Nosso futuro depende de mais árvores e de menos lixo

ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Esse calor, essa seca em pleno dezembro tem que servir para nos obrigar a fazer uma reflexão e promover mudanças no modo como vivemos. 

Para os mais céticos em relação às pesquisas e a ciência, e aos que pensam que tudo que estamos atravessando é um processo da Terra, que vai passar, que não temos ingerência sobre o que está havendo, fica o meu convite a uma reanálise. Ainda que faça parte de processos, será que se tivéssemos mais árvores, menos desmatamento, um consumo menor, outra postura em relação à vida, não estaríamos vivendo melhor? Penso que sim. Penso que a Terra estaria em uma etapa mais suave, mais fresca, mais rica em diversidade e menos árida em todos os aspectos. 

Não é mais suficiente desejarmos uma mudança, falarmos sobre comportamentos melhores, lermos sobre o que poderia ser feito. É urgente a implantação de novos hábitos. Urgente. Para que tanto consumo? Precisamos produzir tannnnnto lixo? Porque não conseguimos implantar um sistema, ainda que básico, de reciclagem numa cidade do porte de Bom Despacho? O que falta para entendermos que isso é importante? Gastamos tempo com tanta coisa desnecessária. Porque não tirar alguns minutos ou segundos do dia para separar nosso lixo? E depois achar um dos locais de reciclagem e ir até lá vender o lixo que juntamos (uma vez a cada quinze dias). Eles pagam uma ninharia, mas pagam. Reciclam. Reaproveitam o que pararia naquela vala comum do lixão ou nas beiras de estradas, como vejo muito jogado, ou nas margens desses ribeirõezinhos, como é aquele que passa perto do antigo SESC, atual prefeitura Municipal e vive lotado de lixo no entorno.

Sei que a vida de todos é corrida, difícil, mas precisamos ser menos imediatistas. Eu, particularmente, acredito que só conseguiremos fazer transformações significativas nessa Terra pensando e agindo coletivamente. Não gosto muito de apontar ou ficar pregando atitudes que deveriam ser tomadas. Tenho, como todos, meus pecadilhos, minhas faltas, pelejas e omissões, mas tenho tentando viver e pensar de uma forma mais sustentável e menos destrutiva. 

Plantio de mudas na Mata do Batalhão

A Mata do Batalhão é bem grande para uma cidade do porte de Bom Despacho. Tem 38 hectares, fauna e flora ricas e nascentes. Estamos tentando revitalizá-la, fazer seu replantio, cuidar. Fica caro, gasta tempo. Convidamos a comunidade a participar, conhecer, ajudar, a fazer manutenção. A comunidade não se envolve. Vai sempre um grupo restrito e, depois, aparecem inúmeros para perguntar: Uai, não via virar Parque? O projeto está parado? 

Não, não está parado. Nos últimos anos, plantamos mais de cinco mil mudas. Muitas morreram, porque a manutenção é cara difícil e somos poucos para fazer o trabalho. Tomara que um dia vire parque e um lugar para todos usufruírem, mas para isso, é preciso primeiro dar força à mata, replantar as áreas desmatadas, conhecer as espécies, encher de árvores frutíferas para os muitos bichos que vivem por lá. Precisamos fortalecer as nascentes, para que não morram e não construir coisas gigantescas no entorno, as vezes, a poucos e ilegais metros das nascentes, a despeito de autorizações. 

Que escolhas são essas que fazemos? Meu irmão Bruno, quando estamos enfrentando um trânsito pesado ou vivendo uma situação coletiva dessas absurdas, cita um trecho de uma música do Raul Seixas que diz: “Como os donos do mundo piraram. Eles já são carrascos e vítimas do próprio mecanismo que criaram”. Bom, quem sou eu para ensinar alguma coisa, mas queria contar sobre alguns projetos e propor algumas pequenas atitudes. Mesmo que a gente pense assim: não vai mudar nada isso, vai só me dar trabalho, mas, se não começarmos com pequenas coisas, não faremos nada:

Árvores para passeios

Tenho uma amiga, Débora Rodrigues, que está querendo apresentar à Secretaria do Meio ambiente um projeto: fazer uma pesquisa de árvores que podem ser plantadas em nossas portas e passeios, sem danificar o chão. A ideia é propor à Prefeitura que faça o plantio e convidar o morador a cuidar “da sua árvore”. Para isso, precisaríamos de um cadastro de quem quer ter e se responsabilizar por uma árvore em sua porta. Então, minha primeira proposta é ligarmos as antenas sobre esse projeto e começarmos a pensar se vamos querer cuidar de uma árvore na porta da nossa casa. 

