Josefina Leite curtiu o que a vida deu de bom e não parou

 

Analógica e digital, ela não parou no tempo

ANGELITA GONTIJO – A jovem Josefina Gontijo Leite, 24 anos, 3 filhos pequenos e o quarto no ventre, pegava sua bicicleta na Rua do Rosário e disparava para a Escola Estadual Miguel Gontijo, recém-inaugurada, para assistir ás aulas do Professor Wilson, do Professor Nicolau Leite e de tantos outros professores eméritos. A intenção da jovem Josefina era aprender o método educativo. Depois da última série que a Escola Miguel Gontijo oferecia naquela época, partiu para o método autodidata. E estudou sozinha, pelo resto da vida. Adorava aprender. Nossa casa, repleta de livros, e o Cine Regina, que apresentava um filme novo por dia, eram fonte de aprendizado, diversão e referências.

Sempre foi assim: Josefina Gontijo Leite multiplicava os recursos – sempre parcos, com sua inteligência abundante, para tirar de tudo os melhores e mais nobres proveitos em cultura, educação e elegância.

Aos 18 anos, casou-se com Antônio Leite de Oliveira. Sinergia perfeita: 1 + 1 para somarem 2.000. Antônio Leite de Oliveira foi o que foi graças à união com Josefina; e vice-versa. Um casamento feliz que durou até a partida precoce de Antônio Leite de Oliveira, aos 66 anos. Josefina Gontijo Leite foi por três vezes primeira-dama de Bom Despacho. Influência elegante, discreta, recatada e silenciosa. Bom Despacho, sem o saber, deve muito a essa inteligência prática.

Josefina sempre foi alegre e otimista. Curtiu o que a vida lhe deu de bom. Saiu do Córrego d’Areia, onde nasceu em 1926 e partiu para a cidade e o mundo. Sua evolução e seu trajeto abrangeram um espectro gigante. Sentiu gratidão por todo minuto de vida. Viveu em dois séculos e dois milênios. Do Córrego d’Areia, sem água encanada nem esgoto, à luz de lamparina, alçou voos altos e se aventurou por onde via novidades a aprender. Conheceu mais de 50 países, viajou de Fordinho 29, jardineira, ônibus, avião, navio, helicóptero, balão a gás, camelo… Do Almanaque Fontoura, passando pelas enciclopédias, ganhou todo o conhecimento humano na palma da mão, em seu celular ligado à rede mundial. Analógica e digital, Josefina não parou no tempo. Nunca.

Criou e educou 6 filhos. Com capricho, atenção e rigor. E muito desvelo. Junto com meu pai, nos ensinou valores verdadeiros e nos mostrou o caminho do bem. Aprendemos com ela a estudar sempre e sempre. Percorremos livros e escolas, mas tenho certeza de que as coisas mais importantes da vida aprendemos com Josefina Gontijo Leite e Antônio Leite de Oliveira.

Nunca reclamou das fases difíceis, nunca lamentou ou se abateu, mesmo quando a vida a pôs à prova. Aceitou os desígnios de Deus, amparada em sua fé inabalável. Explicava seu método: tenho que tentar ser feliz com o que me restou.

Viveu uma vida bonita, por 98 anos e 24 dias. Hoje estamos órfãos de sua inteligência, sua educação, sua delicadeza. Ficamos com o exemplo e a lembrança de uma das pessoas mais extraordinárias que jamais conheci. Como vou sentir sua falta, mamãe!  (Portal iBOM / Angelita Gontijo é filha de Josefina e Antônio Leite / Texto publicado na coluna do Professor Tadeu Araújo / Fotos: arquivo da família).

 

Tadeu Araújo

Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL

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