Balneários de ontem, de hoje e de amanhã
TADEU ARAÚJO – Os balneários de ontem, isto é, do passado, ficaram como refrescantes lembranças na memória dos bom-despachenses dos séculos XX e XIX. Não havia clubes. Não havia piscinas para lazer e saúde do povo. Crianças e jovens daquela época – homens e mulheres – aprendiam a nadar em refrescantes poços das fazendas e na redondeza do arraial e depois da cidade.
Buliçosa turma de meninos, escondidos dos pais, pulavam nas águas nus e inocentes como Adão e Eva peladinhos no paraíso. Já as meninas, de vestidos mesmo, separadas por outros lados, aprendiam a arte e viviam a doçura refrescante da natação.
Contou-me o Dr. Roberto Teixeira Campos, autor do mais belo e mais conhecido hino a Bom Despacho, e de minha prima e comerciante Sila Malaquias “Assumpção” soube que nos fundos do campinho do padre, por onde passa hoje a Avenida Geraldo Simão Vaz (ex-Avenida Amazonas), corria nos anos 30 e 40 do século XX um caudaloso riacho. Ali existiam verdadeiras piscinas naturais onde as turmas se divertiam.
Outro cidadão me contou que ele com a companheirada frequentava o córrego que descia lá das terras do atual Arraial e passava por onde agora está o Supermercado Fidélis, desaguando logo abaixo no Ribeirão dos Machados. O Machados se dirigia lá pros Bertos, como hoje, mas então era largo e fundo, oferecendo fartos balneários que faziam a alegria dos seus jovens usuários. O Tira-prosão já era famoso naquela época.
Balneários do meu tempo
Ali pros meus 6, 7 anos comecei a debutar nos riachos e pequenas lagoas acompanhando meus irmãos mais velhos e os filhos dos empregados das fazendas de meu pai e de meu avô, lá no Raposo. Cheguei também a curtir pelas beiras a soberba represa da usina no rio Lambari, indo de carona com Dr. Fúlvio ou no caminhão do Joaquim da Usina. Mais tarde, com os colegas do pré-seminário, nos anos de 1953 a 1954, o padre punha a meninada pré-seminarista no caminhão e nos levava para a fazenda do Geraldo Resende, nos Bertos.
Aquele corregozinho que lá hoje passa com pouca água tinha a maior correnteza e poços em que nos esbaldávamos pulando na água, de altos barrancos. Estivemos também na Lagoa Verde, extensa e bonita, na fazenda do Zé Alexandre e da tia Joana, irmã de meu avô. Era muito bom ter coragem e nadar naquele mundão d’água.
No pré-seminário havia um pequeno tanque onde nos divertíamos todos os dias e nos refrescávamos do calor. Lembro-me também que, em 1955, eu estava já no seminário de Dores do Indaiá. O frater Sílvio, um cara legal pra valer, nos levava a pé, em longas caminhadas, para nadarmos no córrego Nossa Senhora e no Zacarias. Íamos ao córrego Timbó, de trem-de-ferro. Visitávamos o grande ribeirão do Jorge. Um dia a pé nos deslocamos à histórica cidadezinha de Quartel Geral para tirar um nado no lago situado no centro da cidade.
Em 1956, eu me encontrava em Manhumirim, no Seminário Apostólico dos padres sacramentinos, onde curti a mais sui generis de todas as piscinas. Ela era diferente e sempre limpa, exceto no tempo de muita chuva. A água vinha direto de um córrego que passava logo acima, que a mantinha sempre cheia, mas logo saindo por um escoadouro, sem nunca derramar e sem nunca faltar. Visitávamos também um riozinho próximo a Manhumirim pra nadarmos no poção do Ouro.
Tiraprosa, Tiraprosinha e Tiraprosão
Próximo à Tabatinga, um tanto afastado da linha férrea, existiu até os anos 70 o mais famoso trio de balneários bom-despachenses nas terras da fazenda do Pedro Gontijo e de seus antepassados. Os três foram batizados genialmente pelos antigos. A gênese dos nomes desse trio tem a haver com a expressão “sujeito papudo, contador de papo ou vantagem”. O caboclinho chegava lá a primeira vez contando papo: – Ah! Eu sou o cobra pra nadar!