Tenho um Jatobá na minha. Plantamos sem nem saber o que era. Ele é gigante. Não é apropriada para colocar no passeio, mas até que fique demonstrado que ele é um estorvo, nada vai me fazer tirá-lo daqui. As pessoas do meu bairro, muitas delas, acham que ele só faz sujeira, que serve de sombra para malandro sentar, mas muitos usam a porta da minha casa para parar seus carros, porque a sombra é muito gostosa. A casa e, certamente, a rua ficam mais frescas por causa dele. Não há mais tempo para essa cultura atrasada de que árvore faz sujeira e asfalto é sinônimo de progresso.

Sacolinhas plásticas

Outra proposta é que possamos passar a prestar atenção no que e no quanto consumimos. O quanto de sacolinha plástica, embalagens e excessos de caixas, papéis e vidro usamos. Nas padarias que vou, por exemplo, ponho o pão no saco de papel e, quando chego no caixa, a atendente já me oferece outra sacola pra por o embrulho. Pra falar do mínimo. Até os palitos hoje são embalados num saquinho de plástico por unidade. Isso pra mim só pode ser algum tipo de lobby

Reciclar o vidro

Vidro, em Bom Despacho, ninguém recicla. A não ser aquelas garrafas de cerveja de 600 ml, que os bares já aceitam receber. É um processo caro. Então é importante evitar comprar coisas em potes de vidro ou garrafas. 

Isopor 

Outra coisa que os recicladores não pegam é isopor. Se tivermos a oportunidade de evitar e se quem compra vasilhames para marmitinhas puder usar outro tipo de embalagem, seria bom.

Separar o lixo

Separar o lixo e, realmente, entrega lo nos locais de reciclagem é essencial.

Nessas sorveterias, que a vigilância sanitária não deixa reaproveitar os potes, sempre pergunto. Vocês têm sistema de reciclagem? E a resposta é quase sempre um uníssono: não.

Cobrar do Município um sistema de reciclagem que funcione também é uma atitude importante.

Compostagem de lixo

Estamos montando um setor de compostagem lá na mata do Batalhão. Fica perto de onde era o antigo Campinho. Dá para acessar de carro por uma daquelas entradas do bairro Esplanada. Quem tiver árvores em casa e puder separar folhas, mas apenas folhas, galhos, etc e jogar lá para nos ajudar, será bem-vindo. Só para esclarecer: o saco onde vão as folhas não pode ficar lá, tem que descartar as folhas e levar o saco de volta, porque o plástico não faz parte do processo.

Quem quiser, pode até implantar um sistema de compostagem em casa. É bem simples.

Bom, não tenho intenção de fazer pregação, nem ensinar nada para ninguém, mas tem me angustiado muito a forma como estamos vivendo e quando vejo todos esses destemperos climáticos, essa angústia aumenta. 

Sei que o buraco é bem mais embaixo e que temos os exploradores reais e gigantes do solo, das águas, dos terrenos, da Terra como um todo e isso, sem falar na exploração triste e diária do ser humano, mas essas coisas exigem uma transformação mais profunda. Não temos ingerência direta e imediata sobre elas, mas sobre nosso comportamento diário, sim.

Acho que com mudanças de comportamentos simples na nossa rotina poderemos dar nossa pequena contribuição. 

Claro que isso não dispensa ficarmos atentos à exploração desenfreada de empresas e a necessidade de passarmos a exigir do poder público mudanças reais quanto à implantação de uma nova ordem social. Isso já é um outro convite e um trabalho que venho tentando fazer comigo de forma diuturna. É necessário nos envolvermos com e na política partidária. Conhecer sobre ela e seus meandros. Cobrar dos nossos políticos e candidatos posturas diferentes, mas esse é um processo um pouco mais longo e lento. De qualquer forma, espero que possamos vivê-lo, fica meu convite e apelo.

(Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Foto do alto: PMBD)

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