Entendendo Bom Despacho em uma festa de aniversário

 

Cachorros soltos nas ruas sem castração e falta de separação do lixo são algumas das questões que incomodam e trazem prejuízo para a comunidade.

ALEXANDRE MAGALHÃES – Dias atrás, participei de uma linda festa de aniversário de um grande amigo de minha namorada bom-despachense. Vi dezenas de convidados, alguns que viraram meus amigos, outros que conheço e muitos que nunca havia encontrado antes da festa.

A primeira informação que me deixou impressionado foi a origem da maioria dos convidados: amigos desde a infância. Alguns outros, entraram na vida do aniversariante na adolescência.

Curioso que sou, passei horas conversando com pessoas diferentes e, claro, tomando uns chopinhos…

A segunda informação que me deixou impressionado foi o motivo que levou grande parte dos amigos a deixar Bom Despacho: estudar.

Vimos e vemos muitos imigrantes e migrantes por motivo de trabalho, de fome, de guerra… mas migrar para poder estudar? Isso é ser uma sociedade sem expectativas. Além disso, quando sua população migra para estudar, parte destas pessoas acabam ficando para sempre ou por muitos anos na nova cidade, aplicando no novo local seu conhecimento adquirido na universidade, gerando receitas para outra cidade e não para Bom Despacho. Se estudassem aqui, poderiam ajudar a cidade a crescer, gerando conhecimento, criando novos negócios e ajudando a geração de empregos em Bom Despacho.

Em São Paulo, onde nasci e passo grande parte de meus dias, estou acostumado a ver amigos e conhecidos frequentando excelentes universidades. Por isso, nunca havia me dado conta que a educação, especialmente a universitária, é um item tão importante para a classe média e trabalhadores em geral em Bom Despacho.

Ensino médio também merece atenção

A partir de meus pensamentos por causa das conversas que mantive na festa, comecei a pensar nos problemas de Bom Despacho, tentando ser crítico.

Comecei a enumerar o número de jovens que conheço na cidade, muitos filhos ou filhas, de amigos e vizinhos de minha namorada bom-despachense. São muitos… E o motivo é muito triste: ter de trabalhar para ajudar a sustentar suas famílias.

Temos de pensar em ações para incentivar estes jovens a não abandonar o estudo, pois isso pode resolver um problema imediato, ganhar dinheiro agora, mas vai comprometer seus futuros. Sem estudar muito, terão futuros tristes, ganhando menos dinheiro do que poderiam, pois pararam de estudar.

A sociedade tem de bancar esses jovens na escola. Esses adolescentes não podem pagar a conta porque seus pais não conseguem ganhar bons salários, pois esse problema é estrutural.

Escolas que forneçam alimentação já é um primeiro passo. Mas, o ideal é criar um “salário” para os jovens carentes poderem continuar estudando, incentivados por este ganho.

Tráfico é um problema que deve ser enfrentado

Outro assunto que tem me chamado a atenção é a morte de pessoas supostamente ligadas ao tráfico em Bom Despacho.

Semanas atrás, estava ao telefone com um amigo da cidade e ele me disse que estava ouvindo um barulho que pareciam tiros. Rimos, pois achamos que seria impossível ouvir tiros em Bom Despacho no meio da tarde. Logo depois de desligarmos o telefone, ele me ligou e contou que um homem jovem havia sido assassinado na esquina de sua casa. Algum tempo depois, recebi a notícia que o jovem estava metido com o tráfico de drogas…

Acredito que criarmos o incentivo aos estudantes permanecerem na escola, muitos jovens que migram para o tráfico para ganhar dinheiro e ajudar suas famílias, poderiam não fazer este caminho. A educação é muito importante para todos. Mas, o abandono da escola, que é muito mais comum entre os filhos dos que têm salários menores, pode ser revertido com incentivos financeiros aos estudantes e a suas famílias. Passar necessidades em casa é um incentivo para tentar uma vida degradante e perigosa junto ao crime.

