Cantos primaveris das cigarras

ALEXANDRE MAGALHÃES – Desde que conheci minha namorada bom-despachense, há seis anos, ela sempre me disse que as cigarras reaparecem em Bom Despacho na primavera, especialmente, no mês de outubro.

Neste ano, finalmente pude comprovar que isso é verdade. Desde o começo da primavera, no dia 23 de setembro, passei a ouvir vários sons, alguns mais parecidos com barulhos de insetos, e outros mais parecidos com algo como uma serra elétrica cortando um galho de árvore. São sons das cigarras.

Estou tão encantado, que gravei vários vídeos, nos quais é possível ouvi-las cantando. Enviei esses materiais para minha mãe, meus irmãos e minha filha. Todos ficaram encantados, pois nas áreas urbanas em São Paulo esses insetos não existem mais. Lá, a natureza é quase inexistente, infelizmente. 

Minha filha me enviou uma mensagem dizendo que ouve alguns desses sons quando vai para a praia, mas que não tinha ideia de que eram cantos de cigarra.

Já minha mãe, octogenária, me disse que lembrou dos sons que ouvia em sua infância, quando ainda havia alguma natureza, umas matas e alguns rios limpos em São Paulo.

São essas pequenas coisas que me fazem ser apaixonado por Bom Despacho. São as pequenas delicadezas da natureza e do povo da cidade que me deixam alegre todas as vezes que retorno para cá.

No sábado passado, passei a tarde e a noite em uma fazenda no Raposo, pelo menos foi assim que me definiram o local, e para minha alegria encontrei uma cigarra sobre a cama. Tirei uma foto, que ilustra este texto, e enviei para minha filha. Ela respondeu assim: “meu deeeeuuuussss… olha o olho dela. Que coisa mais linda e que coisa mais feia ao mesmo tempo. Que estranho legal!” 

Alguns bom-despachenses conhecem o mar já adultos e se espantam que a água é mesmo salgada. Alguns paulistanos conhecem uma cigarra já adultos e se espantam que uma criatura tão pequena possa fazem tanta música durante a primavera. 

Estou até pensando em gravar as cigarras por muitas horas seguidas. Assim, quando for a algumas lojas, bares ou restaurantes de Bom Despacho, que tocam umas músicas bem ruins em um volume muito alto, posso colocar meus fones de ouvido e ouvir o som da natureza na primavera, o som das horrorosas-lindas cigarras.

Que venham as chuvas

Outra coisa que sempre ouvi de minha namorada bom-despachense é que em outubro começa a temporada de chuvas. Eu sempre adorei a chuva, que para mim é sinônimo de vida. 

Há uns dez anos, São Paulo ficou com apenas 1% da água em seus reservatórios e os governantes chegaram a fazer um plano para evacuar a cidade, pois não haveria água para a sobrevivência dos habitantes. Até lei proibindo regar as plantas e impedindo que os animais domésticos recebessem o líquido vital foi pensada. Passei a amar ainda mais as chuvas depois dessa catástrofe.

Esse ano, devido ao calor recorde no mundo todo, especialmente em Bom Despacho, estou torcendo para que as chuvas cheguem logo. Que devolvam a vida aos campos, animais e insetos e, claro, a nós também.

Que não cause tantos estragos, como os que estamos vendo no sul do Brasil, mas que nos traga a alegria e o frescor que só uma boa chuva nos dá.

A visão do inferno

Sempre que posso, corro pelas estradas de terra de Bom Despacho. Prefiro correr em matas mais fechadas, onde o calor é menor, há mais bichos para serem admirados e diversidade nas árvores, com formas, cores e tamanhos diferentes.

Mas, ocasionalmente, corro em ambientes mais abertos, como nos Cristais. Há alguns dias escolhi uma das estradas do bairro e passei pelo maltratado Picão, quase seco, subi um morro e continuei correndo, na expectativa de encontrar um lugar que passei muitas vezes, uma plantação de eucaliptos. Apesar de ser uma planta terrível para o solo, para as águas e para as plantas nativas, acostumei-me a passar por este “bosque falso” de eucaliptos, árvore que nem é brasileira, mas originária da Oceania, muito longe do Brasil.

Mas, ao chegar ao local onde sempre via os eucaliptos, vi o inferno. As árvores foram derrubadas, função para a qual são plantadas indiscriminadamente, mas que me causou uma tristeza imensa. No lugar das sombras, um deserto feio, restos de troncos, restos de vida.

Espero, de verdade, que todos os produtos que usamos e que tem sua origem em árvores, na celulose, sejam substituídos por outro material. E que possamos substituir todas estas “florestas falsas” de eucaliptos por floresta nativa, com diversidade nas plantas e nos animais. Chega desta tristeza destrutiva dos eucaliptos!

(Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por BD e SP)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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