Mas que nada. Com medo de afogar ia no pocinho mais raso, o Tira-prosinha. Quando sua contação de prosa já estava mediana, o loroteiro já podia ir pro poço mediano, pra tirar sua prosa. Já lá pra cima, o cara pra provar que era mesmo o craque pulava no Tira-prosão. Ele está lá até hoje. Há mais de 60 anos não o visito mais. A última vez foi no ano de 1960 e eu tinha 17 anos. Outro dia ganhei uma foto dele de agora, pelo Zé Rafael, lá da Praça São José. Velho e decrépito Tira-prosão, com um tiquinho d’água dentro de uma depressão, cercado por um barranco circular, de onde, nos velhos tempos, só os bravos ousavam pular em suas águas fundas. O Tira-prosão, por mais de 150 anos, foi o ponto de encontro de lazer e esporte da criançada e dos adolescentes, um clube do Bolinha. Os três Tira-prosa, o pequeno, o médio e o grande, foram o reino encantado da célebre miss Zé Toniquinho, por décadas e décadas o único gay declarado da cidade, recentemente falecido.
Por volta dos anos de 1960 e 1970, a população de Bom Despacho pôde curtir e frequentar, por algum tempo, duas piscinas do Sétimo Batalhão. A da Mata-do-Batalhão, com águas limpas e saudáveis das nascentes locais. Depois com a outra dentro da Vila Militar, que tinha água tratada com cloro.
Porém na vida nada é para sempre, os balneários de hoje são só em clubes particulares e pra quem pode pagar. A maioria das pessoas nem sequer aprende a nadar. Foi-se o tempo das aventuras da meninada e de adolescentes nas águas de nossos cursos d’água, hoje, tão minguados e rasos. Isso já faz parte da história e raramente se repetirá.
Balneários do Amanhã
Para não alongar muito o assunto e não cansar meus pacientes leitores, falarei desses balneários na próxima edição questionando a sociedade e poder público para reabrir a grandiosa piscina do antigo SESC, a do Sétimo Batalhão, a da AABB, a do Sesi. Os candidatos a prefeito e vereador podem, ano que vem, colocar em sua extensa bíblia de promessas a criação de um balneário dentro da cidade. Um local, sonhado pelo Haroldo Queiroz nas últimas eleições, no Córrego da Areia, próximo ao Babilônia. Um recanto aprazível, turístico, um centro de lazer de saúde e de esporte para grande parte de nosso povo se refrescar do grande calor que se prenuncia no verão de 23/24 em Bom Despacho, em Minas Gerais e em todo o Brasil.
(Portal iBOM / Tadeu de Araújo Teixeira é professor, escritor e fundador da ABDL / Imagem ilustrativa)
Boa tarde Professor Tadeu,
Sabe o apreço e carinho que tenho pelo Sr. e sua história. Meu respeito sempre será perpetuado pela grandesa que o Sr. representa para Bom Despacho.
Quanto ao texto que me fez vir aqui, confesso que estarei atento e ansioso à segunda parte
” Balneários do Amanhã” com certeza tenho muito a comentar sobre o assunto, principalmente no que diz respeito ou “desrespeito” sobre o sistema S, quero muito ler sobre a visão do Sr.
Fico a vontade neste assunto, pois estive lá por 15 anos da minha vida.
Antecipando qualquer comentário sobre, não só do sistema S, mas outros, construídos em Bom Despacho, a duras penas, vem deteriorando por não ter comprometimento por parte dos responsáveis que não estão nem aí pra nada e para ninguém.
Espero que tenhamos um debate aberto e promissor, me agrada muito levantar estas questões, pois muitos defuntos poderão ser reerguidos da cova , quem sabe para o bem comum. Alguns dizem que é melhor deixar os defuntos descansarem, eu acho que o descanso eterno é conquistado somente depois que toda pendência for resolvida.
Abraços Professor!!!