Auxiliar a agricultura local

Há uns meses, conversando com meu amigo Saul Pádua, militante da agricultura, lembro-me de ele ter mencionado a importância da agricultura para a economia de Bom Despacho. Ele mencionou que programas de ajuda aos agricultores, especialmente aos pequenos produtores e à agricultura familiar, deve ser foco de todas as esferas de poder, municipal, estadual e federal.

E, de novo, ajudar aos pequenos e médios agricultores pode ajudar a manter seus filhos na escola, garantindo um futuro melhor para eles, inclusive ajudando a eles continuarem a produzir alimentos na propriedade de seus pais, só que com muito mais conhecimentos científicos para melhorar a produtividade, cuidar da natureza, entre outras vantagens.

O comércio local é parte importante de Bom Despacho

Junto com os agricultores pequenos e médios, o comércio local é parte muito relevante de Bom Despacho. Vejo muitas novas lojas e restaurantes sendo criados, mas, ao mesmo tempo, reparo que muitos locais deixam de existir (quase chorei quando vi o mercado Santa Edwiges, na Avenida São Vicente, fechado).

O município pode criar incentivos para que o comércio local seja sempre a primeira opção de compra, assim como deve ser impulsionado o comércio dos bairros. Eu já mencionei aqui neste espaço que sempre procuro comprar produtos no bairro Esplanada, como na Mercearia do Willian, ou na padaria do bairro. E me recuso, apesar dos preços melhores, a comprar tênis em Nova Serrana, pois acredito que quando compro em uma loja de Bom Despacho ajudo a manter o comércio aberto e mais gente empregada na cidade.

Porém, programas de ajuda ao pequeno empreendedor local, com acesso a microcrédito para pagar as despesas do dia a dia, facilitação para pagarem salários e impostos, podem ajudar a manter o comércio local vivo.

Cultura local

Uma das coisas mais lindas de Bom Despacho, especialmente para um paulistano, é a cultura local. As festas como Folia de Reis, Reinado, Festa de São Sebastião são muito importantes e devem receber todo incentivo, inclusive financeiro, para que sobrevivam. Vi vídeos da Dança das Enxadas, que muitos consideram extintas na cidade. São exemplos de movimentos culturais que poderiam sobreviver, mas que sem ajuda vão minguando.

E o município pode abordar estas questões nas escolas, incentivando os alunos a participarem e manterem as tradições locais, incentivando estes jovens a usarem as redes sociais para divulgar os movimentos culturais de sua cidade. Muitos jovens sentem uma certa vergonha de participar da cultura local, pois seus conhecidos estão curtindo Beyonce, Ludmilla ou Anitta. Incentivos à cultura local na escola podem mudar este quadro.

Outras questões que me incomodam em Bom Despacho

Por falta de espaço, vou apenas mencionar outros problemas que me incomodam (e a muita gente, também): animais soltos nas ruas sem castração. Bom Despacho precisa enfrentar este problema, pois há muitos, especialmente cachorros, soltos e até atacando pessoas nas ruas e estradas de chão. Não deixemos acontecer o que aconteceu com a escritora Roseana Murray, que foi atacada por cães em uma praia e teve seu braço arrancado, seu lábio destruído, deixando marcas para sempre em sua vida.

Reciclar o lixo em Bom Despacho: reciclar lixo pode virar renda para muitas pessoas. Separar o que é reutilizável do que não é ajuda a natureza e gera dinheiro para muitas famílias. O município pode criar incentivo, inclusive com pequenos descontos de taxas da cidade, para quem incentivar e reciclar seriamente seus dejetos.

Acesso à casa própria: acredito que criar incentivos para quem quer adquirir sua casa própria, como manter seus filhos na escola, reciclar lixo, adotar cachorros castrados pela Bicho Amigo, entre outras possibilidades, pode incentivar as pessoas a fazerem boas ações sociais, que serão benéficas para todos e ganharão vantagens na fila da aquisição de seus lares.

O que uma festa de aniversário me fez refletir… Parabéns e obrigado, Haroldo Assunção!   (Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por BD e SP).

 

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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