

Em Bom Despacho, conheço pouco também, mas posso afirmar que ando bem pela região central, ou seja, na área que envolve a Praça da Matriz, as ruas ao redor, vários bairros e muitas estradas de chão na região, já que corro e pedalo por elas.

Mas, minha surpresa, a qual quero relatar para o raro leitor e a rara leitora, não envolve conhecimento das regiões das cidades, mas no jeito de pensar.

Desde que voltei a São Paulo, tenho tentado restabelecer minha rotina de vida: correr, ir à academia, fazer compras, ir ao dentista, trabalhar, passear com o cachorro de minha mãe, ir ao banco, enfim, viver.

Correr é uma atividade diária que mantenho, menos porque gosto e mais para tentar me manter em forma, afinal, minha namorada bom-despachense é muito mais nova do que eu e não gostaria de ser confundido com seu pai (apesar de eu achar meu sogro um sujeito a ser copiado). Tenho corrido diariamente em São Paulo, sempre fazendo o mesmo trajeto, correndo ao redor do Aeroporto do Campo de Marte. Esta é uma área arborizada e bem em frente a minha casa. Mas, é o único trajeto arborizado perto de onde moro. Não consigo correr um único dia sem comparar com as dezenas de opções de corrida que tenho em Bom Despacho. Só no Bairro dos Cristais, são cinco trajetos diferentes, contando com as ramificações que as estradas de chão proporcionam. São dezenas de opções, o que torna a corrida ou a pedalada diária uma felicidade diferente a cada dia.

Correr em Bom Despacho ainda traz um detalhe diferente: recebo “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” de todas as pessoas que encontro. Posso afirmar que nunca recebi um “bom dia” enquanto corro pelas ruas de São Paulo. Não é uma questão de educação das pessoas, mas de cultura da cidade. Em Bom Despacho, cumprimentar é uma coisa natural. Em São Paulo, cumprimentar alguém que não se conhece é um absurdo, uma besteira, algo que não se deve fazer.

Ir ao banco em São Paulo é muito mais fácil do que em Bom Despacho. No meu bairro há dez agências da Caixa Econômica Federal e nove unidades do Banco do Brasil. Porém, somente em Bom Despacho eu tenho a alegria de ir ao banco e tomar um café espresso com um amigo, como o Ivan do Na Praça Lanches. Minha cidade é muito impessoal e fria, com poucas interações pessoais. Ou, recebido sempre com um sorriso delicioso, como acontece quando passo pelo Xuá Lanches e paro para cumprimentar o seu Tarciso.

Passear com o cachorro é outra diferença enorme. Em Bom Despacho, dar uma volta no quarteirão significa interagir com os vizinhos, dar bom dia ou boa noite a todos, além de encontrar o tio Nego de minha namorada bom-despachense. Em São Paulo, quando passeio com o cachorro de minha mãe, não olho nos olhos de ninguém, ninguém me dá bom dia ou boa noite. Não posso negar que é muito mais gostoso andar pelas ruas da cidade e receber vários bons dias ou boas noites.

Aprendi que fazer compras no supermercado pode ser uma ação entre amigos, claro, em Bom Despacho. Várias vezes recebo cumprimentos quando chego aos caixas do Santa Edwiges, Fidelis, padarias ou lojas da cidade. Claro, sou reconhecido por causa de minha namorada bom-despachense, ou do meu sogro ou sogra, e me espanto quando ouço algo como: “e sua namorada está bem?” ou “mande um abraço para seu sogro/sua sogra”. Nunca sou cumprimentado em São Paulo, cidade impessoal.

Comprar também é uma experiência muito diferente entre as cidades. Em São Paulo, só se compra se a pessoa tem dinheiro ou crédito. Em Bom Despacho, e eu já fui testemunha várias vezes, o “fidiquem” abre portas para comprar e pagar depois.

Quase todas as atividades são diferentes nas duas cidades e, quase sempre, estar em Bom Despacho é muito melhor do que em São Paulo. E, claro, a balança pende definitivamente para Bom Despacho, já que é nesta cidade que mora minha namorada bom-despachense, que completou mais um ano de vida neste dia 13 de outubro.

Apesar de paulistano, minha mente está sendo dominada pelo modo bom-despachense de viver.

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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