Peripécias literárias de José do Espírito Santo
LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – Meu tio e cronista José do Espírito Santo atualmente mora em Brasília, mas passou a infância aqui em Bom Despacho, numa pequena casa construída pelo meu avô Júlio na rua próxima de onde é o ginásio Miguel Gontijo. Meu bisavô Jonas era ferroviário e por isso eles ficavam ali bem perto de onde era a linha do trem.
Anos depois, na década de 60, José estudou no seminário de Diamantina e foi também professor no Seminário de Luz por algum tempo. Ingressou como cadete na Academia da Polícia Militar e foi declarado Aspirante a Oficial em 1967. Foi designado para servir no 4° Batalhão em Uberaba. Bacharel em Direito, especializou-se em Direito Militar e produziu trabalhos doutrinários sobre esse tema, preenchendo com pioneirismo as várias lacunas então existentes nesse campo. Casou-se com Elza Araújo, já falecida (agora desposou a advogada Fátima). O casal teve dois filhos. O coronel Espírito Santo foi comandante do Batalhão de Patos de Minas, encerrou sua carreira como assessor parlamentar. Reside hoje em Brasília.
Zezé, como é chamado pela família, tem um romance intitulado Cruz de Argelim. Elza, sua esposa, de família bom-despachense, morou na Rua da Biquinha, dedicou-se ao artesanato e à pintura. José também é um talentoso cronista. Escreveu um livro de crônicas em um blog na Uol. Eu fiz questão de obter uma cópia, mas ele não editou sua produção, infelizmente. Em uma de suas crônicas ele citou a mim, esse sobrinho literato. Cabe lembrar que meu doutorado, até hoje inconcluso, era em Estudos Literários e foi iniciado na Universidade Estadual de Campinas. Mas leiamos uma de suas encantadoras crônicas:
Balaão e os “Olhares do Espírito”
“A expressão entre aspas foi o nome do livro que escrevi contendo um ensaio sobre o mundo da fotografia. Depois que divulguei o livro, escrito sem maiores pretensões científicas, um sobrinho querido, Mestre e Doutorando em Filosofia, me disse de um trabalho de Roland Barthes, in A Câmara Clara, que também aborda o tema da comunicação fotográfica. Eu o li e surpreso fiquei pela similaridade do que abordamos, um e outro, sem nos conhecermos. Esse o mundo do intelecto. Se quiser, confira: “Por não sabermos quais são os requisitos de sensibilidade da fotografia: são os olhos ou são os ouvidos (?) sabemos que se localiza no regime das sensações, onde não sabemos a divisão entre a dimensão visual da escuta e a dimensão acústica da visualidade.”
Bom. Neste fim de ano, sou também surpreendido com um texto que fala sobre o Ver, especialmente ver a Verdade. Entre nós este tema é explosivo, quando vemos, em 2009, nossos políticos em 102 (record) atitudes panetônicas e dizendo, não meias-verdades, mas bazófias mesmo, como o de serem as meias e cuecas o melhor lugar para guardar os recursos não contabilizados em grana $$.
O texto a que me refiro a seguir é bíblico, que relata a época dos israelistas e seus vizinhos brigões, até com o Senhor dos Exércitos, em pantomimas mui constantes. Quadro que não mudou. Como adoram uma querela! No texto, fotos não achei, mas vi palavras fortes que a onomástica coleciona, como preciosidades. Por exemplo – Balaão. Isso é nome de gente?
Calma. não se trata de festa junina. Estamos no Natal. Tempo de sensibilidade e beleza. E não é que acho o tal de Balaão, um cidadão que gostava de números, e que levantou os olhos e viu Israel acampado por tribos. E ele VIU descer sobre ele o Espírito de Deus, fato que ganhou um oráculo, dizendo: «Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem de olhar penetrante; oráculo do que escuta as palavras de Deus, que tem a visão do Omnipotente, que se prostra, mas de olhos abertos.” O negócio do cara era VER, VER PARA CRER, pois até em oração, tava espiando tudo.
Eu falo Balaão, eu o fotografo em minha tela mental. Sinto que estou vendo o Tim Maia, com aquele tamanhão todo, mas poesia pura quando cantava. E agora está até na novela das 8, com a canção do viver, na maviosa voz da Tania Mara.
Esta é foto nota mil. Que linda! Os Olhares do Espirito realmente são pura metáfora. Como a foto, que morre quando experiência nua. Mas que revive nas sensações”. (Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor).